por Regina Wielenska
“Parece estranho que brigar fisicamente se sobreponha ao brigar verbalmente…”
Nada mais comum do que ouvir frases como: “eu tenho medo de voar e não consigo entrar no avião”, “não consegui sair da cama porque não tive vontade”, “dei um soco nela porque estava com raiva”, “comprei esse monte de roupas porque me sentia triste”.
Em todas elas se atribuiu a causa de comportamento a um estado emocional que antecedeu à ação.
O medo me impede, a raiva me obriga, sem vontade não consigo agir etc. Mas é libertador descobrir que isso não é bem assim. Em primeiro lugar podemos nos perguntar que contexto de vida produziu o sentimento em questão, seja ele de tristeza, medo, raiva, apatia ou qualquer outro. Por exemplo, a raiva pode ter surgido durante uma conversa com a esposa. Incapazes de se comunicarem efetivamente, sentem raiva.
A releitura do episódio ficaria assim: incapazes de se comunicarem bem, os amantes sentiram raiva e teve início a agressão, que a curto prazo deu fim à conversa ruim. Parece estranho que brigar fisicamente se sobreponha ao brigar verbalmente, mas a enganosa efetividade de curto prazo do empurrão ou tapa pode influenciar a maior probabilidade do desfecho agressivo pra um diálogo malsucedido. Na verdade, o déficit de habilidades de comunicação gerou a agressão, e a raiva em si, na verdade, seria um subproduto do contexto.
No exemplo do medo precisamos ver qual a habilidade da pessoa em se confortar em situações como a do avião, nas quais de fato há reduzido controle sobre o que for ocorrer. Abrir e fechar portas, decolar ou pousar, nada disso está ao alcance do desejo do passageiro. Ele pode escolher entre canal de música ou vídeo (se a aeronave for equipada com esses recursos), guaraná ou refrigerante de cola, café ou suco. Pode também praticar meditação, relaxamento, ler algo bacana, tirar uma soneca, bater papo com o passageiro ao lado se a pessoa for receptiva pra isso. Ou seja, o indivíduo com medo de avião precisa aprender habilidades e colocar cada uma em ação se quiser voar com mais conforto. Esperar que o medo passe até que possa voar de nada funciona.
Nos dois exemplos, ou em qualquer outro, pode-se afirmar que os sentimentos relatados são, na verdade, decorrência de habilidades precárias, indevidamente estabelecidas. A solução não reside na mudança de sentimentos. O que precisa mesmo é descobrir onde o jogo de cintura está reduzido, qual habilidade está falha.
Muitas vezes a psicoterapia permite a remediação mais precisa e rápida dessas inabilidades. A pessoa adquire ferramentas, e assim consegue lidar melhor quando precisa voar, quando tem discordância conjugal, quando está triste ou entediada. Muitas vezes torna-se possível acolher amorosamente as emoções e as condições adversas circundantes. Por vezes, torna-se viável enxergar nitidamente quais os rumos possíveis, desde que se disponha das habilidades necessárias. Essas podem ser desenvolvidas, e isso traz emoções de confiança, esperança, conexão emocional e assim conseguimos crescer de um modo novo e gratificante.