“Would it help?” ou “E isso ajudaria?”

Por Aurea Afonso Caetano

Com esta pergunta (ou colocação) o espião russo, do filme "Ponte dos Espiões" (2015), de Spielberg, responde aos questionamentos que o advogado, interpretado por Tom Hanks, faz acerca de seu medo ou sua ansiedade diante dos problemas a que está exposto desde sua prisão.

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Estando à mercê de fatos, sob os quais não tem nenhuma possibilidade de ingerência, só resta ao personagem esperar o desdobramento dos acontecimentos e então, com sua atitude plácida e inabalável, ele diz "E isso ajudaria?"

Esta frase é citada ao menos três vezes durante o filme, tornando-se o que proponho chamar aqui de um mantra contra a ansiedade, contra a instabilidade emocional que nos toma quando somos tocados por algo além de nossa possibilidade (ou crença) de controle.

Como discernir o que ou a quem devoto minhas forças ou minha energia? Como discriminar o que é um problema que devo solucionar e o que é, em si, insolúvel? Acredito que a medida disso diz respeito ao contexto no qual o problema nos toca e, mais ainda, depende do nível de autonomia que temos para tentar resolve-lo.

No filme, o advogado chamado a defender o espião no que seria um julgamento "pró-forma" toma a si o desafio de resolver o problema colocado. Espião na prisão, advogado fora dela, ele tem a possibilidade de ir e vir e com seus conhecimentos agir da melhor forma possível para solucionar a questão que lhe foi colocada: dar um julgamento "digno" a um espião russo.

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O advogado, no entanto, se compromete com sua própria consciência ética e a partir daí o enredo está montado. Não é apenas o advogado cuidando de um cliente, mas um sujeito profundamente vinculado com a experiência humana que percebe aí a necessidade de representar, de forma verdadeira, o outro, mesmo que ele seja um espião russo.

O que o espião do filme nos mostra é que o problema dele, enquanto prisioneiro, não depende de forma alguma de sua capacidade de solução. Não há o que fazer. É importante aguardar, sem ansiedade, com serenidade. Por isso, de que adiantaria ficar preocupado ou com medo? Would it help?

Já o advogado, em outro polo, tem em suas mãos a possibilidade de fazer algo, ele é o agente, está fora, no mundo. Pode utilizar sua expertise para mudar o jogo e assim vai à luta comprometendo-se com a possibilidade de transformação. Isto, sim, ajudaria!

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Isto é de sua competência, diz respeito aos anseios de sua alma, às escolhas de vida que faz, a partir de seu compromisso ético. E, partindo deste lugar, o advogado pode sim fazer diferença e ajudar a resolver o problema.

Já o outro, o espião, está em outro lugar- um homem que foi preso, cumprindo seu trabalho. Para ele, não há ansiedade, ele é parte da engrenagem de um sistema maior. De nada adiantaria, ficar estressado ou ansioso.

Temos em nossas vidas esse mesmo desafio. Ora estamos no lugar do espião preso que nada pode fazer a não ser aguardar com serenidade; ora estamos no lugar do advogado que deve a partir de sua inteireza realizar seu trabalho da melhor forma possível.

O grande desafio? Perceber quando é necessário esperar com serenidade e quando é necessário ir à luta, recrutando todas as forças possíveis.