por Edson Toledo
A adicção (vício) às compras – também conhecida como oniomania (palavra de origem grega) ou transtorno das compras compulsivas – é uma das pouco divulgadas dependências, em que o mecanismo da dependência não resulta de uma substância, mas do modo compulsivo de realizar um comportamento – a compra). Temos exemplos na história de compradores compulsivos, Maria Antonieta, Jacqueline Kennedy Onassis e Diana de Gales, as duas últimas segundo consta, no que toca a vestidos.
As compras compulsivas reúnem características similares as de dependência de substâncias, nomeadamente no que se reporta aos gastos nas compras para obter os efeitos desejados: semelhantemente ao ter que aumentar a dose da droga para obter o mesmo efeito. Aqui se registra a incapacidade de controlar o impulso que ativa o comportamento, que nas compras se apresenta como uma impulsividade com o objetivo de aliviar um sentimento desagradável. É como disse *Bleuler (1924), o elemento particular na oniomania é a impulsividade; os compradores não podem evitá-la; os pacientes são absolutamente incapazes de pensar diferentemente e de conceberem as consequências sem sentido de seu ato e as possibilidades de não realizá-lo. Não chegam nem a sentir o impulso, mas agem de acordo a sua natureza, como "a lagarta que devora a folha".
Quando o comprador compulsivo se vê impossibilitado de realizar suas compras, a abstinência é sentida com um profundo mal-estar. Por outro lado, quando a compra ocorre, é vivida uma sensação de recompensa psicológica que origina nessas pessoas uma segregação maciça de dopamina, proporcionando uma sensação de prazer ou de diminuição de tensão (semelhante ao consumo de cocaína) circunstâncias que funcionam como reforço para sucessivas repetições da experiência.
Vários estudos sugerem que compras compulsivas ocorrem mais em mulheres jovens, no final da adolescência, período em que o individuo passa a ter maior autonomia e emancipação do núcleo familiar, ou porque é a partir dessa faixa etária que podem adquiri crédito pela primeira vez, outro aspecto a se observar é o de que nas sociedades industriais, as compras são uma tarefa predominantemente da função feminina. Porém, devemos ressaltar que o comportamento de comprar como um problema só ocorre mais tarde, em torno dos 30 anos, e a busca por tratamento por volta dos 31 aos 39 conforme estudos.
A compra compulsiva é classificada na categoria residual dos transtornos do impulso sem outra especificidade. Porém, discussões sobre a adequada classificação para os transtornos marcados pela perda de controle, como é o caso das compras compulsivas, ainda é um desafio. Se levarmos em conta a perda do controle do comportamento ou sua característica aditiva, como já falamos anteriormente, devemos classificar a compra compulsiva junto ao jogo patológico nos transtornos relacionados à substância e adicção.
Sou um comprador compulsivo?
Atualmente, levam-se em conta os seguintes critérios operacionais para diagnosticar um comprador compulsivo:
Preocupação, impulso ou comportamentos mal adaptativos envolvendo compras, como indicado por, ao menos, um dos seguintes critérios:
1. Preocupação frequente com compras ou impulso de comprar irresistível, intrusivo ou sem sentido;
2. Comprar mais do que pode, comprar itens desnecessários.
A preocupação com compras, os impulsos ou o ato de comprar causam sofrimento marcante, consomem tempo significativo e interferem no funcionamento social e ocupacional ou resultam em problemas financeiros. A compra compulsiva não ocorre exclusivamente durante episódios de **hipomania ou mania.
Para diferenciar uma compra normal de uma compra compulsiva, não podemos nos basear na quantia de dinheiro gasto ou na renda do comprador, mas sim na extensão da preocupação, no grau de angústia sofrida pela pessoa e nas consequências adversas e negativas.
Fases da compra compulsiva
Encontramos na literatura quatro fases que caracterizam um episódio de compra compulsiva:
1. Antecipação: o comprador compulsivo tem pensamentos, anseios ou preocupações com a aquisição de um determinado objeto ou com a necessidade de realizar uma compra em si.
2. Preparação: para ir às compras, ou seja, pesquisar o objeto desejado, definir a roupa que irá vestir, a tomada de decisão de quando for, escolher o local e como será feito o pagamento.
3. A compra: momento em que os compradores compulsivos relatam a experiência emocional do ato de comprar, a fissura e o êxtase.
4. A compra é consumada: muitas vezes, depois que tudo passou a sensação de decepção consigo mesmo e de sentimentos negativos como culpa e arrependimentos são percebidos pelos compradores compulsivos.
A aquisição de objetos é uma forma de recompensa ou de neutralização de sentimentos negativos vividos pelo comprador compulsivo.
Os objetos preferidos dos compradores compulsivos são: vestuários, sapatos, joias, maquiagem, CDs e objetos tecnológicos. Os principais argumentos para a aquisição de determinados objetos são:
– porque são atraentes;
– porque estavam em oferta;
– porque de alguma forma compõem a identidade pessoal e social;
– porque têm um significado emocional.
Ainda são escassos os estudos controlados que avaliam a eficácia e a efetividade do tratamento. As formas de tratamento englobam a medicação, psicoeducação, entrevista motivacional, psicoterapia individual ou de grupo, orientação financeira, orientação familiar e de casal. Assim sugerimos que busque ajuda de um psiquiatra ou psicólogo para uma avaliação criteriosa.
* Paul Eugen Bleuler (1857-1939) Psiquiatra suíço notável pelas suas contribuições para o entendimento da esquizofrenia.
** Um Episódio Hipomaníaco é definido como um período distinto, durante o qual existe um humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável
Para saber mais sobre oniomania ou compras compulsivas consulte: Psiquiatria, saúde mental e a clinica da impulsividade. Tavares… [et al.] editores. Barueri, SP: Manole, 2015.