por Regina Wielenska
O mundo atual é fortemente influenciado pela ação das redes sociais. Não pretendo demonizá-las, culpando as redes pela decadência dos costumes ou qualquer outra coisa assim.
Uma historinha interessante chegou aos meus ouvidos: ladrões que roubaram ume enorme importância de um banco foram presos depois que alguns membros da gangue fizeram comentários numa rede social de que estavam “montados na bufunfa”. Não sei detalhes, apenas li que a polícia fez bom uso daquela informação e abocanhou os criminosos. Os sujeitos não haviam se apropriado da noção de que escrever para os amigos na rede pode também significar ser lido por um monte de pessoas que não lhes diziam respeito.
Conforme se configura a conta numa rede, qualquer frase ou foto fica ao dispor de todos, e pode ser usada a favor ou contra quem a escreveu. Há empresas que rastreiam na web a vida de seus candidatos a emprego ou programas de treinamento, como fonte de informação sobre o candidato. Uma moça que escreva “Tô maus, vomitando e de bode, bebi todas ontem e nem sei o que fiz direito, ainda bem que não me pegaram na blitz, porque eu perderia a carta” não parecerá um primor de responsabilidade e de respeito à lei aos olhos da empresa contratante.
Ao usar um celular num local público alguém desavisado pode revelar uma notícia bombástica do mundo dos negócios, da coluna social ou do que quer que seja a um jornalista de ouvido atento, postado a uma distância pequena o suficiente. Faz um tempo, fui sozinha a um restaurante de hotel que serve um buffet de almoço aos executivos da região da Avenida Paulista. Havia ao meu lado uma mesa grande, que foi ocupada por funcionários de um banco famoso, em treinamento naquele dia, nas salas do hotel ou na vizinha Fundação Getúlio Vargas. Pude ouvir, claramente e sem esforço algum, uma funcionária contar aos colegas que Fulana de Tal, conhecida socialite paulistana, era correntista da agência xis, que seus investimentos eram de bom tamanho, etc.. Se eu fosse uma sequestradora, talvez devesse agradecer todos os dados à indiscreta gerente de banco.
Ao me aproximar do buffet de sobremesas não resisti e falei a duas moças que estavam sentadas naquela mesa que eu escutara tudo, que eu sabia de quem ela era esposa, e que se Fulana fosse minha conhecida eu não teria hesitado em relatar o fato a ela, denunciando o banco pela indiscrição. Acrescentei que imaginava isso não ser prática usual de toda a equipe, mas que eu notei que ninguém do grupo ousou pedir à colega que interrompesse sua história logo no início. Recebi com delicadeza o pedido de desculpas e sai desacreditada do treinamento dado aos funcionários. Lá não terei conta…
Numa empresa ou numa instituição de ensino, pulsantes organismos, fofocas podem correr soltas, historia verdadeiras, boatos, semiverdades, isso pouco importa. O problema é que, a depender do conteúdo, a empresa ou algum de seus membros, pode sofrer danos irreparáveis.
Achei interessante a história que Ricardo Semler narrou no livro Virando a Própria Mesa, acerca do processo de recuperação econômica da empresa que liderava. Tantas notícias desencontradas rodavam pelos corredores, sobre demissões, fechamentos e cortes, que ele resolveu convocar a todos os funcionários, independente da posição ocupada, para garantir que todo dia tal da semana passariam a publicar publicado um boletim com respostas a todas as perguntas que lhes fossem dirigidas, e que as fofocas seriam naturalmente erradicadas, se o boletim se tornasse um efetivo canal de comunicação franca entre a empresa, seus gestores e funcionários. Imagino quanta aflição, desmotivação e intriga foram evitadas com esse posicionamento direto da companhia. No caso da empresa de Ricardo Semler, tornar clara aos funcionários a política de administração foi o que precisava ser feito. No caso dos ladrões, do banco e da moça que bebeu demais, calar-se era mandatório.
Uma habilidade importante que precisamos ensinar aos nossos filhos refere-se a diferenciar entre dimensões públicas e privadas do indivíduo, para que aprendam a determinar quais consequências nocivas decorrem de um comportamento indiscreto.
As corporações também precisam desenvolver entre seus representantes uma atitude de zelo e respeito pela informação sobre pessoas e empresas. Informação é poder. Esta frase batida significa que por vezes temos o poder de construir e de destruir alguém com nossas palavras, que podem funcionar como cortantes ferramentas de destruição ou, então, como carinho, um tipo de amor e respeito pelo próximo.