Yoga e quimioterapia

por Nicole Witek

Yoga é unir. Unir todas suas forças para recuperar a saúde, o equilíbrio. Unir todos os níveis do ser para reconstruir uma saúde forte, unir voluntariamente as forças atuando dentro do ser… é a isso que o yoga se propõe.

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As *estatísticas mostram que o câncer é uma doença que tem múltiplas causas, que muitas vezes é ativada depois de um choque emocional. Ou ao contrário, que se desencadeia depois de um longo processo de desconforto emocional. Estatísticas apavorantes apontam que, uma em cada quatro pessoas, desenvolverá algum tipo de câncer durante sua vida.

Infelizmente, quando o câncer está declarado, instalado é necessário aliar todos os recursos para encontrar a cura através de terapia psicológica, remédios alopáticos, quimioterapia.

Mas já há três décadas, o oncologista e radio terapeuta americano **Dr. Carl Simonton  utilizava, além das técnicas acadêmicas e das psicotecnologias, a meditação e a visualização voltadas para a cura.

 O Dr. Simonton evidenciou certos componentes que podem influenciar positivamente o tratamento. Esses recursos vasculhados e pesquisados no século passado, fazem parte da ‘caixa de ferramentas do yoga’.

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O yoga pode ajudar como complemento do tratamento. Antes da quimioterapia e depois. Como?

Estamos acostumados a contar com nossos recursos mentais. A palavra “mentais” se refere unicamente aos recursos intelectuais. Isso é uma pena. Esquecemos que existem outras partes em nós, que representam 90% de nossos recursos cerebrais.

Podemos aliar forças profundas que existem em nós para nos ajudar a curar. As forças de recuperação do corpo jazem num nível profundo do nosso ser, onde nossa parte consciente tem pouca eficácia.

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Quando estamos conscientes, acordados, e principalmente, quando a doença está tomando conta de nossas emoções, é difícil pensar numa cura. E provavelmente o que se sobressai é justamente o contrário: a possibilidade de morrer.

Podemos driblar essa nossa parte que vê o resultado letal da doença, usando nossa mente voluntariamente e com confiança para despertar, acordar nossas forças de cura.

Aliar essas forças profundas passa pela visualização ativa e ‘sentida’. Os recursos da imagem mental fazem parte da ‘caixa de ferramentas’ dos yogis desde o inicio do homem. Esse processo começa pelo relaxamento. Sem relaxamento, a imagem mental não atravessa certas barreiras do consciente e fica assim com pouco efeito.

Primeiro passo: relaxamento consciente

Usar recursos para favorecer o relaxamento é simples. Criar um clima propiciando o estado de pré-sono, com luz baixa, preparar o lugar para não ser perturbado pelos barulhos ou pelas conversas, enfim todos os recursos que podem nos aproximar de um estado de sono.

Segundo passo: ocupar a mente intelectual

Para conseguir ocupar a mente racional e intelectual, podemos prestar atenção à respiração, e enquanto o intelecto está ocupado em vigiar a respiração, podemos também fazer expirações mais lentas e compridas para amansar nosso sistema nervoso autônomo.

Se fosse em estado de vigília normal, teríamos milhares  de objeções que viriam perturbar o funcionamento ideal do corpo. O relaxamento profundo ajuda a ‘pular’ por cima de nosso sensor que define em que acreditar e não acreditar.

Terceiro passo: ativar uma imagem

Ao mesmo tempo vamos ativar nosso cinema interno. O nosso inconsciente justamente é a parte de nós que sabe muito bem tudo que acontece em todos os níveis do nosso ser e que vigia nossas funções dia e noite sem falhar. Bom, mas enfim, essa parte nossa funciona com imagem. Ela não entende palavras. A linguagem que nossa inteligência profunda entende é o símbolo ou a imagem, ainda com a condição que essa imagem seja carregada de emoção. 

‘Pensar positivamente’ não é suficiente. A emoção é o fator mais importante da visualização: tem que ter emoção para que as células sejam ‘ativadas’ pelo nosso recado.

Imagine um cenário como esse: imagine-se na frente de seu médico e que ele fala para você que você está apresentando todos os sinais de cura. Faça com que essa cena seja mais autêntica, e sinta a alegria do seu médico e a sua alegria, e a alegria das pessoas que o amam, autêntica, profunda… Faça com que essa emoção tenha tempo de impregnar todos os níveis do seu ser: fisica e psicologicamente. Que essa emoção seja vivida!

Esse simples exemplo pode ser modificado, dependendo do momento que você mais precisa da ajuda da sua força interna.

Prática

A imagem ou o cenário escolhido é de cada um. É necessário encontrar cenas que têm um dinamismo emocional positivo antes de entrar no relaxamento.

Instalando o corpo de maneira a favorecer o estado de relaxamento profundo, vamos prestar atenção a cada parte do corpo com a intenção de entregá-la às forças profundas de recuperação.

Cada parte do corpo vai ser mencionada mentalmente, imaginada e entregue à inteligência do corpo.

Terminando esse percurso do corpo, preste atenção à respiração e alongue as expirações.

Deixe aparecer, como se fosse num sonho, o cenário escolhido:

Em estado de relaxamento, vamos imaginar nossa própria cura. Podemos usar um cenário antes da quimioterapia para ajudar as células a agüentar os produtos que vão ser injetados, e um outro cenário depois da terapia para ajudar o corpo e recuperar a força e o equilíbrio.

Enfim, quanto mais a visualização for personalizada, mais os efeitos serão profundos.

Quando terminar?

Não tem duração imposta. Depende simplesmente do seu próprio conforto.

Quantas vezes por dia?

Cada vez que você tem uma oportunidade para descansar; em vez  de deixar a mente intelectual vagar para o negativo.

Última recomendação

Fortalecer a confiança nos seus recursos profundos, fortalecer o vinculo de amizade entre seu consciente e seu inconsciente, onde se constrói a cada minuto, sua perfeita saúde.

Aproveitar todas as oportunidades para “falar” com simplicidade para cada parte do corpo. Frases simples como “sei que agora meu corpo, você está cansado, mas já já, sua energia vai subir de novo, e vamos juntos ficar em boa forma”.

Considerações finais

**O Dr. Simonton em 1978 disse: “Procurei os meios para mobilizar as forças internas. Os métodos elaborados com meus colegas modificaram a atitude dos pacientes e suas respostas ao tratamento médico. Todos os nossos pacientes em estado avançado sobreviveram em média duas vezes mais que os outros pacientes. Continuar a ignorar o papel da mente e das emoções na recuperação – apesar das provas médicas que já existem – é uma forma de charlatanismo, pois estaremos ignorando técnicas que já deram as provas. A questão atual não é a de saber se a mente influencia o resultado final do tratamento. Agora o importante é saber como direcioná-la para que influencie o resultado final do tratamento, de uma maneira eficiente”

A visualização é uma ferramenta do yoga. Suas técnicas já foram exploradas e simplificadas ao máximo para sua maior eficácia. É para ser usada em todas as oportunidades, mesmo nas mais dramáticas. É principalmente nessas circunstâncias que nosso corpo precisa de toda a ajuda da nossa mente. Unificando…

*Estatísticas do Centro Hospitalar – Universidade de Montreal – Canadá