por Aurea Caetano
E, dando a saída, o que é uma solução? Segundo o “Aurélio” solução é a resolução de uma dificuldade, de um problema, mas também a operação pela qual um sólido ou um fluido se dissolve num líquido.
Nossos pacientes nos trazem problemas que querem resolver, solucionar. Exemplo: estou insatisfeito com meu trabalho, sinto que estou parado, quero mudar de atividade; quero ter outro tipo de vida. Acontece que muitas vezes o problema trazido está ancorado em uma longa espiral de acontecimentos que foi iniciada há mais tempo que se pode lembrar. E o que pedia uma solução torna-se quase uma escavação no sentido de perceber e discriminar quais as questões internas e externas que levaram o paciente até este momento. Ou então quais as âncoras ou estruturas que fundamentam aquela personalidade e que, portanto, também estruturam e fundamentam aquele problema ou questão tão carregados neste momento.
Então para ajudar nosso paciente a solucionar algo, é importante compreender o que aquele problema representa para aquela pessoa. E, se há alguma saída objetiva possível para ele. O paciente diz que quer ter outro tipo de vida:
O que é que ele quer dizer com isso?
Como é a sensação de paralisação?
O que o impede de mudar de atividade?
A insatisfação é só com o trabalho, as outras áreas da vida estão preservadas?
Qual o sentido de seu trabalho?
Qual a importância do trabalho em sua vida- subsistência apenas, ganho de dinheiro, caminho para a independência, está perto da aposentadoria?
São muitas as questões a serem levantadas, pensadas, olhadas, discutidas, iluminadas na tentativa de ajudar nosso paciente a encontrar a “solução”. E então surge o movimento de dissolução – momento em que algo se dissolve em um meio mais fluído. Momento no qual aquilo que era objetivo, sólido, torna-se mais fluido, subjetivo.
Momento no qual muitas vezes se percebe que aquilo que surgiu como um problema a ser solucionado é na verdade “apenas” uma questão na teia da vida daquela pessoa. Alquimistas falam em “solutio”, um dos principais procedimentos da alquimia no qual a matéria é dissolvida e reduzida á “prima matéria”. Temos também na homeopatia a ideia das “diluições” na qual os medicamentos são dinamizados e diluídos para atingir sua maior capacidade de cura.
Metáforas e amplificações que nos ajudam a pensar na proposta da análise junguiana na qual não há certo ou errado e, portanto, não há cura, há um sentido, não uma “liquidação”.
Como disse Jung: “Não se deveria procurar saber como liquidar uma neurose, mas informar-se sobre o que ela significa, o que ensina, qual sua finalidade e sentido. Deveríamos aprender a ser-lhe gratos, caso contrário teremos um desencontro com ela e teremos perdido a oportunidade de conhecer quem somos. Uma neurose estará realmente “liquidada” quando tiver liquidado a falsa atitude do eu. Não é ela que é curada, mas ela que nos cura. A pessoa está doente e a doença é uma tentativa da natureza de curá-la”. (JUNG, C. G. OC Vol 10, par, 361) .