por Ceres Alves Araujo
As últimas décadas presenciaram uma mudança radical na constituição da familia. As familias eram grandes, os filhos vários e a *família nuclear se desenvolvia junto à **familia extensa. Só para se ter uma ideia, há cinquenta anos, a taxa média de natalidade, no Brasil, era de 6 filhos por mulher.
Ter filhos era uma expectativa geral depois do casamento.
Logo no início do casamento era esperado que o casal engravidasse e os filhos vinham um após o outro. Os cuidados com as crianças eram em geral divididos com as avós e as tias e, não raro, os filhos mais velhos eram encarregados de cuidarem dos menores. Dessa forma, evoluiam as famílias.
Com o advento de métodos anticoncepcionais mais seguros e sob a pressão econômica dos últimos tempos, pois criar e educar um filho hoje implica em um alto investimento, os filhos passaram a ser planejados. As familias se tornaram bem menos numerosas e a proximidade da familia nuclear à familia extensa diminuiu. Vale citar que, hoje, a taxa de natalidade, no Brasil, é de 1.7 por mulher.
Com frequência a familia vive de duas rendas: ambos os pais trabalham e não se pode valer mais dos avós, pois eles ainda estão no mercado de trabalho. As crianças são levadas à escola cada vez mais cedo e os custos aumentaram.
Não é a pressão econômica o único fator a ser considerado no planejamento de um número menor de filhos. Nos dias de hoje, o casal se dá o direito de esperar algum tempo antes de decidir a ter filhos. Marido e mulher querem se conhecer melhor, viajar juntos, desejam ter carreiras, possuem ambições profissionais, pretendem ter garantida alguma segurança financeira etc.
É interessante perceber como a familia passa a ser gerenciada como uma empresa e de forma otimizada. Nesse contexto, é perfeitamente compreensível o planejamento não só do número de filhos, mas também da época adequada para seu nascimento e, até mesmo, a possibilidade de não tê-los. Já não se pergunta tanto para o jovem casal recém-casado se estão pensando em ter filhos imediatamente.
Nos últimos anos, pode-se observar que muitos casais optam por ter um só filho, acreditando que podem dar a esse filho mais atenção, mais conforto e mais oportunidades. Ao filho único, nos nossos dias, não caem mais vaticínios sombrios. Ele não precisa ser necessariamente mais mimado, mais egoísta e mais solitário. As crianças tendo ou não irmãos, têm uma vida social cada vez mais precoce, frequentando as casas de seus colegas e amigos desde a escola maternal. Aprendem a dividir atenção, a ceder e se impor frente aos seus pares, a compartilhar e a serem solidárias.
Uma nova questão, tem surgido, até mesmo com certa frequência: ter ou não ter filhos?
Existem casais que estão optando por não ter filhos. E não necessariamente por questões financeiras. São pessoas que avaliam muito bem o compromisso de se ter um filho e escolhem não tê-lo. Ter um filho significa um compromisso irrevogável por anos e anos e hoje isso pode não ser a escolha.
Ainda que precisem responder de forma constante: quando terão filhos? As pessoas que optam por não serem pais privilegiam outros objetivos e têm direito às suas escolhas. Vivemos em uma época, na qual as responsabilidades são individuais, podendo ter cada pessoa o direito de planejar sua vida e sua familia.
No passado, a opção de não ter filhos era considerada socialmente como estranha. As mulheres, em boa parte dos casos, não trabalhavam fora de casa. Portanto, qual seria a justificativa de uma mulher casada para optar por não ter filhos?
Hoje, porém, a opção de não ter filhos é considerada socialmente como algo plausível. A esposa, hoje trabalha fora de casa e, não tão raro, ela e o marido decidem ser uma família sem filhos, para assim cuidarem melhor de suas carreiras profissionais e também cuidarem um do outro. Alguns casais, ainda evitam ter filhos, por considerarem, hoje, o mundo complexo demais para educar as crianças e formá-las para a sociedade.
*Família nuclear ( constituida pelos pais e irmãos) na ** família extensa (avós, tios, primos, parentes)