Por Aurea Afonso Caetano
Resiliência é um termo vindo da física e se refere à capacidade de um material de absorver um impacto. Quando começou a ser usado nas ciências sociais foi definida como: "a habilidade de superar, viver e se desenvolver de uma forma positiva e socialmente aceita, apesar do estresse ou adversidade que poderia levar a um desfecho negativo".
Um dos mais reconhecidos pesquisadores e estudiosos do tema, Boris Cyrulnik, neuropsiquiatria e psicanalista francês, autor de mais de uma dezena de livros, escreve sobre este tema a partir de uma traumática experiência infantil.
A maioria das pesquisas a respeito da resiliência tem como foco o aspecto psicossocial, no entanto, os aspectos biológicos desta capacidade tem atraído cada vez mais os estudos dos neurocientistas. Acredita-se, hoje em dia, que resiliência é um mecanismo inato e ao mesmo tempo um processo dinâmico que se desenvolve ao longo da vida.
Tem sido percebido que alguns indivíduos são mais resilientes que outros. Sujeitos classificados como resilientes, podem ter uma capacidade inata maior para se recuperar de agressões ambientais que têm impacto sobre o cérebro e portanto sobre toda sua vida.
Essas pessoas não sucumbem aos efeitos danosos que a adversidade possa causar no cérebro e outros sistemas biológicos. Coloca-se aqui a pergunta: os indivíduos resilientes são invulneráveis aos efeitos do estresse ou respondem a ele de forma adaptativa?
Caso a pessoa seja invulnerável, não será possível falar em resiliência, pois esse indivíduo nunca teria deixado de "funcionar", apesar do trauma. A vulnerabilidade é algo esperado e necessário para a sobrevivência; caso ela não exista, há o risco de paralisação do mecanismo vital.
Morihey Shesida, mestre fundador do Aikidô diz que: "A força de um homem não está na coragem de atacar, mas na capacidade de resistir aos ataques."
Precisamos ser capazes de perceber o que nos afeta e mobilizar novas estratégias de enfrentamento para poder seguir o caminho do desenvolvimento. Invulnerabilidade não é sinônimo de uma adaptação, podendo ao contrário, ser sinal de desadaptação. Lembremos sempre dos super-heróis dos quadrinhos que necessitam aprender a lidar com suas fraquezas ou dificuldades, ou suas vulnerabilidades, para continuar em sua jornada heroica.
Ao mesmo tempo, importante dizer Cirulnik que: história não é destino. Quantos de nós usamos nossa história, nossos traumas, nossos problemas como desculpas para nossas dificuldades na vida. Quantos de nós não justificamos nossa atuação no mundo e, portanto, nosso destino pelo que vivemos com nossos pais ou em nosso ambiente.
Uma vez mais, a história explica o presente mas não justifica o futuro.