por Arlete Gavranic
Ao ler artigo da antropóloga Mirian Goldemberg sobre a mulher se tornar invisível, frente ao olhar masculino, quando passa dos 40, deparei-me com a descrição de uma crise que escuto no consultório, vivida diariamente por mulheres acima dos 50 anos.
Muitas mulheres queixam-se sobre a displicência de parceiros que, apesar de terem a mesma idade ou mais, passam direta ou indiretamente a chamá-las de "velhas". Já outras, recém-separadas, sentem a liberdade de sair, passear, sem "ter que aguentar" um parceiro chato, reclamão, metódico ou agressivo.
As recém-separadas reclamam de solidão; devemos entender como ausência de um parceiro para acompanhá-las a restaurantes, teatros, passeios ou fazer companhia em uma atividade corriqueira. Algumas reclamam a falta da parceria sexual, de um namorado efetivo e não só um companheiro.
A maioria dessas mulheres não está em busca de parceiro para novo casamento, muitas buscam um namorado ou apenas uma companhia para viver o lado gostoso da vida.
Muitas sentem-se frustradas, pois parceiros de idade semelhante (um pouco a menos ou a mais que elas) sempre buscam mulheres 10, 20 ou 30 anos mais jovens.
Atitudes masculinas
Autoafirmação masculina, busca de rejuvenescer através da jovialidade de uma parceira mais jovem, vontade de recomeçar… A questão é que essas atitudes masculinas deixam poucas oportunidades para as mulheres de 50 (ou mais), e restam a elas homens mais idosos (65-70 anos) ou homens mais jovens (por volta dos 28/35 anos).
Muitas se sentem incomodadas de saírem com parceiros mais idosos, pois não querem se sentir no papel de cuidadora; reclamam que esses homens nem sempre têm pique para sair, dançar, passear… muitos querem atividades mais caseiras e uma companheira dona de casa.
Outras se ressentem de ver a discriminação que muitas mulheres vivem ao saírem com parceiros mais jovens, como se esses parceiros não pudessem gostar da mulher e sempre estivessem em busca de "cuidados" ou de serem "financiados".
Cultura machista
Interessante observar o machismo social, pois muitos homens reconstroem rapidamente suas vidas conjugais com mulheres mais jovens e nem sempre são considerados financiadores das mesmas. Mesmo quando isso acontece, o discurso de um encontro de afetos é facilmente aceito pelo social.
Perfil: mulher de 50 hoje
A grande maioria de mulheres com mais de 50 anos hoje são bem cuidadas. Engana-se quem imagina uma senhora ou uma mulher envelhecida, desanimada ou desatualizada. São mulheres bonitas, modernas, jovialmente vestidas, atualizadas que procuram cuidar do corpo e da alma emocional e espiritual. Muitas delas profissionais: professoras, médicas, dentistas, administradoras, psicólogas…
Muitas são avós, mas não são babás de neto, fazem atividades físicas regularmente, adoram viver de bem com a vida. Mas a queixa de muitas delas é essa sensação de solidão ou de invisibilidade aos olhares masculinos. É interessante ouvir dessas mulheres: agora que tem tempo disponível (pois os filhos já estão independentes) e disposição para passear e curtir a vida, se sentem abandonadas ou trocadas por um corpo mais esguio.
Muitas não entendem a "ideia masculina" de recomeçar tudo com uma mulher mais jovem que vai querer ter filhos (por instinto materno e muitas para garantir uma participação real no patrimônio!). À reboque vem: reunião de escola, festinhas com crianças gritando, caindo ou chorando, problemas de aprendizagem… atividades lindas, mas desgastantes. Esse homem poderia estar num momento de aproveitar a vida para passear, ter hobbies, ou até curtir netos sem a responsabilidade de custear ou educar!
Muitas dessas mulheres se sentem até mais disponíveis para viver a sexualidade, pois não têm a preocupação de uma gravidez, nem a responsabilidade sempre cansativa de filhos pequenos ou adolescentes que muitas vezes "roubam" a energia dessas mulheres.
E o que essas mulheres têm feito, já que encontrar um namorado não tem sido tão fácil?
É enorme o número de mulheres que vejo voltando a estudar, seja um curso de pós-graduação ou fazendo um curso novo. Quase a totalidade delas busca atividades esportivas em grupos, seja uma academia, um vôlei, grupos de caminhada ou até a menos agressiva hidroginástica, como forma de criar grupos de amizade. Aquelas que têm mais disponibilidade financeira se organizam com outras amigas (de várias faixas etárias, solteiras, separadas, viúvas) para viagens; desde finais de semana até viagens mais longas, e claro, para saírem para baladas na linha do flashback musical, onde normalmente reúne um público menos juvenil.
É interessante observar que nessas baladas, há a oportunidade de conhecer homens mais jovens que gostam de mulheres mais velhas, e outros que buscam oportunidade para encontrar relacionamentos, seja um namoro ou uma oportunidade ficar.
Principal desafio da mulher de cinquenta na vida afetiva
Aprender a encontrar prazer na vida pessoal sem a dependência da companhia de um parceiro, é o maior desafio para essas mulheres, e muitas vezes é essa autonomia do prazer que as torna ainda mais interessantes e atraentes.
Parceiros ou "ficantes fixos" para finais de semana ou programas sociais continua sendo o grande desejo dessas mulheres, casar novamente, morar junto, assumir a família do outro ou constituir nova família não é o desejo da maioria dessas mulheres, mas a oportunidade de viver o carinho ou um amor – mesmo que só seja eterno enquanto dure… seja umas semanas, uns meses, quem sabe alguns anos, juntos ou em casas separadas, *namorante ou ficante, essa busca sempre existe, e pode ser um encontro delicioso para quem topar experimentar!
* Namorantes aqueles que (re)aprendem a namorar, se curtir sem ficar impondo regras ou obrigações e cobranças.