Você vê sentido na sua vida?

Você tem uma justificativa para dar sentido à sua vida? Ou a sua vida é destituída de significado? Enfim, há uma justificativa que o coloque de pé todos os dias?

Todos nós procuramos construir à nossa volta um mundo que faça sentido. Afinal, reconhecer que vivemos uma vida destituída de significado talvez seja uma das únicas coisas realmente impossíveis para seres humanos. Como nos desvinculamos do roteiro natural, temos que elaborar um outro que permita que a vida seja vivida.

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O sentido da vida

O roteiro natural é aquele que não torna necessário buscar sentido porque a existência, tal como é dada, já é o próprio significado. Por exemplo, uma ave não avalia se faz sentido voar porque o que ela é, é um ser que voa. Então, seu sentido é voar e não há outro que lhe torne uma ave. Nós, humanos, por algum tipo de ruptura, perdemos esse vínculo entre o sentido e a vida. Como temos um universo de sentidos diante de nós, desenvolvemos uma angústia em função de podermos decidir – em alguma medida o que somos.

Vários sentidos: podemos viver várias vidas em uma única existência

Parece que essa possibilidade em aberto pesa enormemente sobre nossos ombros. Talvez fosse mais simples se nossa vida já envolvesse um sentido específico. Nesse caso, só teríamos que seguir o roteiro determinado pela natureza, pelo que já somos. O nosso problema é o das possibilidades em aberto, da diversidade de vidas que podemos viver e, até, dos vários sentidos que podemos adotar, um depois do outro. Isso, inclusive, permite viver várias vidas em uma mesma existência.

Para isso, teríamos que ir alterando os sentidos que nos impomos de tal forma que nos tornássemos pessoas diferentes ao longo da vida. Não se trata de mudar somente um ou outro aspecto no modo como vivemos, mas todo o sistema de referências. Para isso, esse sistema tem de colapsar e um novo tem de ser estruturado como uma vida inteiramente diferente. Assim, poderíamos viver várias vidas durante uma mesma existência.

Essa liberdade só está disponível – pelo menos em tese – porque não estamos atrelados àquele roteiro determinado pela natureza, porque somos humanos. Isso pode ser ruim ou bom, a depender do ponto de vista que se adote. A despeito disso, há algo de que um ser humano não pode abrir mão: a justificativa.

Relação entre a justificativa e o sentido da vida

A justificativa é aquilo de que lançamos mão para nos fornecermos um sentido. Uma pessoa pode julgar que não pode viver sem amor e que isso é essencial. Mas pode haver uma boa justificativa para que alguém viva sem amor. Pode-se crer que o dinheiro é algo imprescindível. Mas pode ocorrer que alguém possua um motivo excelente que permita que se viva sem dinheiro etc.
O que não pode faltar, nesses e em todos os demais casos, é uma justificativa. Seja qual for o sentido que você adota, que adotou no passado ou que venha a dotar no futuro, todos eles exigem que você elabore uma justificativa. Senão para fornecer aos outros como prova de que sua vida vale a pena, pelo menos para mostrar para você mesmo quando o círculo da dúvida apertar sua garganta. Assim, você se sente blindado contra a falta de sentido.

Em último caso, você precisa ser capaz de fornecer uma justificativa para ser quem é. Pode ser, inclusive, algo pouco convencional quando confrontado com as práticas sociais usuais. Não interesse o que seja, sem uma justificativa não há vida dotada de sentido. Você pode ser infeliz, pode não ser amado por ninguém, pode ser extremamente rico, pode ser tolo, pode ser chato. O que você não pode ser é alguém sem justificativa. O que realmente importa na vida é aquilo que o coloca de pé, aquilo que permite que o ar entre nos seus pulmões e depois saia, o sustento de tudo o que se move, o nada sobre o qual caminhamos.

Porque uma justificativa é uma balsa que navega sobre o nada. Sem ela, voltamos ao pó. O que te impede de se tornar pó?

Ronie Alexsandro Teles da Silveira é professor de filosofia e trabalha na Universidade Federal do Sul da Bahia. Mais informações: https://roniefilosofia.wixsite.com/ronie

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