Por Cybele Russi
Em nosso último artigo (clique aqui e leia) falamos dos quesitos essenciais na hora de escolher uma escola para nossos filhos, que são basicamente dois: identidade de valores e princípios entre família e escola, e como a escola desenvolve o lado humano e social do indivíduo. Entretanto, há outros fatores que precisam ser considerados também, principalmente se se trata de crianças menores, que estão indo à escola pela primeira vez.
Os maiores, aqueles que já frequentam a escola há algum tempo, têm condições de dialogar e de explicar suas carências, e em alguns casos, até de participar do processo de escolha, discutindo com os pais suas preferências e necessidades. Os menores, contudo, nada podem dizer sobre o assunto, assim, obrigam-nos a fazer as melhores escolhas por eles.
De uns anos para cá, cada vez mais cedo as crianças estão saindo de casa para ir para a escola. No passado, a idade mínima para uma criança frequentar a escola era cinco anos, quando ela entrava no Jardim da Infância, depois passava para o Prezinho e aos sete anos ia para a Primeira Série. Alguns pais preferiam matriculá-las diretamente na Primeira Série – fato bastante usual ainda hoje fora dos grandes centros urbanos. Mais tarde, a idade mínima diminuiu para três anos, com o chamado Maternal. Então, quando a criança já tinha deixado as fraldas, já se comunicava oralmente, tinha a coordenação motora necessária para participar de todas as atividades propostas como pintar, desenhar, recortar, colar, amassar, enrolar, subir, descer, saltar, correr, pular, agarrar, cantar, tocar instrumentos, dramatizar, etc, mas principalmente, quando ela já tinha desenvolvido uma certa autonomia emocional em relação à mãe, ia para o Maternal, que recebeu este nome justamente por "substituir" os cuidados maternos. O Maternal era e é considerado até hoje o limite mínimo para uma criança ir para a escola, justamente pelas razões acima expostas.
Todavia, de alguns anos para cá, as crianças têm sido matriculadas na escola com idades mínimas que variam de oito meses a um ano. Do nosso ponto de vista, um exagero, uma vez que até os três anos de idade a criança ainda precisa muito da mãe para a construção de sua identidade e de sua autonomia. Compreende-se perfeitamente que isto é feito em nome das mudanças que ocorreram na sociedade, que obrigam pais e mães a terem que trabalhar o dia todo e não terem com quem deixar a criança.
Do ponto de vista dos pais é um sossego, pois têm a consciência tranquila de que seus filhos serão bem cuidados, bem tratados, bem atendidos, bem alimentados e estarão em mãos bem treinadas para fazê-lo. Do ponto de vista da criança não é tão sossegado assim, pois a criança precisa, justamente nesta fase, da presença da mãe, do colo, do seu cheiro, da sua voz, da sua companhia, porque ainda está ligada a ela física e emocionalmente.
Até os três anos a criança ainda se crê uma extensão do corpo da mãe, por isso, esse processo de desligamento precisa ser feito gradualmente, ao longo dos anos. Todavia, a sociedade de consumo cobra resultados, velocidade, eficácia, eficiência e dedicação total, exclusiva e integral ao trabalho e tão logo termina o período de amamentação a mãe se vê obrigada a retornar às suas atividades profissionais. O preço que se tem pago pelo sucesso profissional é um drama de consciência sem fim, uma culpa inesgotável. No primeiro dia da criança na escolinha não se sabe dizer quem chora mais, se mãe ou filho. Infelizmente, é o preço que se paga pelo sucesso. É o preço da vida moderna.
Na tentativa de aplacar ao máximo essa culpa, os pais saem em busca das melhores escolas, de forma a poder suprir esta ausência tão sofrida. As escolas, é claro, procuram fazer o que podem, oferecendo o que há de melhor em termos de tecnologia educacional, de recursos pedagógicos, de equipamentos, de espaço e de corpo docente. ( e quanto mais oferecem, mais caro cobram). Mas nunca é demais perguntar: será que isso é tudo? Ou melhor, não será isso tudo um grande exagero mercadológico?
Se já é sabido de antemão que a escola jamais irá suprir a ausência da família, então, o que deve ser buscado, de fato, na escolha de uma escola?
Dicas para escolher a escola
1ª) Conhecer a Proposta Educacional, os princípios e valores que norteiam o fazer pedagógico no dia a dia.
2ª) Que o preço seja compatível com o padrão econômico da família. Escolas muito conceituadas e equipadas cobram caro por isso. Vale avaliar a relação custo-benefício. Nem sempre aparato tecnológico e equipamentos significam boa qualidade de ensino. Até os seis anos de idade é mais importante a qualidade de vida. Além disso, uma escola mais cara expõe a criança a outras necessidades também mais caras, que estão embutidas no pacote, como: viagens, presentes, roupas de grife, material escolar mais sofisticado, passeios, etc; além do constrangimento de ter de conviver com crianças que têm um padrão de vida muito diferente do seu.
3ª) Que ofereça tanto estimulação cognitiva quanto afetiva. Até os três anos de idade, a criança precisa muito de afeto, de atenção, de cuidados físicos e de estimulação cognitiva. É importantíssimo que os pais conheçam todas as pessoas que vão lidar com a criança dentro da escola e sua qualificação profissional, e que estas sejam afetuosas, carinhosas, dóceis, e calmas. É importante que fique bem claro: bebês precisam de afeto, não de aparato tecnológico. O colo é um santo remédio para qualquer idade. E brincar é a melhor maneira de aprender;
4ª) Que seja o mais próximo possível da casa, para não ter de submeter a criança ao desconforto de ficar horas no trânsito, e se possível, que seja levada e trazida pelos familiares. Nada pode ser mais angustiante para a criança do que ficar só na escola, esperando pela chegada de alguém que virá buscá-la e que sempre se atrasa.
5ª) Que seja bastante ensolarada. Crianças até os cinco, seis anos de idade ainda são extremamente vulneráveis a doenças por contágio, e a falta de sol agrava ainda mais o problema.
6ª) Nada de agenda de executivo para crianças com menos de oito anos. Brincar livremente nessa fase é mais importante do que tudo. No máximo uma modalidade esportiva.
7ª) Que não tenha de ficar mudando de escola frequentemente. Cada mudança implica em um quebra de vínculo afetivo e um novo recomeço, o que pode ser extremamente aflitivo e traumático para algumas crianças.
8ª) Que seja um local confortável e acolhedor para a criança, onde ela se sinta feliz. Os pais também precisam se sentir bem acolhidos, e os canais de comunicação devem estar sempre abertos.
Finalmente, parafraseando a professora Esther Grossi "a família é o núcleo que garante a nossa existência, a escola é o lugar onde construímos conhecimentos". Portanto, nada de esperar que a escola vá suprir o papel da família na construção do caráter da criança. Felizmente, essa escola ainda não existe.