Você (e não a pandemia) influenciou os seus resultados mais do que imagina
O ano foi fora de série, maluco como um roteiro de Lost (seriado norte-americano do início dos anos 2000), e certamente isso influenciará o balanço de suas ações e resultados em 2020. Para que o próximo ano seja melhor, além da conjuntura global colaborar contra a pandemia, é preciso entender, o que se deve ou não creditar na conta de um certo “fator Covid-19”. E qual a nossa responsabilidade sobre aquilo que nos “acomete”.
Sobre esse contexto, constam em redes sociais memes que avisam: “não cancele o ano que te fez acordar”. E sem querer invocar, aqui, uma psicologia de Facebook, penso que na semântica e na prática isso vem fazendo certo sentido. Sobretudo para quem vivia no piloto automático, correndo, sem enxergar muito sentido na própria rotina. Mas o que verdadeiramente acordou essas pessoas? O coronavírus? A percepção de que o “normal” não lhes servia mais? E, principalmente, de onde vieram os recursos para as realizações e a construção de um “novo normal”?
Muitas delas se viram obrigadas, sob influência de um “fator Covid-19”, a desacelerar, conviver (com o medo, consigo, de forma mais intensa com a família) e superar os desafios inerentes a tudo isso. De certa forma, isso lhes ensinou a serem mais tolerantes, pacientes, focar em coisas que eram importantes, mas para as quais não dispensavam o tempo necessário, a terem mais atenção ao presente em um futuro (sempre) incerto.
Reação
A reação, contudo, dando certo poder a esse “fator Covid-19“, também poderia ter sido raiva, frustração, paranoia, medo, tristeza, prejudicando a convivência com outros, o cotidiano que não podia parar durante a pandemia, a realização de sonhos que, mesmo nesse rebuliço, tinham chances de ser concretizados. Nesse sentido, pode-se dizer que essas pessoas seriam elas próprias grandes responsáveis por tamanho mal-estar. Pois no caso da promoção de bem-estar para o momento essa relação também se faz verdadeira.
Para aqueles que conseguiram evitar o desespero, o crédito de tamanha realização se estende à própria resiliência, pois se não buscassem nas profundezas de suas motivações, seu otimismo, sua perspectiva e sua força, teriam sucumbido – não ao vírus, mas à própria inércia, intolerância e a todos os sentimentos e emoções negativas descritos anteriormente. Se reagissem apenas negativamente à situação, haveria, ainda, uma grande chance de exposição àquilo que o “fator Covid-19” poderia lhes trazer de pior: o adoecimento.
Não que devamos evitar todo sofrimento a qualquer custo. Mas ele precisa ter seus dias contados e precisamos entender as suas causas reais e projetadas. Nem tudo é nossa culpa ou de nossa responsabilidade, mas nada é tão determinante quanto a perspectiva, e qualquer coisa, independentemente de ser mera e passageira condição, pode ser trampolim de transformações e fator de valorização da vida.
Sobre lócus de controle (conceito formulado por Julian B. Rotter nos anos 1960, que diz respeito, grosso modo, aos fatores que julgamos serem responsáveis por nossas ações, reações e o que nos ocorre) observamos que atribuir a culpa de todos os infortúnios e realizações a causas externas, extrínsecas à própria vontade, oferece mais chances de sofrimento por doenças ao indivíduo. Isso porque este tende a minimizar sua responsabilidade em evitá-lo. Por outro lado, pessoas com maior motivação intrínseca (ligada à sua própria essência), tendem a encontrar propósito maior em suas ações e a serem mais felizes.