por Aurea Caetano
Sombra é um conceito complementar ao de persona, tema que tratei nos últimos textos. A relação do inconsciente com o consciente pode ser descrita como de uma compensação. Quando há uma exagerada unilateralidade ou queda de uma função, ela se vê compensada por um processo inconsciente correspondente. É a partir do movimento dinâmico dos opostos e nos opostos que se encontra a totalidade ou inteireza de cada ser.
O conceito de sombra em Jung, é similar ao conceito de inconsciente proposto por Freud, ou seja, mais ou menos a lata de lixo da psique (mente), contendo tudo aquilo de que não gosto em mim mesmo, o rejeitado, o não vivido, o não visto. Jung falava do método de Freud como a mais detalhada e profunda análise da sombra jamais realizada, acentuando sua importância para o desenvolvimento da psique.
Tudo aquilo que tem corpo tem sombra – planos não têm sombra, objetos tridimensionais sim; portanto a sombra é contingência de tudo o que é, verdadeiramente.
Na sombra está tudo aquilo que sou eu mesmo e que não reconheço como tal. Comi dissemos antes, o ego se identifica com a persona deixando no inconsciente o oposto a isso. Ou seja, os conteúdos que de alguma forma não estão identificados com aquilo que mostro ao mundo. Ela se desenvolve, de maneira geral, a partir de qualidades que se opõe à persona, com a qual mantém uma relação compensatória.
Negligenciar a própria sombra nos traz uma espécie de sentimento de culpa, a sensação de que estamos deixando de lado aspectos nossos que deveríamos levar em conta.
Como sabemos, tudo aquilo que é inconsciente em nós, pode ser facilmente projetado no outro, no mundo. É preciso reconhecer e tentar dar conta da luta interna com a sombra para não projetá-la no exterior em forma de conflitos.
Importante aqui lembrar que o confronto com a sombra também significa o encontro com a luz. Isto é, tudo aquilo que está na escuridão, por assim dizer, ao ser confrontado, favorece a ampliação de nossa consciência, aumentando o conhecimento acerca de nós mesmos.
Diz Jung:
“… as qualidades inferiores e até as condenáveis também me pertencem e me conferem substancialidade e corpo: é minha sombra. Como posso ter substancialidade sem projetar sombra? O lado sombrio também pertence à minha totalidade, e ao tomar consciência de minha sombra, consigo lembrar-me de novo de que sou um ser humano como os demais”. (OC, Vol. 16, par 134)
Muitos dos comportamentos ou atuações preconceituosas estão fundamentadas em uma projeção da sombra não reconhecida.
Falaremos a respeito disso mais adiante.