por Arlete Gavranic
Tanta modernidade: smartphones, skype, snap, we chat, whatsapp, redes sociais que nos acompanham 24 horas… mas o sentimento de amor continua sendo a grande busca humana.
As relações hoje são mais policiadas, existe gps em celulares. Adolescentes e adultos jovens entram em crise se o namoradinho, noivo ou companheiro não atender a chamada. Acionam o gps para saber onde está o parceiro, ligam via skype para vê-lo (e ver quem está com ele/a). Enfim, recursos tecnológicos para tentar conter a ansiedade e o medo de perder o amor.
Uma geração que não sabe lidar com o "amanhã-a-gente se-vê " ou com um telefonema à noite para saber conversar sobre como foi o dia. Hoje eles trocam mensagens o dia todo, privacidade cada vez menor e apesar dessa invasão de privacidade e desse anseio de ter o outro em tempo integral, muitas relações são superficiais ou se esgotam rapidamente, pois acaba o interesse e o entusiasmo, pois o outro sabe tudo que faço quando e com quem e ai fica só sensação de controle.
Ah! Mas tem o sexo. E como é delicioso viver o sexo, a conquista, a descoberta, a intimidade. Pena que hoje essa fase de conquista esteja durando tão pouco… Não é moralismo não, é fato!
Hoje a vivência sexual é uma regra, absurdo é não querer fazer sexo ou querer dar um tempo para conhecer a outra pessoa antes de ir para o sexo. Hoje as pessoas se conhecem falando de sexo nos sites de relacionamento ou saem e depois vão conhecer a pessoa do outro.
Mas e a conquista? A expectativa? A sensação de desejo que alimenta e faz acontecer a intimidade?
Essas etapas muitas vezes são perdidas, pois se vai direto para o ato, para a performance, para as posições e práticas. Ai se a ralação for boa, vai ter espaço, a vontade de repetir, de ter um encontro para conhecer a pessoa.
E nesse tumultuo de relações, ou ralações, a busca de afeto continua, a carência pessoal de encontrar alguém que ame, partilhe, construa junto… em quem a sensação de estar junto seja mais consistente.
Sim, é enorme a quantidade de ressentimentos dirigidos ao outro que não retornou a ligação, à garota que esnobou ou ironizou o convite, a sensação que aquele "envolvimento todo" não significou, não tocou o outro. Aí começaremos a perceber homens e mulheres (principalmente mulheres) a viver um autorressentimento.
A autoestima e autoconfiança sofrem prejuízos enormes nessa dança de conquistas fáceis. Aliás, muitas pessoas estão carentes de significado de vida, de metas, de sonhos. Elas vão experimentando, ficando, como se fosse despertar magicamente o sentido de encontrar alguém especial. Nem eles sabem ao certo o que buscam e nem quem são.
Entristece-me muito ver mulheres de 18 a 60 anos fazendo cursos de strip-tease, dança sensual como se esse fosse o recurso para seduzir o outro; e como essas mulheres se machucam ao perceber que a performance foi ótima mas o outro não voltou.
Assim muitas mulheres irão perceber que elas venderam uma imagem, mas não se apresentaram de verdade para o outro. E quando elas percebem isso, viva! É o momento de aprender a se conhecer e de se mostrar mulher afetiva, sonhadora, construtora, de se valorizar e buscar pessoas que estejam inteiras buscando parcerias de vida e não viver só de aventuras sexuais.
Mas acordar essas mulheres (e homens também) é algo imprescindível para a profilaxia das crises depressivas por sentimentos de rejeição , de baixa autoestima ou de um terrível câncer da vida das pessoas que é a autoconfiança, a sensação de ser capaz, competente e merecedor fragilizada.
Não estou falando que aventuras não sejam prazerosas ou façam parte do repertório de vida das pessoas. Minha preocupação efetiva é com as pessoas que vivem no modismo prático das relações descartáveis, e que no final acabam vivendo um grande vazio existencial.
Medo de se "prender" a alguém e perder a utópica liberdade da solteirice?
Medo de gostar e se machucar caso não dê certo?
Medos precisam ser enfrentados, senão passaremos fugindo da possibilidade de viver de modo consistente.