Morte celular: como e por que nossas células morrem?

A morte celular é inevitável e essencial, tanto em condições de normalidade como de doença. Células devem morrer porque estão velhas, desgastadas, ineficientes e doentes.

Células avariadas ou senescentes precisam ser substituídas por células jovens e íntegras. Todo o processo é intrincado e de grande complexidade, e pode trazer benefícios na regulação da fisiologia humana e no tratamento de doenças específicas.

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Morte celular – 4 tipos

O corpo possui diversos mecanismos que programam a morte celular de acordo com a necessidade fisiológica. Esse processo também pode ocorrer em doenças como câncer e alterações degenerativas em órgãos. A morte celular pode ser dividida em quatro tipos distintos: apoptose, necrose, autofagia e ferroptose.

Apoptose

Na apoptose, a partir de sinais internos, a célula vai encolhendo, a cromatina (cromossomo) se condensa e atrofia, o citoplasma se fragmenta e o esqueleto celular se desintegra em pequenos detritos que são englobados por macrófagos (um tipo de célula de defesa) ou por células vizinhas do mesmo tipo da que sofreu apoptose.

Apoptose é conhecida como morte celular programada: quando as células cumprem seu tempo de vida e função elas precisam ser substituídas, precisam ceder seu lugar às novas células. A apoptose acontece de forma suave, sem provocar respostas inflamatórias, e é um processo de alta complexidade, sendo objeto de inúmeras pesquisas.

Corpos apoptóticos

A apoptose desempenha um papel importante no desenvolvimento e na manutenção da homeostase, ou equilíbrio fisiológico. Corpos apoptóticos são gerados especificamente a partir de células que sofreram apoptose, e podem conter uma grande variedade de moléculas biológicas que são de grande importância nas comunicações intercelulares e na regulação dos fagócitos (células responsáveis por ingerir partículas e detritos celulares).

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Evidências emergentes nos últimos anos mostraram que os corpos apoptóticos são essenciais para manter a homeostase, incluindo a densidade óssea e a regulação imunológica, bem como a regeneração de tecidos. Além disso, estudos revelaram os efeitos terapêuticos dos mesmos em doenças sistêmicas, incluindo câncer, aterosclerose, diabetes, fibrose hepática e cicatrização de feridas.

Necrose

A lesão celular irreversível com a eventual morte da célula devido a processos patológicos é denominada necrose. É uma morte celular descontrolada que resulta em inchaço das organelas celulares, ruptura da membrana plasmática e eventual lise (quebra) da célula, com derramamento do conteúdo intracelular no tecido circundante, levando a danos no local. Ao contrário da morte celular programada (apoptose), a necrose ocorre devido a estímulos nocivos esmagadores de fora da célula e está quase sempre associada a respostas inflamatórias devido à liberação de proteínas de choque térmico, ácido úrico, ATP, DNA e proteínas nucleares, que causam ativação do inflamassoma e secreção da citocina pró-inflamatória interleucina-1.

Autofagia

Na autofagia há formação de vacúolos autofágicos – a célula come a si própria. Os vacúolos são estruturas celulares contidas no citoplasma da célula, com formato esférico ou ovalado, geradas pela própria célula ao criar uma membrana fechada que isola certo volume celular do resto do citoplasma. No caso de vacúolos autofágicos, eles começam a sugar e digerir partes defeituosas da célula para dentro de si, no entanto esse processo pode ir além, até a sua completa destruição. Tornou-se claro que a autofagia e os seus processos relacionados têm profundas implicações para a fisiopatologia humana. Embora a autofagia funcione perfeitamente e regule a homeostase celular durante o desenvolvimento e na juventude, há evidências crescentes de que a autofagia se torna cada vez mais disfuncional com a idade.

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Ferroptose

O conceito de ferroptose é recente, foi proposto em 2012, e consiste de morte celular por acúmulo de ferro. O ferro intracelular atrai radicais livres altamente reativos que se ligam à membrana lipídica da célula, onde causam dano e posterior destruição. A ferroptose se manifesta principalmente com o encolhimento de mitocôndrias e aumento da densidade de suas membranas, tornando-as menos eficientes na produção de energia (ATP). Estudos recentes mostram que a ferroptose desempenha um papel importante na ocorrência e desenvolvimento de doenças, tumores diversos e processos degenerativos no cérebro, coração, fígado, rins, pulmões, pâncreas e estômago.

Referências
*National Human Genome Research Institute 2022. Apoptosis.
*Int J Molecular Sciences 2022. Advances in the Therapeutic Effects of Apoptotic Bodies on Systemic Diseases.
*StatPearls 2022. Necrosis.
*EMBO Journal 2017. Molecular definitions of autophagy & related processes.
*Nature 2020. Ferroptosis: past, present & future.

Médica especializada em Nutrologia. Membro da ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia. Pós-graduada em Terapia Ortomolecular, Nutrição Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia. Membro Titular da Sociedade Médica Brasileira de Intradermoterapia. Consultora com atuação em Nutrologia e Medicina Ortomolecular. CRM 52 301716 www.tamaramazaracki.med.br