por Regina Wielenska
E logo chega o ENEM e a hora dos jornais anunciarem listas de candidatos aprovados ou em espera para uma disputadíssima vaga no ensino superior de qualidade.
Dispondo-se de dinheiro ou fazendo-se um financiamento estudantil que dê conta de pagar mensalidades, é muito fácil ser aprovado nos débeis processos seletivos das instituições de ensino menos conceituadas.
O candidato escolhe a hora de comparecer, faz uma redação, ou responde a poucas questões de múltipla escolha e, abracadabra, eis que surge mais um universitário nesse mundo de arapucas estudantis, as quais praticamente vendem diplomas a quem é ingênuo, ou tem a má fé de querer graduar-se apenas na fachada, com o mínimo de empenho.
E nos processo seletivos das universidades de renome, disputadíssimas? O cenário ganha outros contornos. Alunos muito bons concorrendo a um pool restrito de vagas, clima tenso, vestibulares em duas etapas, provas longas, com perguntas que podem exigir excelente capacidade de interpretação de textos, afiado raciocínio lógico, memória, entre outras habilidades. O que fazer, então? Ninguém nasce pronto; essas e outras competências, tão fundamentais, podem ser cultivadas. Isso significa empenho, manter-se firme no propósito de treinar o que preciso for. Além de cérebro, precisamos de glúteos para sentar por longos períodos, debruçados sobre materiais didáticos, em mídia digital ou sob a forma de livros e apostilas.
Perfil do forte candidato
Antes de mais nada, um candidato forte costuma ser alguém que gosta de aprender, não apenas no sentido acadêmico formal, mas no sentido de ser um jovem (ou adulto) que se diverte aprendendo sobre como as coisas funcionam, é um indivíduo que gosta de investigar os mecanismos que interligam coisas, fatos ou ideias. A capacidade de relacionar as coisas é a chave de parte do sucesso. Para isso pode-se contar com o apoio adicional de filmes, jornais, livros, visitas a museus e feiras de ciência, revistas, peças de teatro, concertos.
Para que esse material invada o cérebro do candidato, é preciso a interlocução, tempo gasto na troca de opiniões sobre o que se leu, ouviu, observou. Do diálogo entusiasmado surgem as ideias complexas, as novas relações, cria-se o caldo que nutre o vestibulando. O que se vivenciou e estudou precisa "entrar na cabeça" e pesquisas já demonstraram que horas de bom sono ajudam a consolidar memórias, fixar o que se estudou durante o dia. Passar noites em claro ou dormir só um pouco e compensar com doses fenomenais de café ou outros estimulantes (os tais "energéticos"). Permanecer acordado quando se deveria estar dormindo, seja estudando, nas redes sociais ou na balada, não ajuda o vestibulando.
Como estudar de forma eficaz
Saber distribuir o tempo entre estudo e descanso também importa. Uma regra geral seria fazer pausas de quinze minutos a cada noventa minutos de trabalho com foco. Outra dica é variar as disciplinas, alternar entre as favoritas e as menos estimadas (quiçá são estas as mais difíceis, e seu conteúdo pode ser crucial para aprovar um entre dois bons candidatos).
Comer bem significa dar uma pausa para refeições e lanches e dispor de sabedoria para montar os pratos, zelando pela quantidade moderada, e variando os itens consumidos. O ideal seria estabelecer uma saudável relação de amizade com grãos integrais, frutas e legumes. Debruçar-se sobre o estudo e engolir sanduiches calóricos, ricos em gordura e pobres em fibras e vitaminas não ajuda o aluno.
Horários de estudo regulares, frequentes, em ambiente propício ao estudo, podem ser intercalados com pausas parciais nos fins de semana ou feriados prolongados. Mas não dá pra ficar 15 dias em julho sem sequer ler um dos livros recomendados para a prova de Literatura e Língua Portuguesa, sem abrir uma apostila, sem ter um pingo interesse intelectual por esse vasto mundo em que vivemos. Estar em férias não significa desparafusar o cérebro e se tornar um simbólico acéfalo que se diverte fazendo nada.
Tenho certeza que da missa não rezei sequer a metade. Um vestibulando de sucesso precisa de atividade física e de um montão de estudo, mas também parece fundamental ter o carinho e incentivo de familiares, amigos e de um(a) namorado(a). São luxos essenciais.
Quem é aprovado numa boa universidade estudou muito, não só para a prova, mas para vida. E o fez com gosto, saboreando a graça de aprender.
OS: escrevi esta coluna para minha sobrinha, que acaba de passar na primeira fase de um disputadíssimo curso. Esforçada, antenada no mundo, disciplinada nos estudos (e apoiada pelas irmãs!), a linda garota de bom astral merece minha plena torcida.