por Marisa Micheloti
São muitas as formas de relacionamento nos dias de hoje. Se pudéssemos fazer uma viagem ao século passado, por volta das décadas de 50 e 60, o estado civil era quase que exclusivamente casado, solteiro e viúvo e dentro dessas condições os casados moravam juntos em uma mesma residência.
Na atualidade, as maneiras de relacionamento foram modernizadas. Estão muito explícitas na juventude onde iniciam-se com envolvimentos relâmpagos, o famoso ficar, ou também aquele envolvimento com uma ligeira profundidade que é batizado como 'ficar de rolo'. Já devem existir novos desdobramentos com outras nomenclaturas, mas todos eles com conotações bastante rígidas de muita independência e liberdade absoluta.
Para os relacionamentos de pessoas com idades mais avançadas, as relações de envolvimentos também já não são as mesmas. Existem pessoas casadas que moram juntas; casadas que moram separadas; as pessoas várias vezes casadas; as solteiras convictas e, dentro das uniões, a possibilidade de uma conjugalidade com filhos de outros casamentos. Nas escolas conseguimos perceber claramente uma população de crianças e jovens que já apresentam esse contexto de outros casamentos dos pais, com muito mais naturalidade do que há 20 ou 30 anos atrás.
Elegi para hoje falar sobre o casamento, uma união de duas pessoas solteiras e que decidem ter uma vida em comum.
Vai casar? Saiba os principais cuidados
Percebo que tornar-se um casal é uma difícil e complexa tarefa que o ciclo de vida sugere. O rito de passagem que envolve o casamento, com toda a cerimônia religiosa, os preparativos festivos, as vestimentas e o desligamento da família de origem é um preparativo para uma outra fase do desenvolvimento humano; porém, não é suficiente para dar um panorama da complexidade. Nessas expectativas muitas vezes estão depositadas as soluções de problemas como a solidão, desconfortos com a família de solteiro e sendo assim sugere que o casamento deva ter como função solucionar tais dificuldades. Muitas dessas expectativas são realmente necessárias, pois não existe como construir um novo papel social sem criar planejamentos, mas alguns cuidados precisam ser tomados.
Os casamentos sugerem um complexo processo de mudanças. É uma fase de muitas negociações com o parceiro. Hoje um casamento tido como mais tadicional, de duas pessoas solteiras, também não pode estar baseado nos casamentos de 50 anos atrás. O significado de um casamento do século XXI é profundamente diferente dos realizados no século XX. A mudança no papel da mulher, que hoje dá um valor enorme ao seu lado profissional, e a consequente alteração no papel de homem, mais a crescente mobilidade da nossa cultura, estão nos forçando a redefinir os casamentos.
Existem temas que são fundamentais para que a conjugalidade possibilite uma união mais duradoura. O casamento requer que duas pessoas se amem e juntas avaliem as renegociações. São necessárias algumas conversas que são vistas como profiláticas para uma relação. É importante que o casal adquira uma maturidade de abordar temas sobre administração de dinheiro, familiares dos cônjuges, tarefas da casa, supermercado, contas, etc. As questões que eram interiorizadas como individuais, muitas vezes não poderão mais fazer parte da conjugalidade e o amor não é suficiente para suportar uma série de insatisfações. Casar também tem o sentido de abdicar de uma série de atitudes pessoais e isso deve ser revisto.
Hoje homens e mulheres esperam muito mais do casamento do que anteriormente, há uma exigência muito maior das pessoas com o individual, com o profissional e, consequentemente, com o relacional. Porém, as determinações das funções estão muito mais confusas. Muitas vezes o casamento tem como função exclusiva a responsabilidade pela felicidade que não se adquiriu anteriormente e aí a falência é muito provável. Pode parecer que se os casais avaliarem a complexidade emocional de um casamento, desistam de realizá-lo, mas é muito significativo que exista essa ótica, pois a separação ainda traz muitas consequências danosas e a prevenção continua sendo o melhor remédio.
Marisa Micheloti é psicóloga