por Roberto Shinyashiki
O amor fica para trás quando um dos parceiros pensa que a conquista está definida e relaxa. Como um general romano que, depois de ter conquistado um país, parte para a invasão de um novo território.
Porém, todo bom general sabe que, mais do que conquistar, é preciso trabalhar no sentido de manter o território conquistado.
É muito comum homens e mulheres pensarem que, com o casamento, a pessoa amada já está conquistada e, então, partem para outros desafios, sejam profissionais, financeiros ou sociais. E quando se olha para trás, vê-se que ela já não está ali esperando. Ela não ficou estática, como se fosse um apartamento que foi comprado e que permaneceu ali, à espera de mobília.
O amor vai ficando para trás quando se pensa que o casamento dá o direito de fazer cobranças ao outro e se passa a viver exigindo que ele cumpra o que seriam suas obrigações. Ele poderá até cumpri-las, mas o fará sem prazer, com a mesma vontade que caracteriza alguém que faz algo somente por obrigação. Para se viver a dois, tem-se de manter acesa a capacidade de seduzir e de conquistar.
Fico pensando nas pessoas que nada recebem de presente no Dia dos Namorados, nem um singelo cartão. Muitos devem se sentir tristes, uns porque não têm namorado; outros, porque eles não se lembraram! Agora penso que se alguém não recebe presente no Dia dos Namorados, a responsabilidade não é só de quem não lembrou de comprá-lo, mas também daquele que não soube provocar nele a vontade de dar presentes.
Saber seduzir é saber provocar no outro a vontade de dar presentes, de sair, de fazer um poema, de dar um beijo. Puxa vida, e tantos outros milhões de coisas! Quando a pessoa esquece a capacidade de provocar vontades, começa a cobrá-las e, o que é pior, a cobrar do outro essas mesmas coisas acompanhadas de romantismo.
O amor fica para trás quando não se percebe que as pessoas mudam todos os dias, a cada momento. E um parceiro exige do outro que permaneça igual ao que foi ontem, que deixe de lado a sua curiosidade em relação à vida. E quando alguém aceita uma vida limitada, contida, é quase inevitável que se sinta infeliz.
O amor fica para trás, quando somente se curte atingir um objetivo, esquecendo-se do prazer de realizá-lo juntos, pouco a pouco. Acumulam-se bens, tem-se a casa de campo, a casa de praia, o carro do ano, com computadores que indicam tudo. Mas o uso individualista desses bens acaba mais isolando o casal do que proporcionando momentos de intimidade. Há partes da casa que são do marido, e a mulher não se sente bem de estar lá, e vice-versa, como se fossem duas casas em uma.
O amor fica para trás, preso em detalhes muito sutis, como os adiamentos que nos dão a impressão de que logo ali na frente retomaremos nosso rumo: só mais um pouco, no ano que vem tudo se arruma depois que nos casarmos, depois que os nossos filhos crescerem, depois que tivermos a nossa casa…
Deixamos para começar a viver somente depois que algo esperado acontecer, sem nos importarmos com o que estamos vivendo. A promessa de começar a viver em um possível futuro nos ilude. E ao nos darmos conta, estamos muito longe do que queríamos. Parece-nos impossível, então, retomar o rumo.
As pessoas ficam se prometendo que logo ali, em um futuro bem próximo, tudo será diferente, e não percebem que estão se afastando de si mesmas e de sua felicidade.
Pensar que ser paciente vai resolver os problemas é uma ilusão. Ao invés de ficarmos quietos, deveríamos estar gritando bem alto: “Ei, vamos parar um momento! Dá para fazer tudo isso, mas de um jeito que a gente se sinta juntos”. Mas ficamos esperando que tudo se resolva com o tempo e que logo no final da floresta encantada encontremos os remédios para nossos males.
Todo mundo sabe realmente o que precisa ser feito e que, no fundo, é tudo muito simples.
Cada um sabe da importância do momento, mas, vai-se distraindo aos poucos e, de repente, está totalmente perdido. Chega uma hora em que o que parecia só acontecer com os outros acontece conosco. Portanto, fique atento ao seu amor. Se ele é prioridade em sua vida, cultive-o.