Tente basear sua decisão no que você sente. De nada adianta você respeitar a religião, mas não respeitar a você mesma. Saiba como lidar com esse dilema.
E-mail enviado por uma leitora:
“Estou numa relação tóxica e destrutiva no meu casamento. Pertencemos a uma igreja tradicional e eles acham que eu devo lutar por ele e esperar ele mudar e orar e ter paciência. Mas venho tendo paciência há bastante tempo e ele fica bom por vários dias… mas depois volta a me maltratar, mas não me agride fisicamente. Minha vontade é de me separar, mas não ‘podemos’ fazer isso.”
Resposta: Seu conflito, no momento, é entre o que a religião manda e o que sua percepção sobre o casamento sugere.
Religiões, em geral, baseiam-se em dogmas. São regidas por leis gerais. Mas isso não quer dizer que as individualidades têm que deixar de existir em função da religião. Afinal, não acredito que na sociedade onde você vive, exista uma religião que vai mandar você para a forca, caso você se separe, não é? Aliás, qualquer religião que se preze, oferece aos seus fiéis a possibilidade de recomeçar depois de um erro. Afinal, “errar é humano, mas perdoar é divino”, diz o dito popular.
Assim, tente basear sua decisão no que você sente. De nada adianta você respeitar a religião, mas não respeitar a você mesma.
Mas, atenção: é importante você refletir sobre as consequências de sua separação caso opte por ela. Você tem condição de viver sozinha? Tem como se sustentar? Caso tenha filhos, entende que terá que compartilhar a guarda com o pai? Sim, tudo isso tem que ser pensado antes da separação, porque depois, caso você se arrependa, nada garante a volta.
Por que a dificuldade de se separar?
Talvez, para você, a dificuldade de se separar resida no fato que, como você mesma diz, ele nunca tenha “passado dos limites”; “nunca me agrediu fisicamente”, você relata. Será que é preciso que ele chegue à agressão física para que você se permita não querer mais? A agressão moral, afinal, costuma doer mais do que a física. Então, avalie se vale a pena esperar que ele chegue às vias de fato.
Por outro lado, tente entender o que você faz para que ele seja grosseiro com você. Numa relação a dois, quase nunca só um é responsável pelos problemas que surgem. Então, seria bom você avaliar que comportamentos despertam nele um sentimento de raiva ou de insegurança que fazem com que ele consiga comportar-se bem por pouco tempo e logo retornar aos comportamentos inadequados. Talvez se você usar outras palavras, tratá-lo de outra forma, entender os momentos de insegurança dele, a resposta dele se torne mais adequada.
E, assim como seu casamento, a função da religião na sua vida também deve ser questionada de temos em tempos. Até agora, parece que a religião teve um papel importante em sua vida, já que você continua ligada a ela. Mas nada garante que sempre será assim.
Quando a pessoa começa a amadurecer seus pensamentos e suas ideias, às vezes os dogmas religiosos podem entrar em conflito com as necessidades pessoais. É hora então de se pensar na possibilidade de fazer uma escolha.
Da mesma forma que você pode chegar à conclusão que está na hora de se separar do seu marido, pode chegar à conclusão que a religião cumpriu o papel dela na sua vida e chegou a hora de caminhar com seus próprios pés e pensar com sua própria cabeça.
Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de uma psicóloga e não se caracteriza como sendo um atendimento.