por Patrícia Gebrim
Quando foi que perdemos a capacidade de nos maravilhar com a vida? – penso em coisas assim o tempo todo.
Olhe ao redor. Perceba o mundo de forma mais ampla. Para além do seu celular, ou computador, estamos rodeados de beleza, de gestos amorosos, de ideias cheias de sabedoria.
Precisamos tocar o mundo para nos sentir vivos, mas, por mais que pareça uma ironia ou uma espécie de armadilha, é também preciso estar vivo para que possamos tocar o mundo. É preciso estar vivo.
Acredite, a maioria de nós não vive, apenas sobrevive. Para viver é preciso ter alma. Estou falando daquela vida maior que brota da nossa profundidade, da nossa essência, que nos conecta a tudo o que existe.
Você já sentiu a pulsação da sua alma alguma vez na vida? Ela pode ter vindo como uma expansão, com o maravilhamento por algo aparentemente insignificante. Ou como uma espécie de angústia, saudade de algo que não se pode definir, a sensação de que existe uma grandeza que estamos perdendo, ou a sensação de que somos pequenos demais para o tamanho de tudo.
Fomos tão moldados por nosso ambiente, que nos perdemos de nós mesmos. Com o avanço e a sedução da tecnologia, acabamos nos conectando mais e mais com o mundo virtual, nos permitindo ser sugados para dentro de caixinhas tecnológicas cheias de componentes eletrônicos, que nos afastam do mundo real, da infinita riqueza de experiências sensoriais, da beleza, dos seres humanos.
Afastamos-nos das pessoas e nos afastamos de nós mesmos. Cada vez menos ficamos em contato com nosso mundo interno, já não visitamos o espaço sagrado dentro de nós, o que é uma perda imensa, pois é lá que mora o que temos de melhor.
Sem contato com o sagrado que nos habita, nos tornamos secos como um pedaço de terra onde já não exista água. As flores morrem, a terra endurece. É o que vai acontecendo com nosso coração. Não sabemos mais quem somos em nossa essência.
Ouçam, não somos máquinas.
Esquecemo-nos de nossas asas, de nossa origem, de nossa divindade, de nossa infinita capacidade de criar harmonia em nossas vidas. Não podemos continuar permitindo que isso aconteça.
Acredito que essa seja a questão mais urgente nos dias de hoje, o desafio maior de nosso tempo atual: precisamos voltar a existir! Sim, pois dentro de cada um de nós existe esse diamante, soterrado sob camadas e camadas de crenças e condicionamentos.
Essa pedra preciosa repousa à espera de um dia ser encontrada, trazida à tona, onde possa expandir seu brilho em todas as direções. Essa é a diferença entre as pessoas que estão vivas e as que parecem mortas.
Uma pessoa viva, brilha.
Basta olhar em seus olhos e se percebe que existe vida por lá.
Não se perca nas ilusões da vida. Procure o brilho nas pessoas. Se você prestar atenção saberá reconhecê-lo, não é difícil, basta sentir. Por mais que existam sombras, o brilho sempre está lá.
Procure também o seu próprio brilho. Não perca tempo. Não deixe para depois. Faça isso agora mesmo. Olhe no espelho, lá no fundo dos seus olhos, e você encontrará a sua luz. Pode ser que essa luz seja fraca no início, um pequeno lampejo como acontece com os vagalumes, mal os vemos e já parecem ser novamente engolidos pela noite sedenta. Mas não desista.
Faça como as crianças que caçam estrelas deitadas em colchonetes rasgados naquele jardim que um dia você visitou na sua infância, lembra? Mantenha os olhos bem abertos, vasculhe a noite em busca das luzes brilhantes, elas estão lá, a luz está aí, dentro de você, dentro de todas as pessoas.
Até quando continuaremos a amortecer nossa alma, perdidos em distrações tecnológicas ? A esperar que os políticos resolvam nossas questões mais essenciais, essa classe corrupta que se importa com tudo, exceto com o bem do povo?
Até quando continuaremos a pagar escolas que pouco ensinam a nossos filhos, e muitas vezes os fazem deixar de acreditar em si mesmos?
Até quando continuaremos idolatrando religiões que criam separatividade e guerra, religiões que julgam, punem e se esquecem de nos lembrar do amor?
Até quando continuaremos a trabalhar em organizações que só desejam sugar nossa energia, nos transformando em seres mecanizados, exaustos e assustados, que mal tem forças para despertar no dia seguinte?
Até quando?
Extraído do livro de Patrícia Gebrim “Deixe a Selva para os leões – Inspirações para bem viver nos dias de hoje”