por Regina Wielenska
Duas amigas me contaram ter passado a maior saia justa nas férias, numa casa de praia.
Do grupo de mulheres, todas solteiras, fazia parte uma moça de vinte e poucos anos e seu filho de 30 meses. Segundo foi relatado, lhes dava muita aflição observar a maneira como a moça lidava com a criança, a começar pela afirmação de que “meu filho é meu melhor amigo”.
Tenho que concordar: filho é alguém com quem a gente se relaciona amigavelmente, com doçura, mas amigo ele não é. A relação não é de igualdade, as responsabilidades também são distintas.
Cabe ao pai ou mãe preparar a criança para explorar o mundo com segurança e se tornar uma pessoa com as competências necessárias. Para isso é preciso dar limites aos impulsos infantis, introduzir um ritmo saudável no cotidiano (horários pra dormir, refeições regulares, tempo pra tomar sol), oferecer alimentos saudáveis (restringir produtos industrializados, caprichar nos vegetais, expor a criança à diversidade, desenvolver seu paladar), proporcionar naturalmente experiências de aprendizagem a partir do cotidiano da família e da cultura onde a família está inserida.
A mãe da criança queria fazer tudo que o grupo fazia, e arrastava seu menino consigo para atividades pouco adequadas, como idas noturnas a bares com música alta. Perdeu o paradeiro da criança algumas vezes, distraída com compras. Alimentou a criança basicamente com iogurtes e petiscos. Para dar limites, ameaçava de bater, aos gritos. Para convencê-lo a colaborar, propunha suborno (eu te dou um chocolate se você…).
Essa jovem mãe não escolheu de verdade as condições nas quais o filho foi gerado e não estava pronta para os desafios que inevitavelmente seriam interpostos em sua vida. Engravidou por acaso, de um namorado sazonal, que se afastou logo da vida deles. Na verdade, ela sequer estava pronta para ser uma adulta independente, o que dirá mãe. Abandonou a faculdade depois do parto, seus pais a sustentam, nunca teve um emprego e ela quer dar continuidade a uma vida de solteirice descompromissada, sem ter que se ajustar à chegada de uma criança, fazendo as renúncias necessárias.
Durante a viagem, em várias circunstâncias, foram algumas das moças da turma que tiveram comportamentos maternos mais coerentes, responsáveis, eficazes. Parece haver uma correlação, ao menos parcial, entre estar preparado pra vida adulta e ser capaz de se tornar efetivamente pai ou mãe. Parece que essa jovem mãe precisa de ajuda, ou seu filho mais tarde será prejudicado. Estamos falando de famílias de classe média, não se trata de classes socialmente desfavorecidas, para as quais talvez a questão da gravidez precoce seja ainda mais problemática e provável.
Pediatras, assistentes sociais, enfermeiros, psicólogos de equipes de saúde da família e outros profissionais da área possuem uma responsabilidade especial para atender jovens mulheres a se tornarem, de fato, mães. E as famílias dessas jovens grávidas precisam dar apoio ao desenvolvimento de comportamentos maternos adequados. Tapar buracos, assumindo a maternagem no lugar da inepta mãe, não vai resolver o problema na sua raiz, apenas salva a pobre criança de ficar à mercê da negligência materna.