por Rosemeire Zago
A 'guerra' está entrando em nossas casas, principalmente e infelizmente, em nossos corações através dos noticiários. É um momento de impotência? Ou de total falta de atitudes de todos? Com certeza é um momento de reflexão para muitos de nós, que mesmo ainda não sendo atingidos diretamente por tamanha violência, estamos todos sujeitos às suas consequências.
Neste momento questiono o motivo que levam pessoas que mesmo distantes dessa violência desproporcional, trazerem para dentro de suas casas essa mesma violência em forma de palavras, atitudes, gestos, e que na verdade, refletem seu próprio mundo interior. Muitas dessas pessoas são as que falam que é preciso ter paz, que condenam a guerra, mas não percebem que vivem uma guerra diária consigo mesmas e com aqueles que convivem.
Será que não basta tudo que vivemos nesse mundo doente? Ou será que o mundo está doente como reflexo de pessoas igualmente doentes e que nem se dão conta disso? Será que cada um que pede paz, está em harmonia com sua família e principalmente consigo mesmo? Como ouvi certa vez: “Se levo um tapa todos os dias do meu pai, qual o problema se eu fizer o mesmo com outra pessoa?”
A guerra é gerada por muitos motivos, pela busca do poder, do dinheiro, interesses políticos, pessoais… Enfim, os interesses são muitos, mas a violência geralmente é uma tentativa de liberar uma dor, de se vingar, ou até mesmo de se defender, ainda que por meios nada convincentes. Quando se agride alguém, é uma forma primitiva, mas real, de dizer: “Fui agredido e por isso também me vejo no direito de fazer o mesmo”. Esse processo pode acontecer sem que a pessoa tenha consciência disso e também como resposta a algo que aconteceu há muito tempo.
A agressividade é um gesto desesperado para expressar dor, angústia ou preocupações com situações onde não se vê saída. Mas, e nós, que sequer participamos ou concordamos com tamanhas atrocidades, o que podemos fazer?
Afinal, por que a violência acontece? No início da vida, os próprios pais, que são vistos como exemplos do que é certo, sempre fizeram questão do respeito de seus filhos. Muitos usam de todos os meios, batem, xingam, são agressivos ou até mesmo impunes. E assim a violência muitas vezes começa na infância, dentro de casa, e vai se intensificando com o passar dos anos, com os brinquedos e jogos, comprados pelos próprios pais.
O ato de bater, agredir alguém, para muitos acaba sendo demonstração de poder, superioridade, independência, manifestação da liberdade, ainda que errada. Em contrapartida, muitos também agridem em resposta, como forma de defesa, por se sentirem agredidos em alguma época de suas vidas, ainda que já muito distante. A violência, portanto, caracteriza uma insatisfação consigo mesmo tão profunda que faz muitos agredirem aos outros, numa tentativa insana de aliviar a própria dor sentida, quem sabe há muitos anos.
Há tantas formas de se comunicar com o outro, por que a necessidade de ferir tão profundamente alguém? Será uma demonstração fiel de como se sentiu tratado durante a vida? Ou ainda, como na verdade você se trata? A agressividade contra os outros seria apenas o reflexo de uma agressividade contra si mesmo?
Podemos explicar na teoria o emprego da força, mas não desculpá-lo, nem justificá-lo. Agir de modo instintivo como os animais, nos faz semelhantes e não diferentes, e isso é, no mínimo, lamentável. Sendo assim, o Homem, aos poucos, está perdendo por si mesmo seu direito de ser chamado de ser humano.
Ao reprimirmos tantas injustiças, decepções, e tudo o mais que sentimos, acabamos tendo como reflexo uma sociedade com agressividade exacerbada, e o pior, inconsciente de sua própria doença, o que torna mais difícil a busca por sua cura.
Falarmos de paz sem promovê-la dentro de nós mesmos, torna qualquer ação improdutiva. Assim, nos tornamos vítimas da violência, mesmo que distante dela. Em muitos casos, ela acontece muito mais perto do que as imagens da ‘guerra’ que chegam às nossas casas; acontece dentro de cada um. Quantas são as pessoas que tratam não apenas os outros com agressividade, mas também a si mesmas? Quantas são as pessoas que são seus piores inimigos? Sempre se maltratando, se criticando, se desconsiderando? Infelizmente são muitas.
Tudo que está acontecendo neste momento seja um alerta para tornar algumas pessoas um pouco mais conscientes de seus próprios comportamentos e que percebam que é possível viver em paz, se permitirem sentir essa paz dentro de si mesmas. Quando as pessoas forem capazes de sentir sua dor, e terem a consciência do sentimento que estão sentindo, sem negá-la, irão se sentir mais aliviadas e serão menos violentas ou agressivas. Essa transformação é lenta e deve ter como base o amor para criar a verdadeira paz.
Mas essa harmonia deve começar primeiro dentro de cada família, de cada ser humano, para depois sim, refletir no mundo, pois só quando o Homem for capaz de enfrentar a si mesmo e sentir paz dentro de seu próprio coração, o mundo terá paz. Ainda que cada um de nós sejamos apenas um nesse universo repleto de violência.
Busquemos pela paz ainda que seja dentro de nosso coração, entre as pessoas que amamos, com a esperança que essa energia se fortaleça e cresça, contagiando todos aqueles que estão de uma maneira ou de outra tão distantes da luz e da paz tão almejada.