Quem se doa, tende a ser mais feliz

por Fátima Fontes

Introdução

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“Viva como se já estivesse vivendo pela segunda vez, e como se na primeira vez você tivesse agido tão errado como está prestes a agir agora. O sentido da própria responsabilidade pode aumentar por meio desta visão autobiográfica ficcional.”  Viktor Frankl, psiquiatra austríaco no livro: O que não está escrito nos meus livros. Memórias. São Paulo: É Realizações Editora, 2010, PP.147-148.

Queridos e queridas leitores da nossa coluna, chegamos juntos a mais um período de agitação coletiva que é o Natal e a chegada de um novo ano. Mais uma vez no frenesi das compras e da imposta troca de presentes, perdemos o mais das vezes o verdadeiro espírito do Natal Cristão que é a celebração de um presente para a humanidade, que nada nos custou, nem tão pouco nos obriga a consumir desenfreadamente neste período do ano.

Como em outros anos, proponho a nossa conhecida e boa reflexão, e para isso vou me aproveitar da sensibilidade que parece se tornar uma fumaça invisível que nos envolve neste período do ano também.

E nosso foco será seguir essa “responsabilidade sobre nossas ações” à qual o médico psiquiatra austríaco Viktor Frankl (1905-1997) nos convoca. Tomarei três motes situacionais que vivenciei neste mês de dezembro de 2014, quando precisei realizar um exame de endoscopia digestiva. Meu desejo é que da mesma forma que eles me inspiraram a celebrar a vida e os vínculos com os humanos que nos cercam, também venham a inspirar vocês. E que de fato tenhamos todos, um feliz natal!

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Quem vai fazer o exame comigo?

Como vocês sabem certos exames médicos exigem a presença de uma pessoa acompanhando o paciente, normalmente por que como preparo para o exame, a pessoa será sedada, o que a impedirá de tomar decisões por certo período de tempo. A endoscopia digestiva é um desses exames.

Na noite da véspera do meu exame de endoscopia digestiva, descubro que meu filho mais novo, o único que poderia me acompanhar ao tal exame, não poderia mais fazê-lo, o que me deixou inicialmente chateada, pois eram vinte e uma horas e quarenta minutos e teria que pedir, àquela hora, a alguma amiga para ir comigo.

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Confesso que me surpreendi com a total disponibilidade da primeira amiga a quem pedi ajuda, ela imediatamente me respondeu: “A que horas você quer que eu passe aí para te pegar?”.

Essa imediata disposição muito me fez pensar sobre a força de nossos vínculos, e de como colhemos aquilo que plantamos. Para mim, desde muito pequena, o valor das amizades me foi passado e melhor que tudo, pude desfrutar de uma infância até os sete anos de idade, com a liberdade de passar períodos na casa de meus avós, onde eu ia para a rua brincar com meus amigos e treinava o melhor de meus papéis sociais: o de ser vinculada.

Sempre me preocupei em me encontrar com os amigos, lhes telefonar, gastar tempo com eles, e, sobretudo, expressar meu afeto por eles. E isso repercutiu nesse momento de minha necessidade. E em outros momentos…

Aproveito para estimular essa atitude de atenção e cuidados nos leitores dessa coluna. Muitas vezes nos tornamos queixosos de nossas relações interpessoais, e sobre isso já nos debruçamos em vários outros textos desta coluna – veja aqui. Falta-nos, entretanto, termos a autocrítica de nos questionarmos sobre o quanto a solidão ou desatenção do outro para conosco, fala sobre nossa própria indisposição em dar o afeto e a atenção, o que nos leva a uma sistemática cobrança e queixa do outro.

Quem se doa, tende a ser mais feliz

Temos o relato bíblico no livro de Atos dos Apóstolos (capítulo 20 verso 35b) de um dito de Jesus que não tem registro, segundo comentaristas bíblicos, em nenhum dos evangelhos que contam a vida e as palavras de Jesus, eis o importante dito: “É mais feliz quem dá do que quem recebe”! Que incrível a força dessa frase e quanta verdade carrega, estou certa de que seríamos muito mais felizes se resolvêssemos nos doar mais, agradecer mais e nos disponibilizar mais!

E a “mão de um anjo”, mulher, me fez um carinho e me deu esperança…

Minutos antes do exame ser iniciado, já haviam me aplicado o sedativo via intravenosa, estava começando a ficar muito “sonada”, e eis que entra na sala em que fiz o exame uma médica que não foi a que realizou meu exame, que depois a reconheci no pós-exame e perguntei a uma enfermeira seu nome, ela me olhou e com muita ternura fez um carinho no meu braço e disse que daria tudo certo.

Essas foram as últimas palavras que ouvi, quando acordei, já estava na sala de repouso, despertando de um profundo sono. Fiquei marcada por aquele singelo gesto e por aquelas doces palavras. E outra vez as utilizo nesta nossa reflexão.

Mulheres raivosas, alteradas e grosseiras

Também temos perdido nossa condição de agirmos e falarmos com ternura. Mesmo as mulheres que são socializadas com a autorização para serem afetivas e expressarem o que sentem, estão deixando de fazê-lo, percebo as mulheres do século XXI muito raivosas, alteradas e grosseiras.

Lamento profundamente tal fato, que tem repercussões muito negativas, sendo a maior delas o incremento das violências nos relacionamentos, afinal violência chama violência. Ternura, também chama ternura. Nossos ataques de fúria, tanto feminina quanto masculina precisam, urgentemente, serem substituídos por momentos de delicadeza e carinho.

Outra lastimável perda dos relacionamentos interpessoais é a perda da capacidade de se esperançar e de dar ao outro, esperanças. Acreditar que as coisas possam melhorar, que as dificuldades podem ser superadas e que no fim as coisas sempre se arrumam, funciona como antídoto para a elaboração dos momentos difíceis e organiza a mente, as emoções e o espírito para melhor lidar com os conflitos, de qualquer origem.

E não confundamos isso com “negação dos conflitos”, que seria um despropósito para nosso psiquismo e nossas relações. Quando nos esperançamos, sabemos que os conflitos existem, somente saímos do imobilismo emocional e nos tornamos proativos na direção do enfrentamento. Foi isto que senti quando a médica, de forma amorosa e terna me disse que “tudo iria dar certo”… Sabia que talvez fosse preciso fazer biópsia da minha mucosa gástrica, fato que ocorreu, mas estava em paz antes, durante e depois do exame e a médica me ajudou.

Proponho também esse antídoto para nossos relacionamentos: sejamos mais esperançosos e distribuamos mais esperanças, isso muito ajudará a cada um de nós e mais ainda aos nossos relacionamentos interpessoais.

Eu disse “tchau” e a moça respondeu “Deus te abençoe”

Restabelecida do meu estado de “torpor”, levantei da maca e me dirigi, com minha amiga, para a saída da sala de repouso. Nesse trajeto, estava uma funcionária responsável pela limpeza, eu a olhei e disse “tchau”, ela me olhou e com muito carinho disse “Que Deus lhe abençoe”. Uau! Que força trouxe pra mim aquela bênção.

Usufra das pequenas generosidades

Talvez também tenhamos perdido, em dias atuais, a capacidade de nos surpreendermos e de usufruirmos das pequenas generosidades, sim, foi como recebi as palavras daquela mulher: um ato de muita generosidade, ela me abençoou, através de suas palavras.

Abençoar alguém é lançar sobre ela os melhores desejos, as melhores energias, enfim é projetarmos no outro a nossa luz psíquica, afetiva e espiritual. Cada um pode abençoar o outro com aquilo que crê, no caso que eu conto agora, a minha abençoadora era cristã, mas podia ser mulçumana, espírita, ateia, tanto faria, porque a essência seria absolutamente a mesma: ela me desejou seu melhor.

E nós, estamos abençoando o nosso semelhante ou o amaldiçoando com nossas críticas e queixas? Estamos desejando paz, alegria e vitórias nas lutas ou movidos por nossa sombra humana, desejamos que o outro se dê mal, pois estamos magoados, entristecidos ou decepcionados com ele. Olhamos para ele com uma cara enfurecida, deixando claro como o achamos ridículos e insuportáveis: os olhares falam mais do que as palavras, e ferem tanto como um tapa dado.

Sombra “chama” sombra

Saibamos todos que sombra também chama sombra, essa energia negativa ficará sobre quem deseja o mal como uma nuvem carregada, promovendo infelicidade para quem a carrega e para os que com ela convivem. Nada mais triste ou pesado, cenário a ser combatido com as ferramentas do perdão, da desidealização: somos humanos, falhos, mas também somos adoráveis iluminados e capazes de aprendermos com nossos erros, mas, por favor, vamos pegar mais leve conosco e mais ainda com o outro e suas mancadas.

E para finalizar…

Propostas feitas ficam lançadas as bases do meu desejo de Natal para cada um de vocês que leem a coluna: sejamos nós os guardiões de um tempo de mais delicadeza, de mais perdão, de mais alegria e de muito mais esperança! Que venha 2015, estamos nos preparando para fazer um ano melhor.

De presente, vai essa sensível canção de um artista norte americano chamado Michael Bublé, que nesta canção intitulada Everything (Tudo), nos faz lembrar e dançar a celebração do quanto o outro pode ser nosso melhor tudo!!! Vai a tradução, proposta pelo site de cifras Vagalume, no final, ok?!

Everything
Michael Bublé

You’re a falling star
You’re the getaway car
You’re the line in the sand
When I go too far
You’re the swimming pool
On an august day
And you’re the perfect thing to say
And you play it coy but it’s kind a cute
Oh when you smile at me

You know exactly what you do
Baby don’t pretend that you don’t know it’s true
Cause you can see it when I look at you

And in this crazy life
And through these crazy times
It’s you
It’s you
You make me sing
You’re every line
You’re every word
You’re everything

You’re a carousel
You’re a wishing well
And you light me up
When you ring my bell
You’re a mystery
You’re from out of space
You’re every minute of my every day

And I can’t believe that I’m your man
And I get to kiss you baby just because I can
Whatever comes our way
We’ll see it through
And you know that’s what our love can do

And in this crazy life
And through these crazy times
It’s you
It’s you
You make me sing
You’re every line
You’re every word
You’re everything

And so la la la la… la la la
So la la la la… la la la

And in this crazy life
And through these crazy times
It’s you
It’s you
You make me sing
You’re every line
You’re every word
You’re everything…
You’re every song
And I sing along
Cause you’re my everything

Yeah, yeah

So la la la la… la la la
So la la la la… la la-la-la… la-la-la

Tradução

Tudo
Você é uma estrela cadente
Você é o carro em fuga
Você é a linha na areia
Quando eu vou longe demais
Você é a piscina
Em um dia de agosto
E você é a coisa perfeita para se dizer
E você banca a desinteressada, mas isso é uma graça
Oh, quando você sorri para mim
Você sabe exatamente o que faz
Querida, não finja que você não sabe que é verdade
Porque você pode ver quando eu olho para você

E nessa vida louca
E por esses tempos malucos
É você
É você
Você me faz cantar
Você é cada frase
Você é cada palavra
Você é tudo

Você é um carrossel
Você é um poço dos desejos
E você me ilumina
Quando lembro de você
Você é um mistério
Você é do espaço sideral
Você é cada minuto de cada dia meu

E eu não posso acreditar que sou seu homem
E eu te beijo porque eu posso
O que quer que venha no nosso caminho
Nós enfrentaremos
E você sabe que é isso que nosso amor pode fazer

E nessa vida louca
E por esses tempos malucos
É você
É você
Você me faz cantar
Você é cada frase
Você é cada palavra
Você é tudo

E então… lalala… lalala
So la la la la… la la la

E nessa vida louca
E por esses tempos malucos
É você
É você
Você me faz cantar
Você é cada frase
Você é cada palavra
Você é tudo

Você é toda canção
E eu canto junto
Porque você é meu tudo

Sim, sim
So la la la la… la la la
So la la la la… la la-la-la… la-la-la