por Anette Lewin
"E qual é sua abordagem sobre pessoas possessivas?"
Resposta: Você aborda, em seu questionamento, o que vem a ser um dos conflitos mais comuns e recorrentes nos seres humanos: a vontade de estar acompanhado versus a tranquilidade de se estar só e poder agir e se comportar como quiser.
A fantasia subjacente a esse conflito seria a de estarmos cercados de pessoas que jamais discordassem de nossas ideias, apenas as apoiassem; jamais pedissem nada para nós, apenas nos oferecessem, de preferência, aquilo de que necessitássemos ou gostássemos; acatassem nossas vontades como ordens sempre com um sorriso nos lábios; e, de preferência, que sumissem de nossa frente quando quiséssemos ficar sós…
Essa fantasia só é viável no mundo da imaginação ou talvez no futuro mundo dos robôs programáveis. Por enquanto, nos resta escolhermos entre uma solidão confortável mas, em geral, vazia e um relacionamento desconfortável, mas muitas vezes significativo. Os dois juntos confortavelmente… impossível.
Romantismo mágico sobrevive na mídia e na religião
Assim, se você está numa relação e não se sente plenamente feliz e confortável nela, entenda que seu sentimento é perfeitamente normal. Afinal, somos iludidos pelo mundo mágico do romantismo que teima em sobreviver no cinema, na TV e nas doutrinas religiosas.
Você já entendeu que suas tendências controladoras e possessivas não combinam com um bom relacionamento. Mas sabe também, o que nos humaniza é exatamente nossa capacidade de controlar nossos impulsos naturais para que eles nos sirvam, ao invés de sermos escravizados por eles. Assim, faça uma nova reflexão sobre essa incapacidade de controle que você enxerga em você mesma.
Será que é mesmo impossível para você deixar suas vontades de lado de vez em quando?
Será que controlar a vida do outro é tão importante assim para se sentir bem?
Será que ficar só é um castigo para quem não quer abrir mão de seus impulsos?
Ou será que existe a possibilidade de uma vida saudável para os solteiros?
Dependendo de como você encarar essas questões, sua visão de relacionamento poderá ir além do binômio "estar só é confortável, mas triste; estar acompanhado é conveniente, mas desconfortável".
Boca calada de vez em quando e tolerância de vez em sempre
Se decidir que gostaria de encarar a vida a dois, esteja preparada para o exercício do controle, da generosidade, da boca calada de vez em quando, da tolerância de vez em sempre e de uma visão mais realista do que é conviver com alguém a longo prazo. Se isso parecer impossível a você, a única maneira é perder o medo de ficar só encarando a solidão como sua melhor opção, e não como castigo. Afinal, é difícil sentir medo de algo que escolhemos conscientemente.