por Roberto Goldkorn
“Muitas vezes por trás da queixa de solidão e isolamento existe uma preguiça em amadurecer de verdade…”
Uma das queixas mais comuns de meus clientes de meia-idade é o seu isolamento social. Reclamam que não têm amigos, que a família está dispersa, ninguém os procura mais para sair como antes etc.
É claro que nessa reclamação está implícita a falta de uma relação estável, ou mais diretamente, de uma relação afetiva/amorosa/sexual. Muitos vão dizer que são coisas distintas, que o amor pode existir, mas o isolamento social também. Porém, a base de tudo é uma relação que se autoalimenta entre a ausência de um amor que preencha as lacunas sentimentais e emocionais e que também seja o passaporte para uma vida social mais saudável.
Tanto mulheres quanto homens têm menos disposição de criar novos vínculos sociais quando estão sozinhos e quanto mais velhos ficam, menos dispostos a recomeçar esse processo. Assim tornam-se mais e mais solitários.
Apesar de existirem iniciativas pontuais para reunir pessoas com esse perfil – solitárias e maduras-, olhando-se para um panorama mais amplo, o caminho é estéril e sem muitos incentivos à ação. Há muitos anos que a nossa sociedade optou pelo investimento maciço na juventude, um mercado vigoroso e atraente. Felizmente, para as novas velhas gerações, existe a internet com seus tesouros de possibilidades conectivas e seus perigos nas esquinas virtuais.
Tenho sido um entusiasmado incentivador da conectividade para os meus clientes queixosos de solidão e isolamento. A internet é um sonho antigo de ligar todas as pessoas do mundo sem que precisemos nos expor fisicamente, enfrentar chuvas ou um trânsito infernal. Mas muitos ainda resistem como se lutassem bravamente para proteger a sua solidão. Usam como argumento desde vírus até os piratas nigerianos que atacam sem dó mulheres carentes e ingênuas. Eu seria a última pessoa a negar os riscos da internet, é uma caixa de pandora de dimensões colossais da qual tudo pode sair: de bandidos ao grande amor da sua vida.
Uso inteligente das redes sociais: arma poderosa contra queixas de isolamento
O uso inteligente da internet, seja sob forma das redes sociais, seja como elemento de conectividade, ou de aprendizado e expansão de horizontes, é uma arma poderosa contra as queixas de infelicidade por isolamento ou solidão. Mas concordo que é preciso cuidado.
Como qualquer mecanismo complexo, aproveitamos mais dele quanto mais soubermos de seu funcionamento. Por isso, se houver essa disposição inicial de enfrentar o “monstro”, há que aprender seus truques e fraquezas. Além da própria internet ser autoexplicativa, ou seja, ensinar-nos como usá-la de forma ideal, podemos sempre recorrer a um expert de confiança.
Nesse momento começamos a quebrar a espinha dorsal do isolamento.
Um cliente de meia-idade que reclamava de solidão crônica me descreveu o seu roteiro diário: acordava, ía para o escritório, voltava para casa à noite, fazia o jantar, assistia TV e ía dormir. Nos fins de semana se exercitava na academia que montou em sua casa. Exibia com orgulho uma centena de filmes antigos que adorava assistir em sua TV de sessenta polegadas. Já nem lembrava mais quando havia ido ao cinema. Achava a internet muito “fria” e perigosa, um oceano misterioso onde nem se atrevia a mergulhar, a não ser na segurança de seu escritório para mandar e receber correspondência.
Com uma rotina de ferro dessas, criada para ser ao mesmo tempo autossuficiente e isolante, não poderia colher qualquer outro resultado que não fosse a solidão e o isolamento.
A internet é a chave que abre portas e janelas para o mundo, um caos que é organizado quando se olha de perto com uma lente de conhecimento. Cabe a cada um de nós aprendermos a usá-la minimizando seus riscos e otimizando os resultados que esperamos.
Os “acidentes” que acontecem se devem à ingenuidade cúmplice de suas vítimas. Mulheres ultracarentes que se atiram de cabeça em relacionamentos virtuais, e são lesadas pelos seus amantes apaixonados, cometem erros básicos. Se fosse no mundo de carne e osso cometeriam da mesma forma.
Como se envia dinheiro para um desconhecido, um namorado virtual, sem nunca ter tido uma conversa com câmera ligada?
Existem regras básicas para buscar um par amoroso na internet:
1º) Só converso com quem eu vejo no outro lado da câmera.
2º) Estabeleço claramente os padrões e perfis que desejo para mim e para minha vida. Pediu dinheiro desligo imediatamente. Um homem que sem ter me conhecido pessoalmente me pede dinheiro, mesmo que sua necessidade seja real, não pode servir para a minha vida. Isso não é ser avarenta é ser autopreservadora.
3º) Não viajo para lugares distantes para encontrar quem nunca vi pela câmera, sem apoio ou precauções.
4º) Em resumo: Não mostra a cara estou fora. Pediu dinheiro estou fora. Demonstra desvios acentuados no padrão de comportamento que estabeleci, estou fora.
Tomando-se os cuidados mínimos necessários, podemos ter na internet uma poderosa aliada. E, ao tomar esses cuidados e segui-los, você ganha um brinde adicional: cresce e amadurece.
Para não ser pego nas armadilhas dos predadores sempre farejando as presas, é preciso abandonar a criança carente interior que dita as regras e os comportamentos. Da mesma maneira que uma criança na internet é uma vítima potencial das malandragens de adultos perversos, um adulto infantil é uma vítima mais desejada ainda, porque pode passar o cartão de crédito.
Qualquer saída para além dos casulos criados é um perigo latente, e a internet não foge a essa regra. Mas não conheço ninguém que tenha encontrado o amor e as alegrias do convívio social que não tenha se arriscado.
Muitas vezes, por trás da queixa de solidão e isolamento, existe uma preguiça em amadurecer de verdade, não só compulsoriamente pelo tempo de serviço, mas por dentro.
Os medos criados por insucessos do passado não podem paralisar quem quer mais da vida. Devem ser enfrentados, não esquecidos, mas colocados no seu devido lugar.
Existe um preconceito que os mais velhos ainda guardam diante da tecnologia, das coisas novas que aí estão, mas não povoaram a sua juventude, isso é normal, mas deve ser igualmente enfrentado, e para isso pegar uma carona com quem já dominou a “fera” é sempre um bom começo.
Os medos moram em cavernas escuras dentro de cada um de nós e são eles que ora nos isolam, ora nos lançam nas garras do que mais tememos.