Por Threreza Bordoni
“Imitação de corpos bem delineados e adornados é um dos principais motivos. Falar em protesto ou rebeldia é déjà vu”
O uso de tatuagens e piercings não é algo recente ou novidade. Desde os povos primitivos, era comum o uso de adornos corporais que significavam uma marca social, serviam para identificar a tribo, ganhar status ou proteger-se contra maus espíritos. As discussões sobre o uso de tatuagens e piercings vêm de muito tempo e mobilizam diversos públicos, como professores, psicólogos, pais, médicos, antropólogos e os próprios simpatizantes.
Hoje é comum encontrar jovens com estes adereços, e quase sempre com mais de uma tatuagem ou piercing. Após ler muito sobre o tema, entrevistar vários jovens entre 13 e 24 anos e conversar com algumas amigas que se deram de presente, ao completar 40 anos, mais de uma tatuagem, arrisco afirmar que não existe um perfil definido ou uma justificativa para o uso de tatuagens e piercings.
A atitude de tatuar o corpo ou de espalhar brincos em partes não convencionais é para a maioria, uma atitude sem segundas intenções, ditada apenas pelo modismo ou por um apelo estético, como escolher um corte de cabelo, ou decidir usar roupas de determinado estilo. Apesar de que, para alguns percebo que revela uma personalidade mais rebelde ou o desejo de traduzir alguma coisa que a pessoa não sabe expressar em palavras – o corpo então é usado como papel.
Para a totalidade dos jovens com quem conversei não há um significado expresso no ato de fazer mais de um piercing ou tatuagem. Apenas poucos afirmavam que faziam também, por não se sentirem bem com o seu corpo, e estas formas de adornos, que acham atraentes, os fazem se sentir melhor.
Percebo que há na mídia, muito interesse em divulgar a imagem de liberdade e independência do jovem e muitos produtos são mais consumidos, quando se expõe corpos sarados e de um visual arrojado, que normalmente incluem tatuagens e piercings. Como há algum tempo nosso índice de aprendizagem é crescente “visual-imitativo”, vejo esta como a principal causa da quantidade maior a cada dia de jovens “adornados”.
O desejo de protestar ou simplesmente de se mostrar rebelde usando piercing ou tatuagem não se justifica mais dentro da sociedade permissiva em que vivemos. Assim, o fato mais concreto que encontrei para justificar o maior número de tatuagens ou piercings em um mesmo jovem é a estética da imagem, faz mais uma porque gostou do resultado da primeira.
Concluindo, minha mensagem seria: exageros nunca são bons em nenhuma ação do ser humano. Para os pais sugiro que antes de proibirem, conversem com seus filhos e se possível os levem para conversar com pessoas que possuem algum tipo de adorno corporal há mais de 20 anos. Talvez isto os proporcione uma reflexão mais profunda e percebam com maior clareza a responsabilidade pela ‘escrita no papel corpo’.