por Patricia Gebrim
Um dia já se soube que as palavras eram sagradas. Existiam acordos verbais e, uma vez dada a palavra, um selo de honra protegia o acordo.
Hoje, a palavra perdeu todo o seu valor. Temos usado as palavras de forma leviana, desconectada de nossa essência, da nossa verdade. Como papagaios, falamos qualquer coisa, sem a menor responsabilidade, sem o cuidado se o que dizemos tem coerência com o que pensamos, sentimos, ou com nossas reais intenções. Isso tem consequências extremamente destrutivas, mas a maioria de nós parece não perceber isso.
Na ânsia de preencher todos os espaços, de manipular o mundo de acordo com nossos desejos, ou de mostrar uma face que acreditamos ser valorizada, dizemos gostar do que não gostamos, marcamos encontros aos quais não temos a menor intenção de comparecer, prometemos coisas sem estarmos certos de que podemos ou queremos cumprir, afirmamos coisas sem que tenhamos profundidade no assunto.
Tudo parece muito inofensivo, quase infantil, mas não creio que seja assim. Quando usamos mal as palavras, estamos enganando, iludindo, manipulando, controlando, distorcendo. É bastante sério. Não há honra em uma pessoa cujas palavras flutuam, levianas, para longe da sua verdade. Sem honra não pode existir confiança. Sem confiança, as relações se desgastam e morrem.
Se, repetidas vezes, uma pessoa nos promete algo e não cumpre, vamos deixando de acreditar nessa pessoa e uma base segura não pode se estabelecer nesse relacionamento. Vamos ficando inseguros, com medo, cheios de dúvidas e a consequência é que passamos a recuar, nos afastamos, nos fechamos em busca de proteção. O relacionamento vai ficando cada vez mais superficial e empobrecido e um dia, como uma linha que vai se esticando ao limite, essa relação se parte, e a conexão é perdida. Uma pena.
Palavras levianas causam o mal. Muito melhor seria o silêncio.
Quando não temos certeza de algo, deveríamos silenciar, mergulhar nesse espaço feito de ausências, até que nos tornássemos capazes de ouvir nosso próprio som. Se não temos certeza de algo, não deveríamos nos comprometer. Se não temos profundidade, não deveríamos nos pronunciar. Temos usado as palavras com uma superficialidade perigosa demais.
Em muitas pessoas falta coerência na fala, pois já nem sabem ouvir a si mesmas, já nem sabem quem são. Por tanto tempo cuspiram palavras sem peso, que já não conseguem alçar a si mesmas, trazer-se à tona. Suas próprias palavras, as palavras da sua essência, da sua alma, estão lá, perdidas em algum lugar dentro delas, soterradas em sua própria covardia e ignorância.
Estas linhas são um alerta e um convite. Um alerta para que prestemos uma cuidadosa atenção àquilo que temos dito. Um convite para que resgatemos o caráter sagrado de nossas palavras e façamos com que voltem a valer a pena.