por Valéria Meirelles
A inveja, cuja origem latina da palavra é "invidere" que significa "não ver", é um sentimento antigo na história da humanidade. Muitas guerras foram deflagradas e injustiças foram cometidas movidas pela inveja. Hoje, ela atrapalha a vida de muitas pessoas, incluindo mulheres, principalmente no mundo corporativo.
O Cristianismo inclui a inveja nos Sete Pecados Capitais, como um dos sentimentos mais danosos que um ser humano pode ter em relação a outro. Na Bíblia, a história dos irmãos Caim e Abel é clássica – a inveja de Caim levou-o a matar o próprio irmão.
Para São Tomás de Aquino, a inveja – "tristitia de alienis bonni" ou "a tristeza em relação às coisas boas dos outros" – é um sentimento traiçoeiro, que se disfarça de inúmeras formas para atacar a vítima e atingir seu objetivo final.
A inveja é um sentimento "democrático", pois existe em todas as classes sociais. Pode envolver familiares, amigos e pessoas que convivem com certa proximidade, principalmente nas relações entre iguais.
Melanie Klein, psicanalista inglesa, tem a inveja como conceito central de sua teoria e explica: "A inveja surge a partir do sentimento de impotência, que se insere na direção da aspiração de um bem que outro possui (…). É suficiente que uma coisa seja possuída por outro, para que isto nos pareça uma privação, gerando raiva".
Para o psicodramatisma argentino Dalmiro Bustos, a inveja surge no ser humano a partir da vivência fraterna, quando o indivíduo ainda criança deve aprender a compartilhar e renunciar à fantasia de que tudo lhe pertence. A equação que se forma para ele é: "destruir aquele que tem o que se deseja".
É a partir daí que surge a rivalidade, e ela impulsionará o bloqueio do caminho do rival para se ganhar dele. Competir faz parte da espécie humana, mas competir sem escrúpulos, é uma artimanha usada por quem tem medo de perder.
No cotidiano – relações familiares, grupos de amigos, esportes e etc – é possível perceber a inveja pelas brigas sem sentido entre irmãos, pelo afastamento repentino de alguém, pelas brincadeiras de mal gosto de uma amiga expondo outra frente a um grupo, pelas mudanças de regras repentinas no meio de um jogo, etc.
Entre as mulheres, nas quais a vaidade é mais evidente, a inveja surge pelo desejo e impossibilidade de ter um corpo como o da colega, fazer a plástica ou a lipoaspiração, ter um marido ou namorado tão lindo e poderoso, entre outras.
Na prática clínica psicoterápica, a inveja aparece através do desprezo, ironia, raiva, competitividade exagerada e sem escrúpulos e egoísmo das escolhas. Aparece também através do gosto pela vingança ou pelo fracasso do outro e até pela violência.
Na área profissional, pode-se perceber a inveja de várias formas: fofocas, excesso de exigências por parte de alguém, boicote de informações, negativa de férias ou de promoções e benefícios, "frituras" de determinados funcionários, piadas ou ironias em reuniões onde o profissional estará mais exposto. Enfim, a inveja está nas ações depreciativas, e ainda pode ser constatada pela diferença entre o falar e agir da pessoa invejosa, que é muitas vezes dissimulada.
Patrícia Tomei, doutora em RH pela FEA/USP realizou um trabalho pioneiro e escreveu o livro "Inveja nas organizações", apontando que ambientes competitivos são propícios à inveja. Ela sugere a importância da cooperação entre equipes, gestão participativa e a eliminação da politicagem, com combate às mentiras e à boataria.
Os primeiros sinais da inveja
Patrícia também propõe quatro perguntas para ajudá-lo a descobrir se sente inveja de alguém e ainda não percebeu:
1º) Você freqüentemente se compara aos outros?
2º) Já menosprezou suas competências e talentos?
3º) Sente-se irritado quando alguém ganha uma promoção ou consegue mudanças?
4º) Já se sentiu tentado a falar mal ou sabotar alguém?
Caso tenha respondido sim para todas as perguntas, há inveja, porém disfarçada. É preciso tratá-la e tratar a si mesmo, buscando transformar esse sentimento em algo positivo, em motivação para o crescimento e renovação pessoal.
A inveja faz parte do lado pouco nobre e real do ser humano. Portanto, é necessário identificá-la, admiti-la e controlá-la. Numa sociedade pautada pelo "ter", ditada por regras consumistas de poder, ela encontra terreno fértil e acaba deteriorando valores importantes aos seres humanos: empatia, solidariedade, compaixão, amor e respeito.
Ser mais forte que ela é produto de autoconhecimento, maturidade e compromisso, não apenas consigo mesma, mas com um mundo menos hostil – virtudes típicas e esperadas em uma mulher atual.