Sentimentos negativos podem ser bons

por Lilian Graziano

Como adepta do movimento da Psicologia Positiva (PP) desde seu início, sempre observei (e entendi as razões para) o maniqueísmo adotado por seus expoentes, ao tratar sentimentos e comportamentos como exclusivamente negativos ou positivos, bons ou maus.

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Esse posicionamento foi o que mudou o mainstream da Psicologia tal como a conhecíamos, no final dos anos 1990, diferenciando o movimento da PP e nos trazendo teoria e práticas focadas no desenvolvimento de potencialidades humanas.

Até então havia um sem-número de especialistas em tratar doenças, mas poucos em fazer florescer os indivíduos, cenário ao qual Martin Seligman, pai do movimento, chamou de psicologia negativa, propositalmente.

Toda essa história mobilizou a comunidade científica em torno de descobertas sobre os aspectos funcionais dos seres humanos.

Emoções e comportamentos ditos negativos, no entanto, nunca deixaram de ocupar papéis funcionais, enquanto outros, positivos e valorizados pela PP, como o otimismo, por exemplo, mostraram-se pouco adaptativos em determinadas situações. Na vida e na Psicologia tudo depende, de fato, de um contexto, e isso nos traz profundas e peculiares implicações em corpo e mente.

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Por conta dessa compreensão, a linha ambígua e tênue entre positividade, funcionalidade e seus opostos estaria sendo melhor considerada e estudada, agora, em uma nova fase da PP, chamada de “Segunda Onda da Psicologia Positiva” – ou SOPP. O termo foi utilizado pela primeira vez em 2004, por uma crítica da PP, a cientista Barbara Held. Aparece renovado, no entanto, na obra de alguns pesquisadores tais como o canadense Paul Wong, que considera ser possível amadurecer o movimento em suas bases, agora que este já se firmou como um novo e urgente paradigma.

Para Wong e colegas, além do contexto que marca os rótulos “bom” e “mau”, “positivo” e “negativo”, é preciso levar em conta, também, entre outros fatores, a dicotomia na qual foi fundado o movimento da PP, a começar por um de seus conceitos-chave, o bem-estar subjetivo, que não descarta os humores negativos, na avaliação do nível de satisfação com a vida. Também algumas das emoções consideradas positivas, e que são objetos de estudo da PP, são de natureza dicotômica, como a esperança, por exemplo. Ela carrega a fé num futuro próximo e bom, aliada a uma certa ansiedade sobre a possibilidade de esse momento não se concretizar.

Uma pergunta que deve surgir com mais frequência no cerne das novas pesquisas em Psicologia Positiva é: “Quando os humores negativos são, de fato, funcionais? Ou ainda seria: quais implicações eles carregam, mesmo que tragam resultados positivos para os indivíduos? Que intervenções conduzirão emoções e comportamentos ditos negativos à funcionalidade? Essas reflexões, sem dúvida, nortearão o meio acadêmico positivo, sem descaracterizar, porém, o movimento: o foco segue no florescimento humano.

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Quanto a você, leitor, já parou para pensar em situações marcadas por sentimentos e comportamentos ditos negativos, que impulsionaram seu crescimento ou o levaram à melhor decisão? Vale pensar a respeito ter esse aprendizado na memória quando surgir o próximo desafio.

Artigo baseado em tema de capa da revista Make it Positive, do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento – IPPC – disponível em www.makeitpositivemag.com