por Roberto Goldkorn
“Parceiro que sexualmente chegue junto, estatisticamente, é raro“
Um sujeito que conheci há muito tempo me confidenciou que se por alguma razão ficasse impotente e não pudesse mais fazer sexo, pegaria uma metralhadora (não explicou onde encontraria essa metralhadora) colocaria contra o peito e puxaria o gatilho. Nunca me esqueci dessa afirmação.
Recentemente, quando analisava a assinatura de uma cliente, na casa de seus cinquenta anos, vi que suas letras correspondentes à energia sexual estavam bem fracas.
Ela me confirmou e disse que isso já vinha de algum tempo. Perguntei se não gostaria de fazer alguns exames de sangue para testar níveis de hormônios, e ela disse: Não, por que e faria isso? E perguntei curioso: Você não gostaria de retomar a sua vida sexual? Ela arregalou os olhos e disse: Por quê? Aquela nojeira (e fez cara de nojo). Recentemente, a tenho visto nas redes sociais feliz da vida sempre viajando com amigas, festejando, sempre rindo e aparentemente feliz da vida.
O sexo é um fator tão importante, tão determinante em nossas vidas ocidentais que indústrias bilionárias são criadas e mantidas por ele.
O sexo está em toda parte, da televisão à literatura, e mesmo quando não é explícito está sugerido, ou insinuado e é ainda mais apelativo aos nossos sentidos.
Mas tudo isso é muito cenográfico. Embora realmente milhões de pessoas vivam do sexo e para o sexo, outros milhões não passam nem perto dele – são os assexuados silenciosos.
Não estou falando aqui dos religiosos acetas (os verdadeiros) e sim de legiões de homens e mulheres que simplesmente desistiram de ter uma vida sexual. Acredito que boa parte desse contingente seja de pessoas mais idosas, porém um número cada vez maior de jovens optam (quase sempre por razões religiosas) por dar um tempo no sexo, ou reservar sua libido para o “momento certo”.
A necessidade do sexo pode ser exasperadora porque depende da existência de outra pessoa para satisfazê-la. Claro que sempre se pode pagar por isso, mas aqui também ficamos diante de outro tabu, o que limita essa possibilidade, principalmente para as mulheres.
Precisar de sexo e não poder obtê-lo da forma que se espera é uma fonte de problemas e constrangimento emocional. Dramas sem conta acontecem com pessoas que eu classifiquei como “reféns do sexo e amor”. Muitos relacionamentos desastrosos acontecem porque a pessoa está buscando a satisfação de seus desejos sexuais e acaba nas mãos de parceiros peçonhentos, cruéis ou aproveitadores, cujo único ponto de afinidades é o sexo (que ocupa apenas 1% do tempo do relacionamento).
A vida sexual satisfatória, como o nome diz deve trazer satisfação, alegria e compartilhamento. Se ela traz aflição, premência e induz a comportamentos que vão contra sua índole é armadilha, é atração pelo abismo.
Tive um cliente homossexual que, no auge do desespero, foi a uma rua onde garotos de programas faziam ponto. Ele colocou um desses em seu carro e o levou para sua casa onde morava com pais idosos e que desconheciam sua homossexualidade. Quando o rapaz chegou na casa dele e viu a riqueza daquela família, imediatamente enxergou ali uma oportunidade. Depois de transarem o garoto de programa disse que queria dez vezes mais que a quantia combinada. Como o meu cliente se negou, ele começou a estrangulá-lo. Os dois estavam no banheiro e o meu cliente nem podia gritar por socorro, e achou mesmo que ia morrer. Chorou porque imaginou a cena dos seus pais idosos encontrando o corpo do filho nu estrangulado no piso frio do banheiro. Mas ele conseguiu se safar. Ficou a lição.
A premência sexual, a fissura, nunca é boa conselheira, mesmo que se tenha um parceiro ou parceira que “chegue junto” o que estatisticamente é raro.
Espiritualmente falando essa urgência, essa força arrebatadora do sexo, é quase uma doença espiritual (quando não é uma patologia psíquica), e cria uma âncora que mantem o indivíduo preso à vibração pesada da terra, tornando seu corpo mental e espiritual mais pesado, mais denso e complicando sua possível evolução e futuro desapego das vinculações materiais.
Mesmo que alguns possam reduzir esse perfil a uma contingência puramente hormonal, e outros a alguma disfunção da psique, o fato é que cada vez mais pessoas estão se livrando do “fardo sexual” e todas as suas cobranças e necessidades que vêm com o pacote.
Para quem fez essa opção, ainda é constrangedora a pressão da cultura ocidental onde o sexo foi elevado a um status de proeminência. Em certos círculos se aceita com mais naturalidade uma pessoa que se confessa viciada em drogas do que a que diz que vive sem sexo.
Como a obesidade está epidêmica e com ela a diabetes que traz em 90% a impotência sexual para os homens é quase sempre um sofrimento silencioso a convivência desses homens com seus colegas e suas conversas onde o tema muitas vezes são as mulheres e o sexo.
Como todas as opções pessoais e que afetam apenas a própria pessoa essa deve ser respeitada. Obviamente que essa opção pode ser geradora de graves crises quando afeta outra pessoa, quando se trata de um casal por exemplo. Na verdade milhões de casais pelo mundo vivem secretamente esse drama.
Cada vez que, como terapeuta, me deparo com uma tal situação me sinto desconfortável, porque costuma ser uma sinuca onde nunca existe solução ideal e sim a menos pior. Quando o casal decide de comum acordo pelo encontro harmonioso de vontades que vai cessar ou pelo menos espaçar bastante seus contatos sexuais eles podem viver no melhor dos mundos. Mas quando a decisão é unilateral, tempestades estão a caminho.
A solução mais simplista é separar-se e cada um buscar o seu conforto, mas são raras às vezes em que isso é possível assim com essa simplicidade e imediatismo.
Conheço mulheres que passam anos sentindo se estupradas pelos maridos que amam, e o contrário também acontece. Atendi a uma moça bonita e inteligente em Portugal que me relatou seu sofrimento.
Seu marido queria convencê-la de que estava louca ou perturbada porque seu desejo sexual era “anormal”. O marido mais velho fazia de tudo para caracterizá-la como “doente”, porque ela queria fazer sexo pelo menos uma vez por semana, enquanto para ela uma vez por mês ou de dois em dois meses era o ideal para gente “normal e honesta”.
O sexo pode ser um fator determinante de dissonância entre casais. Por isso sociedades mais antigas criaram regulamentações não escritas sobre esse comportamento.
Por exemplo, entre os Hare Krishna, sexo apenas para fins de procriação. Nas sociedades orientais os casais costumam ter uma vida sexual comedida (as maiores restrições comportamentais são, naturalmente para as mulheres). Existe uma cultura que aperta e segura.
O sexo é a força motriz da vida isso é indiscutível – de toda a vida. Mas deve ser considerado como uma opção e não como uma avalanche constrangedora, que draga os indivíduos levando-os a cometer danos contra seus próprios valores pessoais e espirituais.
Viver sem sexo é um caminho legítimo se traz paz e libertação.
Em qualquer das escolhas que se faça o elemento lucidez e auto determinação deve estar presente do contrário irá gerar arrependimento e dor.
O sexo pode ser a celebração da alegria de viver, mas a alegria de viver é algo que transcende o sexo e depende apenas de si mesmo para sua realização.