por Patricia Gebrim
Nesse mundo maluco em que vivemos, onde cada dia acaba sendo uma espécie de batalha, precisamos ter ao menos um amigo de verdade.
Digo “um” porque amigos como esses a que me refiro são raros, preciosidades que nem todos têm a sorte de encontrar.
Não estou falando aqui das turmas engraçadas que se reúnem para falar bobagens e rir, se bem que esse tipo de relacionamento superficial pode também ser divertido e aliviar um pouco do estresse do dia a dia. Mas não é a esse tipo de relação que me refiro, e sim à beleza e profundidade de amizades que nos fazem sentir menos sós nesse mundo tão cheio de arestas.
Estou falando daquelas pessoas que compreendem nossa língua, pessoas a quem não nos precisamos explicar.
– Ah… Que alívio não precisarmos nos explicar…
Estou falando dessas pessoas com quem aprendemos coisas e que nos fazem sentir alguém melhor. Estou falando da profundidade de amizades que vão além da necessidade adolescente de estar em “turma”, o que acaba, muitas vezes, engolindo nossa individualidade e camuflando o que temos de mais belo. Quando nos dissolvemos na “turma”, pela necessidade de pertencimento, acabamos nos nivelando pela média, muitas vezes nublando ou não tendo a chance de revelar o nosso melhor.
Se você já não é um adolescente, talvez já esteja pronto para experimentar trocas com uma qualidade superior. Não é preciso abandonar os grupos, se isso deixa você feliz, mas abra-se para experimentar algo mais. Abra-se para a possibilidade de estabelecer uma forma mais profunda de relacionamento, onde você aprenderá muito mais. Aprenderá a receber e a dar.
Aprenderá a amar.
Estou falando de uma relação de troca com uma dessas pessoas raras, dessas que de verdade fazem a diferença. Dessas que podem estar ao nosso lado não somente nos bons momentos de celebração e descontração, mas também na tristeza, na dor, no silêncio ou na beleza de um momento da mais pura contemplação. Pessoas assim são como poesia em nossa vida.
– Como tem valor uma pessoa que consegue ficar silenciosamente ao nosso lado!
Que privilégio poder falar abertamente, sem medos ou edições sobre a vida, sobre medos, sobre nossas dúvidas, sonhos e aspirações. Poder rir e chorar. Poder falar coisas sem sentido e acabar encontrando algum sentido no final. Poder ser tão de verdade que a gente acaba se sentindo um pouco criança. Que maravilha é não ter medo de virar criança na frente de alguém (quando crianças nos tornamos frágeis e indefesos).
Quem nunca teve um amigo assim talvez não compreenda o que digo. Uma única pessoa como essa em nossa vida, torna mais leve toda uma existência, acreditem. Poder conviver e trocar com uma pessoa que compreenda e partilhe de nossa visão de mundo torna a vida muito menos solitária.
Muitas vezes estamos rodeados de pessoas e continuamos nos sentindo sós, pois somos tomados por uma solidão existencial, uma solidão de alma, uma sensação de que existe entre nós e o mundo um abismo intransponível. Mas quando encontramos uma única pessoa que seja capaz de olhar lá no fundo de nossos olhos e enxergar nossa luz, quando encontramos uma única pessoa com quem podemos abrir mão das máscaras e ser simplesmente quem somos, quando encontramos uma única pessoa a quem podemos nos mostrar frágeis e humanos; então já não estamos sozinhos e o mundo deixa de ser tão ameaçador. Estamos acompanhados no que existe de mais verdadeiro.
A cada encontro com um amigo de verdade, nos aproximamos mais de nós mesmos. Aproximamo-nos mais da nossa luz, da nossa essência e do que temos de melhor. Essa é a beleza de uma amizade verdadeira, ela sempre nos ajuda a ficarmos mais próximos de nosso próprio eu. É como se, a cada encontro com o outro, nos tivéssemos um pouco mais de volta, e não há como explicar isso a quem nunca viveu algo assim.
Sinto uma gratidão imensa por meus raros e queridos amigos verdadeiros, por essas pessoas raras e preciosas que me ajudam a acreditar na beleza, mesmo em meio a tantos desafios. Por essas pessoas luminosas que me olham com aqueles olhos grandões e me ajudam a encontrar o que de melhor existe em mim.
A cada uma delas, que já me viu frágil, criança, que já me viu rir e chorar, que já filosofou comigo sobre a vida, que já me deu colo, que me empurrou para frente e acreditou em mim; a cada uma delas que me olha de uma forma que me ajuda a acreditar em mim mesma, que toca minha alma… Dedico este artigo, que escrevo tomada por esse sentimento de mais pura gratidão.
Um último comentário… Diamantes não são encontrados com muita facilidade. Se uma pessoa dessas passar pela sua vida, não a perca.