Da Redação
Uma personalidade neurótica, assim como um comportamento extrovertido, são dois fatores que têm sido associados ao risco de desenvolver depressão, e ambos são fortemente determinados por fatores genéticos. Indivíduos neuróticos costumam experimentar emoções negativas e instabilidade emocional, enquanto aqueles com um comportamento extrovertido são mais sociais e têm a tendência de vivenciar emoções positivas. Já se sabe também que essas duas dimensões da personalidade guardam estreita relação com a atividade do neurotransmissor serotonina.
Uma pesquisa publicada no periódico Archives of General Psychiatry mostrando que o uso de medicações antidepressivas pode promover mudanças na personalidade de indivíduos com depressão, independente do efeito de melhora dos sintomas depressivos.
Os pesquisadores avaliaram os efeitos da paroxetina em 120 indivíduos, antidepressivo que aumenta a disponibilização de serotonina no cérebro. Outros 120 foram estudados como grupo controle, sendo submetidos a psicoterapia ou fazendo uso de placebo.
Todos os participantes do estudo apresentaram melhora dos sintomas depressivos, incluindo aqueles que só foram submetidos a psicoterapia ou placebo. Os que fizeram uso da paroxetina tornaram-se mais extrovertidos e menos neuróticos do que aqueles que não fizeram uso da droga. A psicoterapia também promoveu mudanças nos índices de neuroticismo, mas de forma menos robusta que a medicação. Além disso, quanto maior a mudança no nível de neuroticismo entre aqueles que tomaram a medicação, menor foi a chance de recaída da depressão. Essa vantagem não foi observada no grupo da psicoterapia.
Esses resultados não querem dizer que medicação é melhor que a psicoterapia para tratar depressão, já que esta última ajuda na melhora dos sintomas depressivos de forma extraordinária, com efeitos comparáveis aos dos antidepressivos. O que o estudo acrescenta é que os antidepressivos da classe da paroxetina podem levar a mudanças de personalidade, para melhor, independente da melhora dos sintomas depressivos. É possível que esses efeitos positivos ocorram também em outras condições associadas ao neuroticismo e baixos graus de extroversão, como é o caso dos transtornos de ansiedade e da alimentação.
Fonte: Ricardo Teixeira é Doutor em Neurologia pela Unicamp.