por Jocelem Salgado
A Organização Mundial da Saúde estima que em 2030, 10 milhões de pessoas morrerão anualmente vítimas do cigarro. O mais grave é que sete em cada 10 dessas mortes ocorrerão em países em desenvolvimento. O cigarro é a principal causa do câncer de pulmão e é fator de risco para outros tipos de câncer (laringe, pâncreas, rim, bexiga), doenças cardiovasculares e respiratórias.
Pais fumantes não têm ideia do risco que seus filhos correm quando fumam no mesmo ambiente que eles
Apesar dos estudos científicos demonstrarem claramente a relação entre o consumo dos produtos derivados do tabaco com o desenvolvimento de doenças graves e fatais, a indústria do tabaco continua lançando novos produtos no mercado sob diferentes formas (cigarros, charutos, cachimbos, cigarros de palha, de cravo, de Bali, mascado, etc) e sabores (suaves, baixos teores, menta, chocolate, etc).
As novas opções do mercado aparecem com apelo de serem naturais, conterem menor teor de substâncias tóxicas e serem menos danosas à saúde, mas estão longe de serem naturais ou simples produtos agrícolas, uma vez que são engenhosamente manufaturadas para servirem como dispositivos liberadores de nicotina, droga capaz de causar dependência química, e para mascarar os efeitos irritantes de alguns dos tóxicos da fumaça dos produtos.
Diante desse novo marketing, campanhas anunciando índices alarmantes de mortes relacionadas ao tabagismo não têm conseguido reduzir o número de fumantes, e é por isso que esse artigo tem como objetivo chamar a atenção dos nossos leitores para o fato de que os produtos derivados do tabaco, independentemente de suas formas e disfarces, são igualmente danosos à saúde. E que o fumo passivo pode ser ainda mais prejudicial do que o fumo ativo.
Fumo passivo: cuidado com nossas crianças
O que mais tem assustado as pessoas em relação ao tabagismo, principalmente aqueles que não tem o vício, é saber que mesmo os não-fumantes estão expostos aos riscos causados pelas substâncias tóxicas presentes no tabaco. Adultos e crianças que convivem com fumantes em ambientes fechados, são chamados de ‘fumantes passivos’, pois também inalam a fumaça como se estivessem fumando.
Muitos pais fumantes não têm ideia do risco que seus filhos correm quando fumam no mesmo ambiente que eles. Muitos desconhecem que o ar poluído contém, em média, três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono, e até cinquenta vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que entra pela boca do fumante depois de passar pelo filtro do cigarro. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o tabagismo passivo é considerado hoje a 3ª maior causa de morte evitável no mundo, subsequente ao tabagismo ativo e ao consumo excessivo de álcool.
Um estudo realizado por pesquisadores do Centro de Oncologia da Universidade de Minnesota-EUA, publicado na revista Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention em 2006, avaliou 144 crianças pequenas, filhas de pais fumantes (mães, pais ou ambos). A pesquisa detectou na urina de 47% das crianças, a presença de uma substância química com potencial de causar câncer, conhecida como NNAL (4- metilnitrosamina)-1-(3-piridil)-1-butanol). Essa substância é produzida no corpo humano a partir de uma outra substância contida no tabaco, a NNK (4-(metilnitrosamina)-1-(3-piridil)-1-butanona). As crianças com níveis detectáveis da substância cancerígena eram de famílias onde se fumavam em média 76 cigarros por semana na presença dos filhos. De acordo com os pesquisadores envolvidos, os dados obtidos apóiam a noção de que a exposição contínua ao fumo passivo pode estar relacionada ao câncer no futuro. Para eles a mensagem é simples: não se deve fumar perto das crianças.
A absorção da fumaça do cigarro por pessoas que convivem em ambientes fechados com fumantes causa:
– Em adultos não-fumantes = um risco 30% maior de câncer de pulmão e 24% maior de infarto do coração do que os não-fumantes que não se expõem;
– Em crianças = maior frequência de resfriados e infecções do ouvido médio; risco maior de doenças respiratórias como pneumonia, bronquites e exarcebação da asma; maior risco de câncer de pulmão na vida adulta;
– Em bebês = risco 5 vezes maior de morrerem subitamente sem uma causa aparente (Síndrome da Morte Súbita Infantil); maior risco de doenças pulmonares até 1 ano de idade, proporcionalmente ao número de fumantes em casa.
Os fumantes passivos também sofrem os efeitos imediatos da poluição tabagística ambiental, tais como, irritação nos olhos, manifestações nasais, tosse, cefaléia, aumento de problemas alérgicos, principalmente das vias respiratórias e aumento dos problemas cardíacos, principalmente elevação da pressão arterial e angina (dor no peito).
Dinheiro jogado fora
Sob diferentes formas e sabores, todos os produtos de tabaco causam prejuízos à saúde e ao bolso do fumante, uma vez que além de ter que arcar com os gastos mensais com a compra de pacotes de cigarros, o consumidor desses produtos geralmente gasta parte de seu salário com medicamentos para tratar doenças relacionadas ao tabagismo.
Conheça os principais produtos do tabaco e seus efeitos tóxicos para o organismo.
Cigarros convencionais
A fumaça inalada pelo fumante de cigarros tem mais de 4 mil substâncias tóxicas que podem causar câncer, principalmente de pulmão, doenças cardiovasculares e respiratórias. A expectativa de vida de fumantes regulares é seis a oito vezes menor do que a de não-fumantes.
Cigarros light ou de baixo teor
Esses produtos recebem esta classificação por liberarem um menor teor de substâncias tóxicas, como a nicotina e o alcatrão, em medidas realizadas por máquinas padronizadas. Este fato ocorre não por realmente possuírem menos quantidade dessas substâncias, mas porque estes produtos receberam em sua produção ‘orifícios de ventilação’ em seus filtros. Esta inovação dilui a fumaça aspirada e faz com que as máquinas tenham leituras menores dos teores das substâncias tóxicas. No entanto, os fumantes que consomem estes tipos de produtos, de forma inconsciente, desenvolvem mecanismos compensatórios (bloqueiam os orifícios com os lábios, dão tragadas mais intensas e mais longas, entre outras) com o intuito de manter os níveis sanguíneos de nicotina. Os estudos até o momento não demonstram diminuição significativa no risco de desenvolvimento de doenças graves e fatais com o uso desses produtos.
Charutos e fumo para cachimbos
Os charutos e o fumo para cachimbos contêm os mesmos compostos tóxicos que o cigarro. Quem fuma um ou dois charutos por dia tem duas vezes mais riscos de contrair doenças na cavidade oral, nos lábios, língua e garganta e seis vezes mais de contrair câncer de esôfago e laringe. O risco de câncer de pulmão de quem fuma cinco charutos ao dia é comparável ao de um fumante de um maço de cigarros ao dia.
Cigarro de palha
Os cigarros de palha são muitas vezes vistos como opções ‘naturais’ de fumo. No entanto, eles também contém inúmeras substâncias tóxicas, com o agravante de não contarem com os filtros dos cigarros manufaturados que, de certa forma, alteram a exposição a estas substâncias. Alguns estudos apontam para o fato de que fumantes de cigarro de palha apresentam níveis maiores de dependência à nicotina e risco aumentado de desenvolver doenças tabaco-relacionadas.
Cigarros de Bali (Kreteks)
São também chamados de cigarros de cravo e contém uma mistura de tabaco, cravo e outros aditivos. Ao serem analisados nas máquinas de fumar, apresentam emissão de nicotina, monóxido de carbono e alcatrão superiores à dos cigarros convencionais. O tipo de tabaco usado nesse cigarro contém, em média, 3 vezes mais alcatrão, nicotina e monóxido de carbono que o tabaco usado em cigarros comuns. Além de todos os riscos de um cigarro comum, o Eugenol (nome da substância que confere o aroma característico) pode causar até mesmo paralisia respiratória em pessoas mais sensíveis.
Bidis
Também conhecidos como beedis ou beedies, esses pequenos cigarros aromatizados com manga, cereja, chocolate e outros sabores agradáveis são enrolados à mão com folhas secas de Tendu ou Temburni e amarrados por uma linha em uma das pontas. Mas o resultado para a saúde não é nenm um pouco agradável. O consumo é mais perigoso que o de um cigarro normal. Não possuem filtro e produzem três vezes mais monóxido de carbono e mais de cinco vezes mais alcatrão que um cigarro comum.
Narguillé
Também conhecido como cachimbo d´água, shisha, goza, narghile, nargile ou arghile, hookah e ‘ huble buble’. Consiste de um grande cachimbo composto de cabeça, corpo, recipiente de água e uma única mangueira por onde a fumaça costuma ser aspirada por várias pessoas que compartilham uma sessão de narguillé. A fumaça do narguillé contém quantidade significativa de constituintes perigosos, entre eles a nicotina e metais pesados como o arsênico, cobalto, cromo e chumbo. Sob condições normais, a fumaça produzida pelo uso de um único narguillé contem aproximadamente a mesma quantidade de nicotina livre e partículas de alcatrão que 20 cigarros. A intoxicação do usuário com monóxido de carbono é maior quando comparada com a de fumantes de cigarros.
Fonte: http://www.inca.gov.br/tabagismo
Fumante sem culpa
As pessoas que não fumam esquecem que a maioria dos fumantes gostaria de deixar o cigarro, mas não o fazem porque não conseguem. Não são irresponsáveis, sem falta de vontade, simplesmente são dependentes, e a dependência é uma doença que, como qualquer outra, precisa de tratamento. Os fumantes que querem parar de fumar não precisam de críticas nem de advertências. Precisam do apoio da família, dos amigos e da assistência do Estado, que deve fornecer orientação e os medicamentos necessários.
Para aqueles que estão dispostos ou pelo menos manifestam intenção de parar de fumar, informo que o site do INCA http://www.inca.gov.br/tabagismo e o telefone do Disque – Saúde do Ministério da Saúde 0800-611997 oferecem dicas e ajuda para os dependentes do tabaco. O Hospital do Câncer em São Paulo oferece também ajuda através do Grupo de Apoio ao Tabagista.
Informações podem ser obtidas no site http://www.hcanc.org.br/dmeds/psiq/psic2.html.