por Ceres Alves Araujo
Estamos vivendo tempos difíceis, tempos de crise econômica, de crise política e de crise moral. Em grau maior ou menor, a vida das crianças está passando por mudanças. As pessoas estão reorganizando suas vidas financeiras, repensando os investimentos feitos na família para enfrentarem esses tempos.
Em tempos de bonança, os filhos são beneficiários de grandes investimentos dos pais, que acreditam nos benefícios de uma boa educação para o futuro profissional deles. Além de uma escola de qualidade, as crianças passaram a ter acesso às aulas de línguas, às aulas de diferentes tipos de arte, às atividades esportivas e até aos treinamentos para o desenvolvimento de funções cerebrais, que hoje começam a ficar tão em voga. Isso sem falar das férias e feriados onde viagens são planejadas para que as crianças conheçam outras cidades, outros países, outras culturas. Criar uma criança com tais benefícios custa muito dinheiro.
Em tempos difíceis, o orçamento familiar precisa ser planejado de forma diferente. Depois de lidarem com a frustração de não poderem mais dar a seus filhos tudo que gostariam, os pais, necessariamente, terão que eleger prioridades nos seus investimentos, porém, evidentemente, procurando favorecer as crianças dentro do possível. Assim, pode ser que sejam necessários alguns cortes de atividades e adiamentos de planos feitos. Os critérios para isso, são muito relativos, variando de família para família.
Além de enfrentar as próprias frustrações, surgirá o momento no qual os pais confrontarão a frustração de seus filhos e precisarão ajudá-los a elaborarem essa sensação.
Pais perguntam: as crianças podem, devem ser comunicadas, têm recursos para partilharem e participarem das mudanças na vida financeira da família? Se sim, a partir de qual idade?
A resposta é sim para os pequenininhos, para as crianças na idade escolar, para os pré-adolescentes e para os adolescentes. É lógico que os pais devem explicar para os filhos as medidas que estão adotando no orçamento familiar, mas de forma diferenciada, variando de acordo com a idade de cada criança. Também, existe uma diferente ordem das alterações que atingem os filhos: desde locais e períodos de férias, tipo de presentes até mudança de escola.
Otimismo é necessário
Assim, as conversas dos pais com seus filhos, a respeito da disponibilidade econômica da família, terá que levar em conta a idade, em função da possibilidade de compreensão do filho, até o tipo de privação que ele terá que ser submetido. Não se trata de fazer uma "sessão terror" com as crianças, apresentando com cenas tétricas a situação, mesmo que ela possa estar realmente muito grave. Mas, há de se ter e de transmitir a esperança de tempos melhores, pois crise, por sua própria definição, não se eterniza, tende a ser temporária, mesmo quando ela se anuncia longa e séria. Otimismo é necessário, principalmente em se tratando de crianças.
Os filhos precisam de explicações lógicas, que possam entender e refletir sobre elas. Quando nada é dito ou quando a explicação é dúbia, fantasias catastrofistas podem inundar a mente das crianças, criando muita angústia.
Cumpre também lembrar que o enfrentamento de adversidades pode criar resiliência. Parece, sem dúvida necessário, um freio no consumismo exagerado observado na nossa sociedade nos anos recentes. Tempos de crise podem trazer o surgimento de novos valores e princípios e a colocação de metas mais racionais para a própria família.
Filhos têm que saber o valor dos bens de consumo, para usufruí-los sem desperdícios. Talvez seja um tempo de aprendizagem, no sentido de se criar uma nova geração que saiba melhor lidar com frustração, que saiba adiar a satisfação de necessidades, que consiga aguentar a tensão gerada por esse adiamento para conseguir uma melhor capacidade para pensar e para refletir a respeito do que de fato é importante para si mesmo e para o outro.
Caso as coisas aconteçam dessa forma, poderemos estar sob esse tempo nublado na política e na economia que agora vivemos, começando a formar uma geração de pessoas mais éticas, capazes de cidadania verdadeira, mais honradas e escrupulosas, possivelmente capazes de evitar posteriores tempos tão difíceis.