Entenda o que levou as pessoas a optar por não ter filhos e por que a escolha por tê-los precisa ser discutida de modo abrangente
Ter filhos está ligado à preservação da espécie. No processo evolucionário, as espécies capazes de garantir a sobrevivência do descendente foram as que se mantiveram. Com o aparecimento dos mamíferos, o filhote passa a ser nutrido e cuidado. O homo sapiens sapiens não escapa dessa regra.
O casamento teve várias funções no decorrer do tempo e é uma das tradições humanas mais antigas em todo o mundo. Ele foi considerado, sob a condição de matrimônio, como uma forma de estabelecer alianças, relações diplomáticas e econômicas. Durante muitos séculos, os casamentos eram arranjados pelas famílias, com o objetivo de buscar ou manter o poder econômico familiar. O consentimento entre os que queriam se casar só passou a fazer parte da tradição no século XII, mas de forma ainda muito inconsistente, pois a submissão às ordens dos progenitores era muito frequente. Porém, obrigatório ou consentido, desde o seu início o matrimônio esteve atrelado à necessidade de gerar filhos. Causava estranheza quando uma gravidez não acontecia logo após o casamento.
Muitas mudanças culturais e sociais ocorreram ao longo dos tempos, determinando grandes transformações na constituição das famílias. A família tradicional cedeu lugar a novas configurações. A família pode ser nuclear, monoparental, homoparental, desconstituída, reconstituída, com filhos ou sem filhos entre outras possibilidades. O casamento, religioso e/ou legal deixou de ser uma instituição absolutamente necessária na constituição da família.
Como surgiu a opção por não ter filhos
Passa a existir também uma dissociação entre a sexualidade e a procriação, que é facilitada pelos avanços da medicina que permitem a contracepção mediante o controle da natalidade. Observa-se que, com a conjugalidade pautada pelas questões afetivas, pelos desejos e escolhas subjetivas pessoais, começa a existir uma número de pessoas que optam por não ter filhos.
O fenômeno da ausência voluntária de filhos cresceu a partir do final do século passado. Vários motivos circundam a decisão de não ter filhos, dentre eles: objetivos relacionados ao desenvolvimento profissional, desejo de um estilo de vida mais orientado para o mundo adulto, sentimentos em relação a crianças como desconforto ou desinteresse, fatores de personalidade julgados como incongruentes com um bom papel de pai e de mãe. Sabe-se que não é uma decisão fácil para essas pessoas, pois elas enfrentam ainda os estereótipos e preconceitos da sociedade em relação à não procriação.
Opção por ter filhos precisa ser discutida de modo abrangente
Por outro lado, a opção por ter filhos precisa ser discutida de forma bem abrangente. Ter um filho, criá-lo, educá-lo é um compromisso para a vida inteira. Um compromisso que precisa ser assumido de forma muito consciente, principalmente por poder ser uma escolha nos dias de hoje.
A opção por ter filhos traz muitas consequências e impactos à vida das pessoas que escolhem ter filhos. Mãe e pai são papéis que precisam ser assumidos e integrados aos outros papéis já adquiridos, acarretando muitas vezes o abdicar de outras funções. Não se trata mais de seguir simplesmente um caminho estabelecido pela sociedade. Precisa ser um papel ativo e consciente de todas as repercussões ao longo da vida. Os pais têm que se perguntar por que decidiram ter um filho. O autoconhecimento que os pais precisam buscar é um passo fundamental para que eles compreendam e estruturem suas relações com seus filhos.
Não existem escolas de pais, crianças não vêm com manual e não podem ser devolvidas. Os papéis parentais são aprendidos na interação com o filho e vão se tornando cada vez mais complexos na medida que ele cresce. Criar e educar filhos dá trabalho sem dúvida e exige responsabilidade e uma disponibilidade de muito tempo e por longos anos, mas pode ser uma inesquecível, agradável aventura, aventura de um relacionamento, construído com amor e compreensão que se eterniza. Acompanhar crianças, adolescentes e jovens no seu processo de desenvolvimento, faz reviver a criança eterna dentro de cada um.
“Em todo adulto espreita uma criança – uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo e que solicita cuidado, atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa.” Jung