Por Rosemeire Zago
A repressão das emoções, seja qual for, é extremamente maléfica para o organismo e devemos evitá-la. As mulheres em geral acabam por expressar muito mais o que sentem, enquanto os homens, devido à educação machista na qual ‘homem não chora’, muitas vezes, faz com que eles reprimam muito mais o que sentem. Um homem de negócios, um político, ou seu marido, deve ser puramente racional, frio, insensível e calculista, certo? Errado!
O que as mulheres mais procuram no companheiro hoje é a sensibilidade, alguém que não só entenda seus sentimentos, mas que também se permita sentir e principalmente demonstrar o que sente. Como diz a letra da música do Gonzaguinha: “Um homem também chora, menina morena, também deseja colo, palavras amenas, precisa de carinho, precisa de um abraço, da própria candura…”
Homens, mulheres, todos devemos aprender de alguma forma a expressar nossas emoções, seja verbalizando-as, ou mesmo escrevendo. O que não podemos é reprimir, fazendo como se não as sentíssemos. Mas o que tudo isso tem haver com doenças? Tudo! Pois se as pessoas aprenderem a expressar seus verdadeiros sentimentos, tiverem relacionamentos mais saudáveis, as doenças poderão diminuir muito. Na maior parte das famílias é imposta algumas regras que nos induzem e condicionam a reprimir a expressão do que sentimos, o que não é nada saudável.
Por exemplo, o choro é uma das maneiras que temos para expressar nossos sentimentos e a repressão deste pode estar relacionado com a asma. Algumas pesquisas mostram que a maioria das pessoas que têm asma sente muita dificuldade em chorar. Como se a crise de asma substituísse o choro reprimido. E as crises geralmente cessam quando a pessoa consegue dar vazão aos seus sentimentos através do choro. O mesmo também se diz sobre a sinusite, como se fosse um chorar para dentro.
Chorar tão quanto possível é um dos mais eficazes meios que temos para restabelecer nosso equilíbrio interior, tendo sido abalado pela tristeza, dor, ira, e até, pela alegria e amor. Quantas vezes depois que choramos nos sentimos mais leves? Existe até aquela expressão popular: “Lavei a alma” depois de uma crise compulsiva de choro. Mas por que para algumas pessoas é tão difícil se permitir chorar? O que nos ensinam desde cedo? Que não devemos chorar, que devemos “engolir” o choro.
Quando uma criança cai e se fere, ou desobedece, a maior preocupação dos pais não é com o fato em si, e sim que ela pare de chorar. Como se o fato de parar de chorar significasse o desaparecimento do sentir que motivou o choro. Quando crescemos, sejamos homens ou mulheres, sabemos que não devemos chorar, como se fosse um sinal de fraqueza, ou o fazemos escondidos, no silêncio de nosso quarto. Afinal, chorar é coisa de criança. Ser fraco não é chorar, mas não se permitir sentir.
Para segurar o choro contraímos os músculos do peito, ombros e garganta, impedindo os soluços. Enrijecemos os lábios, para que não caiam, na expressão típica do choro. Seguramos ainda as sobrancelhas para cima, pois se vierem para baixo começaremos a chorar. Para conter as lágrimas absorvemos toda essa energia negativa em contrações musculares que determinam a repressão emocional. Essas contrações musculares ocorrem também nos vasos sanguíneos, estômago, intestinos, etc… causando os mais diversos sintomas. Ou seja, a tensão sentida pela situação acaba por se acentuar diante de mais tensão gerada pela repressão.
A razão pelo qual o choro é benéfico decorre da descarga muscular que provoca, dando vazão a toda tensão do corpo. E lembre-se que a tensão é uma das fases do processo de adoecer. Se pudermos eliminar essa tensão com nossas lágrimas, por que reprimir? Havendo o sentimento, seja qual for, em nada nos beneficia reprimir sua expressão. Mas como agir frente a outras emoções como a ira, se não devemos reprimir nossas emoções? Dar um soco em quem te fez sentir raiva de nada irá adiantar, mas podemos socar uma almofada, um travesseiro, gritar no quarto fechado ou dentro do carro, ou fazer uma atividade física, onde toda energia reprimida possa ser liberada.
Mas diferente dos animais, dispomos de uma outra forma de expressar o que sentimos: as palavras. A tristeza compartilhada, a dor revelada, diminui as tensões geradas pelas perdas e angústias. E por que nos negamos a expressar em palavras o que sentimos? Muitas vezes por medo de demonstrar insegurança, de sermos julgados, da falta de ter em quem confiar.
As pessoas que suportam suas dores sozinhas adoecem com maior freqüência e de maneira mais grave que aquelas que verbalizam suas emoções e dores. Mas a importância e o benefício de verbalizar o que sentimos não deve se restringir apenas a tristeza e dor, mas também as coisas boas que nos acontecem. Mas algumas pessoas, talvez a maioria, sentem muita dificuldade de se expressar emocionalmente, reagir com afeto. Tanto que temos a alexitimia: do grego alexo = afastar, expulsar, e tymos = alma, desejo; literalmente, “afastamento do desejo ou d’alma”.
A alexitimia caracteriza um distúrbio afetivo pela incapacidade de identificar e expressar sentimentos. Mas esse distúrbio não pode ser confundido com alguém que não consegue expressar o que sente como um mecanismo de defesa. Muitas vezes quando se foi muito criticado ou não recebeu atenção aos seus sentimentos quando criança, quando adulto poderá fazer o mesmo consigo próprio. Por isso que os sentimentos devem ser sempre respeitados, independente da idade.
A incapacidade de comunicar com palavras os pensamentos e sentimentos faz com que se “fale” através da linguagem dos órgãos. Ou seja, o adoecer de determinado órgão é a forma inconsciente de manifestar nosso sofrimento, por não conseguir fazê-lo de outra maneira. Por isso que a incapacidade de expressar as emoções é um fator importante na origem das doenças e devemos aprender, ou reaprender, a falar, chorar, sentir e, acima de tudo, expressar o que sentimos.