por Ceres Araujo
O planejamento das matérias escolares é baseado na maturação psiconeurológica das crianças, o que cria a possibilidade do aprendizado como uma atividade muito prazerosa. Corresponder às expectativas pedagógicas deve ser algo natural e, portanto, tranqüilo. Quando aprender é penoso e provas são aversivas, causadoras de dores, geralmente de cabeça e de barriga, as notas baixas podem aparecer e constituem um motivo de elevação de estresse na relação pais-filhos.
Boletins ou avaliações com notas altas, conceitos altos, gratificam os pais, que têm a certeza que tudo está bem com o filho. Entretanto, quando tal não acontece, forte angústia costuma se fazer presente na mente dos pais e a escola é imediatamente consultada, para que se verifique o que há de errado com a criança, que não acompanhou a classe como deveria.
Infelizmente, na maioria das vezes, a responsabilidade é colocada sobre a criança: ela não foi suficientemente atenta, ela falou demais com os colegas, ela foi preguiçosa, ela não fez as lições, ela não completou as provas, etc.. Sugestões são sempre feitas para reparar a situação: aulas de recuperação, acompanhamento escolar pelos pais, cobranças maiores, castigos como retirada de televisão, internet, jogos eletrônicos, festas, passeios… Com alta freqüência, apesar dessas medidas, que pretendem ser reparadoras e que são punitivas, as notas baixas continuam na próxima avaliação!
O que ocorreu foi que o “remédio” veio antes do diagnóstico e possivelmente foi um “remédio” inadequado, que mais prejudicou que “curou”. Notas baixas são um sinal amarelo que está avisando: existe algo com o que se preocupar. As causas das notas baixas devem ser averiguadas cuidadosamente e com isenção. Nem sempre a criança pode ser responsabilizada diretamente. É importante descobrir:
• Se a escola é adequada.
• Se os professores são adequados.
• Se a criança tem a idade certa, correspondente às exigências, as quais está sendo submetida.
• Se a criança tem algum tipo de déficit sensorial (se enxerga, se escuta adequadamente).
• Se a criança tem algum transtorno do desenvolvimento (se tem problemas cognitivos, de linguagem, de processamento auditivo, déficits psicomotores, distúrbio de atenção, de memória…).
• Se a criança tem algum problema do ponto de vista emocional (se é imatura afetivamente, se tem carências afetivas, se tem baixa auto-estima, se é demais ansiosa, se tem pais não muito presentes, negligentes e pouco amorosos…)
• Se a rotina de vida diária é suficientemente saudável (se ela dorme e se alimenta bem, se tem horários livres para brincar, se tem estímulos adequados para se desenvolver…).
• Se os ambientes que a criança freqüenta são inadequados para mantê-la feliz (se ela não é vítima de “bullying”, que são provocações e agressões repetidas, se não está vivendo discriminação e rejeição…)
Para ser atendida em suas necessidades, a criança precisa ser entendida em suas dificuldades. Assim, é importantíssimo o diagnóstico frente às notas baixas. Pais, professores, pediatras são os primeiros responsáveis pelo acompanhamento do desenvolvimento global da criança e precisam estar atentos aos sinais favoráveis e desfavoráveis desse desenvolvimento.
Não raro, profissionais de outras áreas são chamados para o diagnóstico, que quase sempre precisa ser multidisciplinar. Dentre esses profissionais: oftalmologista, neurologista, psiquiatra, fonoaudiólogo, psicólogo que atendam crianças. Isto não significa absolutamente vários atendimentos a seguir, mas, ao contrário, significa precisar bem o diagnóstico para que o atendimento ou a orientação seja no foco primário das dificuldades.
Na adolescência, porém, uma causa, com freqüência, acontece para rebaixar as notas. O jovem, que até então não tinha problemas na escola, tende a fazer agora, um alto investimento na área social e o faz em detrimento do pedagógico. Mais importante que ser bom aluno é ter muitos amigos. Tem mais valor ser querido no grupo, que se sair bem nas provas. É mais interessante para o jovem, aprender na internet que na sala de aula.
Pois bem, confrontos com figuras de autoridade, isto é, pais e professores são comuns. As notas abaixam. Fazer o quê?
Punições com certeza não irão modificar tal comportamento e podem trazer revolta. A solução parece estar na comunicação inteligente e honesta com o jovem. Mais uma vez nessa idade, as notas baixas devem ser entendidas como um sinal amarelo que sinaliza que algo não está bem. Tal entendimento deve ser compartilhado por pais e filho e, uma vez detectada como causa essa tendência própria, esperada para a idade, combinações devem ser feitas, no sentido de que os pais podem reafirmar sua real expectativa que o próximo boletim trará notas boas, uma vez que esperam que seu filho, tão capaz, consiga administrar melhor seus investimentos de tempo e interesse. Sem ter sido castigado e ainda reafirmado nas suas competências, o jovem fica devedor de seus pais e tal situação pode promover de fato, uma modificação de atitude frente ao aprendizado escolar. É uma boa tentativa.
Uma vez entendida a causa ou as causas das dificuldades do filho que acarretam as notas baixas, ele precisa ser ajudado para que recupere não apenas as notas, mas principalmente o gosto e o prazer por aprender. É necessário se preocupar também com a auto estima do filho. O ser humano precisa de valorização e expectativas positivas para que possa colorir de modo positivo sua auto-imagem, que é a base da sua identidade.