por Patricia Gebrim
Estava observando as árvores… Um dia bonito, um daqueles dias em que a luz fica particularmente bonita. O vento agitava as copas imponentes, os vários tons de verde se misturavam, como se o vento estivesse brincando de desenhar poesia nas folhas das árvores.
Ao ver aqueles longos troncos sustentando copas tão frondosas me pus a pensar nas raízes das árvores, invisíveis a meus olhos, tão necessárias para que tanta beleza permanecesse firme sobre a terra, mesmo com toda aquela ventania. Pensei nas raízes como se fossem largos dedos agarrando-se à terra com a mesma paixão com que a copa erguia-se em direção ao céu.
_ Que tipo de árvore serei eu? _ pensei, subitamente inspirada.
_ Qual será o tamanho da minha copa? Com que vontade lanço a mim mesma na direção das nuvens, do azul celeste… das estrelas?
_E o quanto sou capaz de me embrenhar nas profundezas da terra? Como serão minhas raízes? Serão firmes o suficiente para me sustentar?
'Pessoas copas'
Algumas pessoas possuem imensas copas… São as sonhadoras, os artistas, os poetas, os sensíveis seres criativos que se erguem em direção ao alto numa explosão de galhos, flores, cores e frutos. Parecem conversar com as estrelas, sempre têm ideias maravilhosas, possuem uma imensa riqueza interna que se expande em todas as direções. Impossível não ficarmos encantados com pessoas assim.
'Pessoas raízes'
Outras pessoas, por outro lado, possuem o dom das raízes. Aprofundam-se terra, na praticidade do mundo, naquilo que é necessário fazer, no dia-a-dia que não pode ser deixado de lado. Lidam bem com o mundo prático. Compreendem muito sobre as forças que fazem uma semente brotar, sabem como balancear os nutrientes da terra, entendem muito sobre a quantidade de água e adubo necessárias para que sonhos se tornem uma realidade concreta e palpável. Impossível não admirá-los!
Olhando para aquelas árvores, pensando em todas essas coisas, eu entendi algo muito importante. Por mais bela que seja a copa, ela não se sustenta se não possuir raízes proporcionalmente profundas. E por mais profundas que sejam as raízes, de nada servem se não vierem acompanhadas de folhas e frutos, que captem a energia solar e garantam a continuidade da vida da árvore. Eu sei… eu sei… agora mesmo enquanto escrevi pensei: _ Mas isso é óbvio!
No entanto, percebo que temos uma tendência a supervalorizar um lado e a menosprezar o outro, como se tivéssemos que escolher um deles!
Pense agora em sua vida… Se você fosse uma árvore, qual seria o tamanho e o formato de sua copa? O quanto você é capaz de olhar para cima, de conectar-se com o que é belo, com as mais belas ideias… sonhar… criar… ter esperança… inspirar-se? O quanto consegue sentir o calor da energia dourada que vem desse astro que chamamos de Sol? O quanto consegue sentir que recebe uma luz que vem do alto e aquece a sua vida, mesmo nos momentos mais difíceis?
E qual seria a forma das suas raízes? O quanto você aceita fazer parte deste mundo, mesmo que às vezes lhe pareça impuro, sujo como a terra, escorregadio como a lama, ardiloso como a argila? O quanto consegue lidar com as questões mundanas… o dia-a-dia… as pessoas como elas são… as rotinas… o dinheiro… as contas a pagar? O quanto consegue aceitar e lidar com a realidade, sem negá-la, distorcê-la ou manipulá-la por medo do que vê?
Pensar nessas questões pode lhe trazer um indicativo de onde você deve concentrar suas forças.
Se sua copa já for verde, florida e frondosa, concentre-se nas raízes. Imagine-as crescendo, atravessando camadas e camadas de terra e ancorando-se firmemente no centro da terra. Concentre-se em aceitar o mundo e suas imperfeições, em lidar com o dia-a-dia sem achar que isso é algo menor. Isso lhe trará a segurança que talvez venha lhe fazendo falta. Lhe trará firmeza, força e autoconfiança. E dessa maneira, acredite, chegará o momento em que sua copa poderá expandir-se de forma incrível, com ainda mais cor, viço e ardor.
Mas se você for daqueles que já possuem raízes potentes, se for daquelas pessoas práticas que aprenderam a extrair da terra o que a terra tem a lhe dar, então erga seu olhar para o alto, eleve sua seiva através do tronco, alimentando os sonhos… conquistando a leveza das folhas que são levadas pelo vento… deixe um pouco os livros técnicos de lado e busque algo mais poético, algo que torne sua vida menos árida. Vá em busca do belo, das cores, da leveza da vida. Imagine sua copa se expandindo, e toda a prosperidade terrena fluindo através dela, tornando o mundo melhor.
Identifique qualquer possível desequilíbrio e faça movimentos em direção ao que lhe falta.
Quem sabe um dia todos nós possamos ser árvores imensas, estendidas infinitamente em ambas as direções.
Nesse dia, nossas raízes se encontrarão no centro da terra, e se sentarão ao redor de uma ardente lareira para rir e conversar trivialidades. Enquanto isso nossas copas recitarão poesias umas às outras, em meio às mais belas estrelas do Universo.