por Elisandra Vilella G. Sé
Durante todo nosso curso de vida, do nascimento à morte vivemos um processo contínuo entre ganhos e perdas. Esse processo é vivenciado ao longo do desenvolvimento humano como transições, eventos de vida que influenciam nosso curso de vida, que orientam a personalidade ao enfrentamento de desafios e que ajudam o ser humano buscar o devido ajustamento psicológico, social e biológico para se manter vivo.
Os eventos de vida referem-se a mudanças ocorridas num período da vida que podem trazer equilíbrio, crescimento, maturidade ou desequilíbrio. Servem como pontes entre um ponto estável na vida a outro ponto ou momento também relativamente estável. São acontecimentos significativos que ocorrem num momento particular, causando algum tipo de impacto na vida da pessoa.
Tipos de eventos
Eventos de vida marcam nossas vidas e podem implicar mais ou menos envolvimento emocional. Existem vários tipos de eventos de vida. Alguns aguardamos a chegada para se viver, são esperados, sabemos que está para acontecer, são os chamados eventos normativos, consideramos normal vivenciar tais acontecimentos, como por exemplo, a entrada na puberdade, a menopausa, a entrada na escola, na universidade, a chegada da aposentadoria. Outros são eventos não-normativos, aqueles que não esperamos, que também podem ser positivos ou negativos. Exemplo de eventos de vida não-normativos positivos são a chegada inesperada de um filho, ganhar na loteria, fazer uma viagem. E outros são considerados não-normativos negativos, porque são estressantes, inesperados, como a morte de um ente querido, a morte de um filho, doenças, perda de um emprego, problemas conjugais.
Os eventos de vida podem implicar em mais ou menos prazer e desprazer. Muitas vezes eles são vivenciados pela maioria das pessoas que pertence a um grupo social, ou de idade (pessoas que nasceram numa mesma época). Conforme envelhecemos, aumentam a ocorrência de eventos estressantes, principalmente os relacionados à saúde e bem-estar.
Os eventos de vida colocam à prova nossa personalidade, nossa capacidade de resolução de problemas, nossa auto-estima, a criatividade, a capacidade de lançar mão de estratégias sóciocognitivas para enfrentar um problema. Eles funcionam como apoio ou amortecedores na vida. Experenciar um evento negativo por exemplo, acarreta maior ou menor exigência de recursos emocionais, sociais e intelectuais, dependendo do valor e significado que a pessoa atribui a tal evento. Os eventos negativos são fatores de risco para desenvolvimento de doenças, principalmente os transtornos afetivos e para o agravamento de doenças físicas.
Eventos positivos também exigem estratégias
Os eventos positivos também exigem da pessoa um certo ajustamento, envolvimento emocional e estratégias sóciocognitivas (funções mentais e sociais). Grandes acontecimentos na vida que são esperados, que podem ser considerados positivos requerem também às vezes adaptações diante da situação e das emoções vivenciadas.
Estudos gerontológicos sobre o impacto dos eventos positivos na saúde revelam que os eventos podem proteger o indivíduo dos efeitos adversos da saúde, como a depressão. Isto é, se uma pessoa tiver passando por eventos negativos (ex. morte do esposo) ao mesmo tempo vivenciando eventos positivos (ex. casamento, nascimento de um neto), podem sofrer menos os efeitos negativos. Assim, o evento positivo é considerado moderador do evento negativo.
Percepção e avaliação dos eventos
É importante lembrar que as diferenças individuais na percepção e avaliação dos eventos de vida têm um peso significativo no impacto que irão causar no curso de vida. Porque cada pessoa atribui um valor e significado individual para suas vivencias emocionais. Ou seja, dependerá de cada um o valor positivo ou negativo de uma dada experiência. Um evento positivo, por exemplo, como o nascimento de um filho pode ser avaliado por uma pessoa como algo muito bom, enquanto que para outra um grande desafio, maior do que pode tolerar. A mesma coisa acontece com os eventos negativos, para uma pessoa a perda de um emprego é um caos, enquanto para outra um desafio ao crescimento pessoal.
A qualidade e a intensidade das emoções dependem do curso de vida individual. Assim só você mesmo é quem saberá o que é bom para o seu bem-estar. Só a pessoa saberá mesclar seus eventos positivos e negativos e utilizar os recursos psicológicos, cognitivos e ambientais disponíveis no momento. A capacidade de se adaptar às demandas ambientais diante dos eventos de vida é um importante indicador de saúde mental e bem-estar pessoal.
Portanto, envelhecemos como vivemos e assim se constrói a história de vida. O nosso grande tesouro é a nossa capacidade criativa de viver, a nossa subjetividade, a capacidade de pensar e buscar novos sentidos para a realidade humana. As experiências dos eventos de vida nos fazem mais fechados ou mais abertos, mais calorosos ou mais frios, mais conscientes ou inconscientes dos fatos, nos faz mais sábios ou mais desesperados. As possibilidades são inúmeras no curso de vida diante dos eventos positivos ou negativos enquanto envelhecemos, existem perdas que podem transformar em ganhos e emoções positivas que podem gerar transtorno.
O que importa é que o curso de vida é um prêmio e podemos escolher ou fazer sempre aquilo que se sabe ou aprender a fazer coisas novas. Mas como diz a música “Emoções” de Roberto Carlos “…se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi….” porque são as emoções e sensações que fazem o ser humano ser o que ele é.