por Saulo Fong
Existem três elementos presentes nas relações interpessoais: a ordem, o equilíbrio entre dar e receber e o pertencimento. No texto anterior, falei sobre a o equilíbrio entre dar e receber (veja aqui).
O terceiro fator, tão importante quanto os dois anteriores, é o pertencimento. Todo sistema é composto por pessoas e podem ser de vários tipos: uma família, empresa ou grupo.
Todos nós nascemos em um sistema familiar. Este é o primeiro sistema a qual pertencemos. Nesse sistema incluem-se os pais, os irmãos(ãs), os filhos(as), natimortos ou abortados, os tios(as), os avós, os ancestrais, e todos aqueles que de certa forma também tiveram suas vidas influenciadas e vinculadas a algum membro do sistema, como por exemplo, ex-parceiros ou alguém que teve algum destino difícil como uma pessoa que tenha perdido à vida devido à ação de alguém do sistema.
Através dos trabalhos de Constelações Familiares, percebe-se que todos nós somos guiados através de uma força amorosa inconsciente a favor da reconciliação e do equilíbrio sistêmico. É um amor velado que pode fazer com que pessoas sintam ou tenham destinos parecidos como os daqueles membros do sistema que de alguma forma foram excluídos ou esquecidos. Por exemplo, um filho abortado que não seja considerado ou reconhecido pelos pais, pode influenciar um futuro filho que esses pais possam ter. Tal filho pode se identificar com a situação do irmão que foi abortado sentindo-se também rejeitado.
O fato de nem ter conhecido o irmão não tem importância na questão do pertencimento. A identificação é inconsciente e essa se dá justamente com pessoas com as quais a pessoa nem mesmo sabia da existência ou teve algum contato. Algumas identificações podem ocorrer com ancestrais de duas ou três gerações precedentes.
Ele tem essa atitude de rejeição por amor e lealdade ao irmão abortado, fazendo com que ele seja lembrado e reconhecido pelos outros membros do sistema. Quando esse fato vem à luz no processo terapêutico, o irmão mais novo pode enfim compreender que o sentimento de rejeição não lhe pertencia. Existem diversas outras dinâmicas que podem acontecer quando um membro do sistema é excluído de alguma forma.
Um outro exemplo de pertencimento seria o de uma pessoa que tem tendência a cometer suicídio. Ela pode estar se identificando com algum outro membro familiar que tenha cometido suicídio, mesmo que ela não tenha conhecimento da existência desse familiar. Isso pode ocorrer em casos onde a pessoa que cometeu suicídio foi de alguma forma excluída pelos seus familiares, como se ela não tivesse existido ou como se fosse um tabu na família falar sobre tal pessoa. Nesses casos, é comum um futuro membro familiar se identificar com o membro excluído com o intuito de manter viva a lembrança de seu ancestral. É importante salientar que isso não é uma teoria, mas é algo que se percebe-se nas dinâmicas de constelações familiares.
Essa lealdade de um membro do sistema para um outro membro excluído acontece por um profundo sentimento de amor. Um amor que une e reconcilia aqueles que de alguma forma foram separados.
Cada um tem um papel essencial e importante em todo sistema. Reconhecer, respeitar e acolher é um caminho para a paz interior, nos relacionamentos e na Vida.