Por Eduardo Carmello
Ele pensa que pode distorcer a realidade para obter ganhos fáceis. Ora coitadinho, ganhando favores indevidos, ora ditador, oferecendo proteção desnecessária e cobrando caro por isso. Ardiloso na arte de contar histórias para receber o que não é seu de direito.
Sempre reivindicando privilégios, querendo vantagens, exigindo um pedaço do lucro que não ajudou a produzir. Constantemente perturbado por um vazio interno que jamais se preenche por fora.
Nos raros momentos de calma, uma voz interior sussurra que o caminho dessa desilusão é abraçar a realidade. Não cobrar ou usurpar do outro a energia amorosa, produtiva, criativa e financeira que deve ser produzida por si mesmo. Que o vazio existencial é preenchido de amor-próprio, de autoestima e de muita coragem para experimentar o sofrimento do crescimento.
O ganho real não vem do poder de manipular, dominar, mendigar ou paparicar ninguém para ter energia. Vem da compreensão profunda de que ele é um ser potente, com capacidade de criar a si mesmo e caminhar com as próprias pernas, sem precisar utilizar-se do outro como provedor eterno, como escravo ou gênio da lâmpada que está ali para satisfazer todos os seus desejos.
Ele vê tantos outros com o mesmo pensamento do ganho fácil que considera normal essa estratégia. Ele confessa: é delicioso obter vantagem dos fracos e ignorantes, utilizando da sua lábia político-espiritual, prometendo o que não pode entregar, capitalizando em cima daqueles que acreditam em seu próprio drama.
O único problema é que o vazio não passa, a perturbação não diminui e os inteligentes e justos nunca são enrolados por ele. Não o consideram e não o bajulam, sabem ler suas segundas intenções, não batem palma para o seu espetáculo coreografado, o que gera mais perturbação interna.
Se em vez do ganho fácil, ele preferir a paz e a autenticidade, então o caminho é tomar conta de si mesmo, produzir a si mesmo como um compromisso de autonomia e evolução. É só procurar conversar com os que já desenvolveram esse caminho de expansão e realização. Ele também pode observar e aproximar-se da Natureza, modelo maior de potência de criação e produção, como diz Espinosa. Com certeza não será um ganho fácil, mas como diz Nietzsche, "Nunca é alto o preço a pagar pelo privilégio de pertencer a si mesmo".
Humildemente, eu acrescentaria "pertencer e produzir a si mesmo".