Vontade de beijar uma amiga específica

Se sua namorada tem vontade de beijar uma amiga específica, tome sua decisão a partir da sua intuição, evite racionalizar muito…

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“Olá, tenho 18 anos e minha namorada 17, namoramos há dois anos, mas gostamos um do outro há mais tempo. Recentemente, ela me perguntou se poderia beijar uma amiga específica dela, que ela diz sempre ter tido vontade de beijar, mas nunca o fez.

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Eu já havia no passado perguntado se ela tinha vontade ou ficaria com essa amiga e a resposta havia sido não! Ela relatou um cenário hipotético numa festa onde essa amiga daria um “mole” e perguntou se eu permitiria. Minha resposta, totalmente em choque, foi: “se você não sentir que vai se apaixonar, sim”, e a reação dela me magoou, foi uma alegria incrédula.

Pensando no fato em si, nela beijar a amiga não me traz desconforto, pois eu sei que é um fetiche, não é paixão e não envolve o mínimo de romance. Minha insegurança reside no fato de que sempre fomos um casal bem fechado e ela nunca gostou nem quis experiências com outras pessoas. Agora isso parece ter mudado, principalmente pelo fato de ela ter dito depois: “se você quiser, pode escolher uma pessoa também”. Isso me magoou profundamente, pois eu senti o tom de “combinado” e eu não quero que meu relacionamento comece a ter esses combinados.

O meu dilema é se devo terminar ou arriscar continuar com ela, pois continuar com ela me faria inseguro porque sinto que ela tem a necessidade de beijar outras pessoas, ter outras experiências etc. Mas sinto que reprimir isso traria riscos como traição, pois ela continuaria com a mesma vontade. Porém, agora que sabe que eu sou contra, não teria a
mesma abertura pra me pedir ou me contar algo. Enfim, espero alguma resposta que me ajude a avaliar bem minhas opções baseado na situação. Agradeço desde já!”

Resposta: Sua facilidade de falar de sentimentos e refletir sobre eles aos 18 anos é realmente digna de admiração! Certamente, ajudará muito a conduzir seus relacionamentos de forma realista e consciente.

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Expor a vontade de beijar uma amiga específica

O fato de sua namorada expor a você suas fantasias sexuais, apenas indica uma tentativa de pensar junto com você sobre o que é um relacionamento amoroso na prática. Ou seja, uma forma de construir uma sexualidade de casal; uma forma de evitar que a mentira ou a omissão sejam os pilares da vida sexual. Nesse sentido, é uma proposta interessante. No entanto, embute um certo risco sim, mas está alinhada com a tendência atual de desmistificar ícones como sexo, paixão, amor etc.

Assim, se sua namorada já abriu o jogo, certamente vocês, ou pelo menos ela, não estão mais naquela fase “bem fechada” onde os dois se bastam. E, você tem razão quando diz que privá-la da realização das fantasias pode levá-la a mentir. Nesse sentido você tem que tomar sua decisão assumindo os riscos de aceitar e os riscos de não aceitar.

Vontade de beijar uma amiga específica: quais são os riscos de aceitar?

Um dos riscos é o de sua namorada gostar da experiência, mas pode ser também só o de satisfazer uma mera curiosidade

Bem, você mesmo já falou, a relação não seria confortável, pois as experiências ou fantasias dela te deixariam inseguro. Por outro lado, existe a possibilidade de ela, depois de passar por outras experiências e matar a curiosidade, querer voltar a uma relação mais fechada, mais tranquila… mas… ela também pode gostar de viver múltiplos relacionamentos ao mesmo tempo e aí, provavelmente, ficaria bem difícil o convívio entre vocês.

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Vontade de beijar uma amiga específica: e o risco de não aceitar?

Bem, vocês já namoram há dois anos, têm um bom vínculo e são bastante maduros pela idade que têm. É possível que você, terminando o relacionamento, conheça outras pessoas e a história se repita: no começo, aquela paixão onde um só tem olhos para o outro, e depois outras fantasias sendo despertadas pela monotonia do cotidiano, pelo fim da paixão, ou por um desconforto existencial qualquer. E a próxima pessoa pode não dividir isso com você como sua namorada fez. Porque, cá entre nós, sua namorada é exceção; parece uma pessoa bastante evoluída e consciente para, aos 17 anos, conseguir se colocar de forma tão aberta. Assim, talvez, depois você se arrependa de dispensar uma pessoa como ela…

Mas o importante é que em algum momento você tome sua decisão a partir da sua intuição evitando racionalizar muito. Afinal, relacionamentos evoluem, mudam, se transformam. E ninguém pode prever o rumo que eles tomarão. Pode ser que em algum momento da sua vida você também tenha vontade de vivenciar novas experiências; pode ser que a insegurança que você sente agora esteja ligada apenas ao fato de ser muito jovem. Mas também é possível que você se sinta melhor com uma pessoa mais “tradicional”, menos provocativa. Essa decisão, portanto, só você pode tomar.

Um único ponto do seu e-mail talvez tenha que ser revisto: aquele onde diz que não gostaria que seu relacionamento começasse a ter “combinados”. Isso a propósito de sua namorada dizer que se fosse permitido a ela beijar uma menina, seria permitido a você também algo parecido. Tente rever seu sentimento sobre isso. “Combinados”, num sentido mais amplo, são a base de qualquer relacionamento humano, seja social, familiar ou amoroso.

Os combinados tratam de direitos e deveres justos para os envolvidos; tratam da divisão de ganhos e perdas de uma forma equilibrada; tratam de uma tentativa de conviver harmoniosamente com pessoas. Sim, talvez você não goste de combinados explícitos na relação amorosa. Existem, porém, os combinados sem palavras, que consistem em aceitar a liberdade do outro sem perguntar. Mas não deixam de ser combinados…Tente avaliar se, quando você rejeita os “combinados” propostos por sua namorada, não está, sem querer, aceitando os “combinados” de amor propostos por outras pessoas que viveram há muito tempo atrás. Afinal, quem criou a monogamia e as regras do relacionamento romântico? Algum “influenciador” que pensou sobre o tema e conseguiu ser validado por quem o ouviu.

Pessoas que pensam, que discutem, que avaliam e têm argumentos para justificar suas posições, como você e sua namorada, são as que estão aptas a rever conceitos e ajustá-los ao presente para que esses conceitos não se tornem penduricalhos carregados por gerações; penduricalhos que já perderam seus propósitos há muito tempo e representam apenas um peso morto.

Assim, tente encontrar formas de se relacionar atuais, pessoais e lógicas. Mas lembre-se de combinar com quem você se relaciona. É impossível fugir disso para o sucesso de qualquer vínculo.

Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de uma psicóloga e não se caracteriza como sendo um atendimento.

É psicóloga graduada pela PUC/SP. É psicoterapeuta de adultos e adolescentes em consultório particular desde 1975 até a presente data. É coach em saúde mental. Vya Estelar quer colocar você, querido leitor(a), ainda mais pertinho de nós. A psicóloga Anette Lewin responderá perguntas enviadas por você sobre relacionamento amoroso, conflitos na vida a dois e conjugal. Esta resposta possui dois formatos: 1º formato: responder as perguntas enviadas por você; 2º) formato: extrair uma palavra em específico de uma pergunta que você enviou (ex: traição). E partir desta palavra, revelar o significado do que sentimos ao nos relacionar. Seu nome e e-mail serão preservados.