por Danilo Baltieri
"Tenho um amigo que viajou para fora por três anos e voltou totalmente viciado em heroína. Agora, no Brasil, está sofrendo muito com a abstinência. O que ele deve fazer?"
Resposta: A heroína é uma das substâncias psicoativas com maior potencial para induzir quadros de dependência e síndrome de abstinência. Descoberta em 1874, essa droga logo revelou seu alto potencial aditivo. Embora muitos usuários ainda façam uso injetável dessa substância, muitos outros utilizam essa droga na forma fumada ou mesmo inalada.
Ação no organismo e speedball
A substância age como um poderoso depressor do sistema nervoso central e causa efeitos como intensa tranqüilidade, analgesia e prazer, provocando um estado de sonolência. Esse estado é conhecido entre os usuários como "cabeceio". Para contrabalançar os efeitos letárgicos da droga, ela às vezes é misturada com algum estimulante como, por exemplo, a cocaína, formando então uma mistura conhecida como “speedball”.
Efeitos
Através do uso da droga, os usuários procuram sensações de êxtase, bem-estar e conforto que ocorrem quase que imediatamente após a injeção da droga; as pupilas ficam puntiformes (bastante contraídas); após algum tempo, o usuário entra em estado depressivo, buscando novas doses para repetir o efeito de prazer. A intensidade dessa sensação varia de acordo com a quantidade da droga que é administrada e a velocidade com a qual ela atinge o Sistema Nervoso Central e está associada com a atividade dos receptores opióides específicos.
Intoxicação
O primeiro e um dos mais dramáticos quadros clínicos decorrentes do uso inadequado de heroína é a intoxicação, a qual pode ser acidental ou intencional. A tríade miose (pupilas contraídas), depressão respiratória e coma sugerem superdosagem (overdose) da droga. Outros sintomas físicos que podem surgir são edema pulmonar, hipóxia (falta de oxigenação cerebral), hipotonia e morte. Constitui quadro de emergência médica, devendo ser abordado em pronto-socorro.
As manifestações clínicas relacionadas ao uso de heroína são devidas aos efeitos farmacológicos da droga, complicações relacionadas à via de administração, e diluentes ou substâncias misturadas à droga.
Cerca de 70% dos usuários de heroína apresentam co-morbidades com algum outro transtorno psiquiátrico, freqüentemente depressão, transtornos de personalidade e abuso/dependência de outras substâncias. Esses outros problemas podem ser primários ou secundários ao uso de heroína.
Síndrome de abstinência de heroína
A síndrome de abstinência da heroína apresenta as seguintes fases, didaticamente falando:
1. Antecipatória: ocorre três a quatro horas após o uso e é caracterizada por medo da falta da droga; comportamento de busca pela droga, ansiedade e fissura;
2. Inicial: ocorre entre 8 e 10 horas após o uso, sendo caracterizada, clinicamente, por ansiedade, inquietação, bocejos, espirros, sudorese, lacrimejamento, rinorréia, obstrução nasal, náuseas e midríase (dilatação pupilar);
3. Total: de um a três dias após o uso, caracterizando-se por ansiedade, tremor, inquietação, piloereção, vômitos, diarréia, espasmo e dor muscular, aumento da pressão arterial, taquicardia, febre e calafrios;
4. Tardia ou protraída: o dependente, mesmo após alguns meses sem o consumo da substância, pode apresentar hipotensão, bradicardia, fadiga, inapetência, insônia e fissura.
Na verdade, a síndrome de abstinência de heroína (as três primeiras fases acima descritas) é um quadro bastante dramático e deve ser tratado por médicos altamente especializados na área e, freqüentemente, em regime de internação.
Tratamento
As principais formas de tratar dependentes químicos são: psicoterapias, grupos de mútua ajuda (Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos), tratamento em regime de internação, tratamento em regime de ambulatório e tratamento psicofarmacológico.
No caso da Síndrome de Dependência de Opióides (como a Heroína), a utilização de medicações específicas deve ser realizada, dada a intensa fissura e sintomas físicos relacionados com a abstinência “aguda” ou “protraída”.
Abaixo, forneço recomendação de leitura sobre as formas de manejo da síndrome de dependência de heroína:
Baltieri, D. A., Strain, E. C., Dias, J. C., Scivoletto, S., Malbergier, A., Nicastri, S., Jeronimo, C., & Andrade, A. G. (2004). [Brazilian guideline for the treatment of patients with opioids dependence syndrome]. Rev Bras Psiquiatr, 26(4), 259-69.
Atenção!
As respostas do profissional desta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um profissional de psiquiatria e não se caracterizam como sendo um atendimento