por Arlete Gavranic
"Minha grande batalha é impor-me, não deixando que meu marido abuse dos meus sentimentos. Mas ele não me respeita. Sinto-me exausta com essa luta constante. Tenho 59 anos, como lidar melhor com essa situação sem me desgastar tanto? Ou seja, superar o egoísmo e a manipulação dele?"
Resposta: Olhar para essa situação nos faz pensar o quanto desde o enamoramento – no desejo de estar com alguém, de conquistar ou de se sentir ‘acompanhada’- , se minimizava sinais e comportamentos que já mostravam o lado egoísta do outro.
Muitas mulheres tendem a ter comportamento de encantamento (e muitas vezes um medo de perder enorme) que a fazem negar esse lado egoísta.
Faça um miniteste: você é submissa e ele egoísta?
– Desde o namoro ele era mais insistente em ver o filme que ele queria e não o que você queria?
– Comer só o que ele estava com vontade?
– Ele se negava a fazer coisas e ir a lugares que você desejava?
– Ele não priorizava agradar você, mesmo que de vez em quando?
– Ele era muito frio e econômico nas demonstrações de carinho para agradar você?
Se você identificou esses comportamentos desde a conquista, essa convivência trouxe muito desgaste para sua autoestima. Uma relação que se mantém assim há muito tempo promove comportamentos de submissão.
Por que muitas mulheres não dizem não? Não discordam? Por medo de perder o parceiro, seja por ‘amor’, por estabilidade de vida (principalmente as mulheres que não têm renda pessoal); por medo de serem discriminadas socialmente ou pela família – ‘não dei certo no casamento. Ou por medo de um comportamento agressivo por parte do outro quando esse parceiro é violento, entre outros.
Muitas mulheres ‘esperam que ele vire bonzinho’, seguindo o encanto do conto de fadas francês A Bela e a Fera!
Cuidado, esse conto é perigoso, traz a ilusão de se transformar a ‘fera’ (violenta, sovina; o drogado, o alcoólatra, o egoísta…), como se apenas o ‘amor’ e a ‘resignação’ da sedução ou da submissão pudessem encantar a alma boa desse parceiro.
Ceder não faz o outro mudar
Infelizmente essa ideia é falsa, não é cedendo que ele muda! Ele precisa ser conscientizado afetivamente das perdas que pode viver, se ele não aprender a dividir, a acalmar essa carência, esse medo de que as coisas saiam de se controle. E ele frente às perdas ou possíveis perdas pode tomar a decisão de procurar ajuda psicológica (ou psiquiátrica, caso haja por exemplo traços de TOC- transtorno obssessivo compulsivo, de agressividade ou de negação da realidade). É isso mesmo, ele precisa querer mudar!
Essa mulher/companheira precisa aprender com essa experiência e refletir por que ela sempre cedeu. Ela precisa pensar e buscar (até em terapia) por que ela sempre tem que ser boazinha e agradar o outro.
Por que você tanto medo de encarar a realidade da vida, de assumir seus desejos ou aquilo que não deseja?
Se você começar a olhar para si e a reconhecer seus desejos e suas possibilidades, talvez encontre sentido e força para fazer valer sua vontade sem ficar submissa ao outro ou ao que você pensa que o outro significa na sua vida.