Setembro Amarelo e o amor passional do jovem

Setembro Amarelo: soa estranho falar em amor passional do jovem, nesse mundo atual permeado por relações tão líquidas 

Setembro Amarelo é uma campanha de prevenção ao suicídio. O número de suicídios no mundo supera o número de óbitos por homicídios e guerras, chegando a 804 mil vidas perdidas por ano. Isso segundo pesquisa publicada no site comportamentoesociedade.com em 2014, sendo essa a maior causa de morte entre jovens entre 15 e 29 anos.

Segundo pesquisa do Ministério da Saúde, e de acordo com a revista Pediatric, gays, lésbicas e bissexuais têm, devido à homofobia, seis vezes mais chance de cometer atos para tirar a própria vida. E nesse público LGBT, 60% dos óbitos são de gays, seguidos por 30% de lésbicas.

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No Brasil, a campanha do Setembro Amarelo acontece desde 2015 e foi implantada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e CVV – Centro de Valorização da Vida. Essa campanha nasceu após a morte de um jovem americano de 17 anos em 1994, que tirou a própria vida dirigindo seu carro amarelo. Desde então, sua família distribuiu fitas amarelas e iniciou essa campanha para conscientizar e alertar da necessidade de apoio às pessoas que passam por dificuldades emocionais.

As 4 etapas do suicídio

De acordo com a OMS, o suicídio, definido como ato de tirar a própria vida, é uma consequência de fatores culturais, sociais, biológicos, psicológicos, psiquiátricos e econômicos e se apresenta em quatro etapas:

1ª Ideação suicida: pensar em se matar… se esse comportamento continuar ocorrendo, passará para outra etapa;

2ª Planejamento: começa a pensar onde, como, o que precisa para realizá-lo. E se esse desejo de fim continuar e conseguir os “recursos que entende como necessários”, segue-se para a etapa abaixo;

3ª Tentativa do suicídio: que pode atingir ou não seu intento,

Caso consiga, chega-se na quarta etapa, que é o suicídio completo.

Parece uma descrição fria. Mas o importante é pensarmos que, nesse processo, há muito o que podemos fazer para interromper esse ciclo e ajudar essa pessoa. Portanto, é preciso prestar atenção às pessoas ao nosso redor: filhos, companheiros, parentes, colegas de estudo ou trabalho… Enfim, perceber se andam quietos em excesso, se mudaram comportamentos, se estão se distanciando dos amigos e familiares. Assim, procure conversar, ofereça um ouvido amigo, proponha ajuda.

Algumas pessoas darão dicas que estão mal. Elas podem ter falas como: ‘quero morrer’, ‘a vida não tem mais sentido’, ‘queria dormir e não acordar’, ou comportamentos de risco (dirigir em alta velocidade), comportamentos autodestrutivos como automutilações, uso abusivo de álcool e drogas “até cair”.

Enfim, tudo isso é uma alerta para prestarmos atenção. Muitos jovens LGBT se ressentem da intolerância familiar, de situações de vivência homofóbica no ambiente escolar e social. Se engana quem diz que ‘quem fala não faz’, ou que uma tentativa malsucedida é só para chamar atenção. Quem dá esses sinais mostra que está necessitando de ajuda. E se não conseguir esse apoio, essa possibilidade de ser escutado em suas angústias e necessidades, pode entrar em desespero e ter atitudes na direção suicida.

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Setembro Amarelo e o amor passional do jovem

Tenho uma preocupação muito grande com as desilusões afetivas de jovens. Podemos observar que o público jovem tem muitos comportamentos impulsivos e autodestrutivos quando vivem decepções e rompimento de relações afetivas, tanto hetero como homossexuais.

Muitos jovens vivem romântica e idealizadamente suas relações afetivas

Parece estranho aos olhos de muitas pessoas pensar nesse comportamento tão dramático para o mundo moderno que vivemos, mas apesar da atualidade das relações líquidas que tanto questionamos, há um grande número de jovens que vivem romântica e idealizadamente suas relações afetivas.

Durante muito tempo as mulheres foram o grupo mais romanticamente afetado pelas paixões e idealizações. Às vezes mais intensamente no primeiro amor, mas observamos que essas vivências se estendem até mais tarde para muitas e também para rapazes, tanto nos relacionamentos hetero como homossexuais.

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Baixa autoestima leva à idealização do parceiro amoroso

Não deixo de associar essa idealização principalmente a uma autoestima frágil, que faz com que esse parceiro (a) seja visto(a) como alguém imprescindível para que a vida tenha perspectiva futura. É essa idealização que faz o outro se tornar o centro da vida desse jovem. Ou seja, temos aí uma relação de codependência.

É importante observar que modelos familiares com pouca proximidade de convivência, ou pouco afetivos ou acolhedores, podem ser bastante comuns a essas vivências de relacionamentos intensos e tão dependentes que muitas pessoas apresentam. É muito comum encontrarmos relacionamentos desse perfil na adolescência, mas não raro encontrar essas paixões despertarem na vida universitária.

Quando esse tipo de relacionamento intenso e idealizado vive um rompimento por insatisfação de uma das partes, poderemos ter o surgimento de comportamentos preocupantes.

Frequentemente esse rompimento ocorre porque uma das partes busca uma relação mais leve, sem cobranças. É comum que essas relações muito idealizadas tenham possessividade ou a ingênua ideia que namorar é ‘fazer tudo junto’. Isso sem muito espaço para viver as individualidades ou porque deseja buscar conhecer outras pessoas, viver outras experiências, aventurar-se: desejo bastante frequente e inteligível entre jovens. Além do mais, esses períodos de cursinho, universidade e primeiro emprego permitem ampliar o leque de relacionamentos.

Setembro amarelo e o amor passional do jovem: comportamentos preocupantes

Os comportamentos preocupantes podem ir da vivência de uma tristeza pela perda acompanhada de ‘reclusão’. Isso pode se tornar um longo e doído processo de reflexão, tristeza e refazimento de metas, ou de um comportamento impulsivo de saídas, festas, transas, abuso de álcool e drogas. Está imbuída nessa atitude uma tentativa de recuperar com urgência experiências não vividas no período de namoro ou de experimentar vivências pelas quais se sentiu trocado(a). Ou pode levar a reações mais intensas de que romper esse relacionamento signifique a perda total de sentido no projeto de vida. Assim, pode-se chegar a processos depressivos mais intensos, casos de autoagressão e tentativas de suicídio.

O medo da solidão, o sentimento de rejeição vivido por muitos jovens em suas famílias devido à orientação homossexual. Ou então por diferenças outras, de aspiração profissional (não serei advogado, ou médico ou engenheiro como pai…mãe…avô); de estética (por se sentir ‘patinho feio’ da família vivido por muitos jovens). Ou então um sentimento de inadequação no ambientes escolar e profissional podem ser fatores que geram forte sensação de desproteção ou falta de apoio para pensar em caminhos e metas pessoais. Isso tudo pode gerar atitudes desesperadas de medo ou de dor existencial.

Portanto, todos fiquem atentos a mudanças de comportamentos muito intensas: triste demais, quieto demais, agressivo ou eufórico demais. Percebeu mudanças significativas? Abra espaço para o outro falar, se coloque disponível, mostre que percebeu a mudança, que ele(a) é visto, notado e que tem sempre um espaço novo, uma pessoa nova, um sonho novo a ser descoberto na vida, no mundo!

Psicóloga, Mestre em Educação; Educadora e Terapeuta sexual pela Sbrash, Coordenadora e docente dos cursos de Pós-graduação lato sensu em Educação sexual e em Terapia sexual do ISEXP/ Sbrash. Docente dos cursos de pós-graduação em Educação sexual e Terapia sexual da UNISAL e coordenadora do pós de Terapia Sexual da UNISAL.