Por Roberto Goldkorn
Quando o anjo bíblico por fim consegue poupar a família de Ló, da destruição iminente de Sodoma e Gomorra, só faz uma recomendação: "não olhem para trás."
Nessa frase está uma chave muito importante. Quando eu deixo algo para trás, estou dando as costas para esse algo. Dar as costas significa principalmente negar, e se você nega o negativo, obtêm como na matemática um resultado positivo, e segue em frente que a fila está andando.
E é justamente sobre esse seguir me frente que quero falar. Ao longo das nossas vidas, quantas vezes pensamos em desistir, ou achamos que nos atolamos de tal maneira em situações destrutivas que simplesmente não havia como se livrar e ir em frente.
Quantas vezes os inimigos do nosso progresso, da nossa felicidade estavam ao nosso lado, na nossa família ou até dormindo conosco. Quantas vezes fizemos alianças estratégicas, achando que poderíamos sair delas assim que o inimigo maior fosse derrotado, para descobrir que estávamos presos ao falso aliado, na verdade o pior inimigo.
Assim achando que estávamos presos "pelo destino" não conseguíamos dar as costas ao negativo/destrutivo, e seguir em frente. Mas muitos de nós contaminados até a medula pela radiação da miséria humana, não resistíamos em dar "aquela espiadinha" para trás, demonstrando claramente nosso vínculo não rompido com a banda podre da existência, com a derrota da humanidade em nós, e pior ainda, a derrota da Divindade em nós.
A "areia movediça" que nos arrasta para o fundo da anti-vida, nada mais é que o resultado de escolhas erradas no macro plano espiritual e no micro plano material.
Na minha vida passei por muitos momentos onde me juntei com inimigos, inimigos simpáticos, prestativos, sedutores, "amigos", irmãos. Mas inimigos conceituais, inimigos por estarem na vida por motivos opostos aos meus, não apenas diferentes, mas em flagrante oposição. Isso é muito comum, e sempre representa uma provação, um teste de gigantesco esforço, onde aquilo que você verdadeiramente é e quer será posto na rinha.
Muitas pessoas me perguntam em desespero o que fazer para não afundar, para não desistir diante de desafios tão grandiosos, onde se sentem sós, humilhadas, fracas para sair para sair, levantar a poeira e dar a volta por cima: é tão mais fácil, olhar para trás, voltar para os braços do "amigo" inimigo…
Eu digo a elas com a experiência de quem viveu e vive a cada dia essa realidade, existem Anjos Tratores, seres que estão sempre dispostos a te rebocar, desde que você queira mesmo ir em frente e negar o que ficou para trás". Mas eles só vêm em teu socorro, se tiveres tomado a iniciativa de sair sozinho, se a resolução for: "ou vou em frente, e não olho para trás ou morro tentando."
Nesse momento único na vida do indivíduo os Anjos Tratores seres da mais diáfana Luz e vibração, estendem a sua mão luminosa, e mesmo que você não lhes sinta a presença, as pernas se movem, os entulhos desaparecem, os espinhos somem, e você vai em frente. Ir em frente nada tem a ver com negar o passado, ao contrário. Como disse um guru, "quem desconhece o seu passado está condenado a repeti-lo indefinidamente". Por isso por esse esquecimento é que acabamos nos ligando a quem já nos afundou ou tentou antes.
Negar o mal, quando se é do bem, é uma peleja diária, que se dá dentro e fora de você, e não tem prazo para terminar.
Se você estivesse atolado no mais profundo desespero, e um Anjo Trator viesse ao seu encontro (se você pudesse vê-lo), o provável diálogo seria mais ou menos assim:
Atolado: Que bom que você veio, por misericórdia tire-me logo daqui, EU NÃO AGUENTO MAIS.
Anjo: (com suavidade) Tudo bem, mas antes preciso saber de algumas informações.
Atolado: Que informações? Não basta me ver nesse estado (apontando para si mesmo)?
Anjo: Quero saber se quer mesmo sair daí, e essa resposta tem de ser a verdade, e eu saberei se é a verdade por que ela deverá pulsar como o seu coração.
Depois quero saber se ao sair daí você vai em frente, ou vai voltar ao início de tudo, por que se for, já não é mais o meu departamento. Terá de chamar um velho conhecido, você o reconhecerá pelas gargalhadas debochadas e pelo cheiro de enxofre. Posso ajuda-lo a sair e estarei sempre pronto a socorrê-lo se cometer novos erros. Só não posso estar ao seu lado se repetires os mesmos erros.
O Anjo sempre vem, o caso é saber se o atolado vai querer mesmo a sua ajuda.
Consulta
Uma moça veio me consultar sobre um namorado com quem queria desesperadamente casar. Ele era uma canalha, ela mesma admitia isso, ninguém da sua família (nem da dele) o aceitava, "mas", ponderava em tom triunfante, "ele me ama, e nunca me fez, nem nunca me fará mal!"
Na verdade não consegui deixar de sentir uma certa "raiva" dela, pela posição de xeque em que me colocava. Nada do que eu dissesse ali poderia ajudá-la, ela me encurralou com a própria armadilha na qual havia caído. Ela não queria respostas, queria confirmações. Eu já havia visto esse filme dezenas de vezes. Ela não daria as costas ao inimigo, e quando fosse vitimada, e estivesse afundada por ele, se enrolaria na vergonha e no arrependimento ou clamaria aos céus por justiça, se descabelaria dizendo que Deus a abandonou e outras esperneações vãs.
Apesar de tudo, os Anjos Tratores não são como eu que julgo, fico com raiva e condeno, eles estão sempre prontos a desatolar quem cometeu todas as cagadas mas agora quer sair, e romper com o negativo e escolher a vida. Eles não reclamam se mais na frente tiverem que desatolar novamente o incauto. Para isso basta que você sinalize, dê o primeiro passo, e ao sair não olhe para trás.