O medo só se torna uma doença quando ultrapassa os limites considerados normais e prejudica a qualidade de vida; entenda… Afinal, o medo é uma ilusão?
A emoção mais antiga e intensa da humanidade é o medo e o mais antigo e intenso dos medos é o medo do desconhecido. H.P. Lovecraft
O medo é uma emoção, é um fator de proteção e provavelmente foi o que garantiu a sobrevivência da humanidade. O medo é uma resposta ligada à preservação da vida, diante de uma situação de ameaça. Sabe-se que o medo, dentro de certos limites é até essencial para o sucesso das atividades da vida diária. Ele funciona como um alerta, que gera mais atenção à tarefa.
O medo é decorrente de uma reação física e mental que acontece quando o equilíbrio do corpo é afetado. Quando se sente medo, o cérebro envia sinais para o corpo, liberando adrenalina, preparando o corpo e a mente para lutar ou fugir. A descarga de adrenalina entra na corrente sanguínea provocando aceleração do batimento cardíaco e da pressão arterial levando o sangue para os músculos. Já a descarga de endorfinas visa entorpecer qualquer dor, a aceleração da respiração busca aumentar o oxigênio, o suor é liberado, o corpo fica frio e os olhos dilatam. Pode-se pensar o medo, do ponto de vista psíquico, como um estado emocional que decorre da consciência de um eventual perigo, da ideia de que algo possa ameaçar a segurança ou a vida.
Medos inatos ou adquiridos
Os medos podem ser inatos ou adquiridos. Os medos inatos ou atávicos representam os medos compartilhados pela maioria das pessoas e pelos seus ancestrais. Tem-se a consciência deles desde a infância, porque estão intimamente ligados à existência. Têm sido mantidos e transmitidos por gerações e é provável que permaneçam sempre no futuro. Tais medos existem independentemente das experiências vividas. Como exemplos: sem nunca ter entrado em contato com um predador, o seres humanos sabem que ele é perigoso; sem nunca terem caído de grandes alturas, têm-se receio de lugares muito altos. Os medos atávicos passaram a ser uma adaptação coletiva às ameaças mais graves.
Porém, os medos adquiridos ocorrem de outra maneira. Eles existem quando se passou por uma experiência traumática. Essa forma de medo é diferente de pessoa para pessoa e depende das experiências da vida.
Os medos podem ser também contagiosos. Vale lembrar o início da Pandemia da Covid-19, quando muitas pessoas no planeta se tornaram vulneráveis ao medo de pegar a doença e morrer sufocado. Deixar-se contagiar pelo medo dos outros, via o sistema de neurônios, espelho do cérebro, é quase inevitável. Pais e mães, com frequência, contagiam seus filhos com seus próprios medos.
A lista dos tipos de medo é interminável, desde idades muito precoces se vive o medo, medo de ser rejeitado, de ser abandonado, medo de não atender às expectativas, medo de arriscar, de cometer erros, de fracassar, medo de não ser amado, medo de amar por medo de perdas, medo do escuro, da morte, medo da vida, medo de ter medo…
Quando o medo se torna uma doença?
Percebe-se na evolução do medo, a passagem da preocupação ao nervosismo, à ansiedade, ao desespero, ao pânico, ao horror, ao terror… O medo saudável é uma resposta natural a situações de risco, mas quando ele começa a afetar negativamente a vida cotidiana, transforma-se em patológico. O medo é considerado patológico quando é exagerado, desproporcional em relação ao estímulo e interfere na vida profissional, social e acadêmica, impedindo a pessoa de realizar suas atividades.
Quando uma pessoa evita lugares, pessoas, experiências novas, desiste de perseguir seus próprios desejos e sonhos por causa do medo, este se tornou patológico. E o medo, quando se torna patológico, pode levar a sérios impactos na vida de uma pessoa.
No medo, a ameaça é próxima, o risco de lesão é alto e a fuga ou escape passa a ser a alternativa melhor. A ansiedade tende a ocorrer em situações de conflito, existe uma ameaça potencial, mas também um benefício potencial, misturando as emoções. A ansiedade pode se tornar patológica quando essa emoção se torna disfuncional, causando prejuízos adaptativos e sofrimento significativos para a pessoa. Quando o medo e a ansiedade não correspondem à situação vivenciada tem-se um transtorno patológico.
O medo é uma ilusão?
Em síntese, o medo só se torna patológico quando ultrapassa os limites considerados normais e prejudica a qualidade de vida. Muitos consideram o medo uma ilusão e o que é uma ilusão senão uma fantasia da imaginação? Real ou imaginário, atávico ou adquirido, vivido ou contagiado o medo permeia a vida, protegendo-a ou prejudicando-a. Só se aprende o que é coragem quando se supera um medo. Toda coragem precisa de um medo para existir e o domínio do medo fortalece e aumenta a coragem.