por Eduardo Ferreira Santos
“… de uma maneira bastante racional e materialista, pode-se encarar que aquilo que se “vive” em uma experiência de transe seria simplesmente uma forma simbólica de se apresentar algo que está de fato ocorrendo conosco… “
Resposta: Quando se fala em Terapia de Regressão ou Terapia de Vidas Passadas entra-se em uma área bastante controversa, pois é um campo que mistura ciência e religião, algo que os verdadeiros cientistas ficam até arrepiados ao ouvir falar.
Sem negar a crença religiosa da reencarnação (algo definitivamente ainda não comprovado pela “Ciência Oficial”), há uma maneira, a meu ver, de se encarar esse tipo de processo terapêutico que vou tentar explicar a seguir.
Ao entrar em um suposto estado de “transe hipnótico”, a pessoa, de fato, entra em um estado chamado “onírico”, isto é, algo parecido com o que vivenciamos em nossos sonhos normais durante o sono.
Como se sabe, os sonhos são bastante simbólicos e mostram de uma maneira, algo modificada, aquilo que temos escondido em nosso inconsciente (aliás, esta própria interpretação é passível de críticas, pois muitos acham que o sonho é apenas o “lixo” cerebral limpado durante o período reparador do sono).
Mas, vamos manter a teoria freudiana, apresentada em seu famoso estudo “A Interpretação dos Sonhos”. Nela, Freud acreditava que o conteúdo manifesto (o que se sonha) é apenas simbólico em relação ao conteúdo latente (aquilo que está escondido nas profundezas da mente) e esta seria uma forma de trazer, de certa forma, à consciência aquilo que negamos, tememos ou desejamos, mas não temos forças psíquicas para encarar na realidade.
Desta forma, de uma maneira bastante racional e materialista, pode-se encarar que aquilo que se “vive” em uma experiência de transe seria simplesmente uma forma simbólica de se apresentar algo que está de fato ocorrendo conosco, mas não tem força para se apresentar como realmente é.
Dou exemplo bastante pessoal para ilustrar o que estou falando.
Há alguns anos, participei de um “wokshop” de TVP (Terapia de Vidas Passadas) na qual experimentei uma vivência bastante interessante: vi-me, em uma “vida passada”, como um cigano, vivendo no centro da Europa, em um desses “carroções” cercado de mulheres (também ciganas, obviamente) que, enquanto eu ficava em meu carroção, elas se dirigiam à cidade mais próxima e ganhavam a vida “lendo a mão” das pessoas e, portanto, permitindo que eu tivesse uma vida migratória e com meu sustento garantido.
Ao trabalhar esta situação em minha Terapia Convencional (necessária à Formação de um Terapeuta), a mesma situação apresentou-se da seguinte forma: de fato, via-me como um “cigano”, pois não conseguia me fixar em um lugar definitivo e, ao longo de toda minha vida, de minha mãe a todas as namoradas que eu tivera até então tinham representado um papel bastante significativo em minha vida, moldando a minha maneira de ser e agir no mundo.
A questão que ficou e que até hoje me questiono é: teria eu levado esta vida atual por conta daquela “vida passada” ou ela é apenas simbólica de como construi minhas cognições atuais?
De qualquer forma, minha condição de Doutor em Ciências Médicas não me permite confundir ciência e religião, mas minha formação humanista me permite questionar, como disse Shakspeare (através das palavras de Hamlet): “Há mais mistérios entre o Céu e a Terra do que possa imaginar nossa vã filosofia”.