Anemia é comum em qualquer idade  

A anemia impacta quase 30% da população. Crianças em idade pré-escolar têm a maior taxa percentual de anemia, chegando a 40%. Mulheres não grávidas têm prevalência de 30% e grávidas somam 36%.

A ocorrência de anemia aumenta com a idade avançada, sendo ligeiramente maior em homens do que em mulheres. Causas de anemia em idosos incluem deficiência alimentar, doença renal crônica, doenças inflamatórias, perda de sangue oculto por malignidade gastrointestinal, embora em muitos casos a causa seja desconhecida.

Continua após publicidade

O que é anemia?

A anemia é descrita como uma redução no número de glóbulos vermelhos, e das taxas de hemoglobina e hematócrito. Se uma pessoa se torna sintomática ou não depende da causa da anemia, da velocidade de instalação e da presença de comorbidades, especialmente doenças cardiovasculares. A maioria dos pacientes experimenta sintomas relacionados à anemia somente quando a hemoglobina cai abaixo de 7,0 g/dL (valor normal é acima de 12 para mulheres e 13 para homens).

Sintomas

A anemia pode ser assintomática e descoberta incidentalmente em um hemograma de rotina. Os pacientes podem apresentar sintomas relacionados a condições associadas, como perda de sangue, ou com a diminuição da capacidade de transporte de oxigênio, como fraqueza, fadiga e falta de ar. A anemia tem um impacto negativo significativo na função cardíaca, cognição, sono, e está associada ao aumento da morbidade em idosos acima de 65 anos, com diminuição da mobilidade e da qualidade de vida, cansaço, depressão, demência e quedas, o que acaba acarretando o aumento da mortalidade.

Tipos de anemia

Os glóbulos vermelhos (hemácias) são responsáveis por transportar oxigênio para os tecidos corporais, bem como por remover CO2 e eliminá-lo através dos rins e pulmões. Se o médico pede somente um hemograma e constata anemia, a solução simples é suplementar ferro. No entanto, se a carência de ferro não é a fonte do problema, isso pode resultar em sobrecarga do mineral e a pessoa continuará com anemia e seus efeitos negativos. Portanto, é extremamente importante descobrir o tipo e a causa de cada caso de anemia e prescrever de acordo.

Vitamina B12 e folato

Nem sempre a falta de ferro e a causa da anemia

Ser anêmico não significa estar automaticamente com falta de ferro. Anemia também pode ser causada por deficiência de vitamina B12 e/ou ácido fólico, pois estes estão diretamente ligados à produção de sangue. No entanto, a anemia pode se relacionar com a reciclagem de ferro prejudicada, e não com a sua carência, e esta reciclagem imperfeita ocorre pela insuficiência de cobre e vitamina A. Em idosos internados, os fatores mais comuns de anemia são déficits nutricionais (45%), inflamação crônica (40%) e anemia inexplicável (8%).

Continua após publicidade

Ferro

Ferro é um elemento essencial em vários processos metabólicos, incluindo síntese de DNA, transporte de elétrons e de oxigênio, composição de hormônios e enzimas. Os níveis de ferro no corpo humano são controlados apenas pela sua absorção. A excreção de ferro ocorre através do suor, menstruação, perda de fios de cabelo e células da pele, e através da eliminação de enterócitos (células intestinais). No organismo, o ferro fica principalmente nas hemácias em forma de hemoglobina (aproximadamente 2 g de ferro em homens e 1,5 g em mulheres), e em menor grau em proteínas de armazenamento (ferritina e hemossiderina), células musculares (mioglobina) e enzimas (citocromos e catalase).

Excesso de ferro

Embora a deficiência de ferro seja um problema relativamente comum, a sobrecarga de ferro pode ser particularmente prejudicial para o cérebro, coração, fígado, outros órgãos endócrinos e articulações, causando danos aos tecidos através de reações oxidativas com lipídios, proteínas e DNA. Os humanos não têm um mecanismo fisiológico para excretar ferro, e assim o mineral acumulado por décadas pode causar ou agravar artrite, diabetes, impotência, insuficiência cardíaca, cirrose e câncer de fígado.

Ferro heme e não heme

Na dieta existem dois tipos de ferro: heme e não heme. O ferro heme está em produtos de origem animal (carne, pescados, aves) e é a forma mais facilmente absorvida. O ferro não heme é derivado de plantas e alimentos fortificados com ferro, sendo menos assimilado. Estruturalmente, o ferro heme está inserido em um anel porfirínico, que o deixa protegido da interferência de fatores dietéticos inibidores, assim a sua absorção quase não é afetada pela composição da refeição. O ferro não heme não tem a mesma proteção, e por isso pode ser bloqueado por fitatos e oxalatos.

Continua após publicidade

Absorção do ferro

Apesar de sua relativa abundância no ambiente e da baixa necessidade diária de ferro dos seres humanos (10 a 15 mg ingeridos com 1 a 2 mg absorvidos), o ferro é frequentemente um nutriente limitado na dieta humana. A absorção da maior parte do ferro dietético ocorre no duodeno e jejuno. O processo de absorção de ferro depende do pH, que precisa ser levemente ácido, e pode ser inibido ou melhorado por certos compostos dietéticos, medicamentos e suplementos. A produção de ácido gástrico desempenha um papel fundamental nesse processo, assim quando drogas antiácidas (como o omeprazol) são usadas, a absorção de ferro fica prejudicada.

Inibidores – fitatos, oxalatos, cálcio

Os inibidores da absorção de ferro incluem compostos existentes no reino vegetal como fitatos e oxalatos (presentes em folhas, legumes e leguminosas), e polifenóis encontrados no chá, café, vinho, e em muitas frutas e legumes. Fitatos, oxalatos e polifenóis dificultam somente a absorção de ferro não-heme, derivado de plantas. Já o cálcio inibe tanto o ferro heme, de origem animal, quanto o não heme. Na verdade, esses nutrientes não são vilões, a natureza é sábia e eles têm diversas funções benéficas no organismo. Há um delicado equilíbrio em todos esses processos, e somente quando há uma anemia grave deve-se evitar estes alimentos na hora de tomar o suplemento de ferro.

Vitamina C

Para aumentar a absorção de ferro o fator mais eficaz é a vitamina C (ácido ascórbico), que supera os efeitos de todos os inibidores alimentares quando é incluída em uma dieta com alta oferta de ferro não heme (principalmente na dieta vegana ou vegetariana). No pH ácido do estômago a vitamina C se liga ao íon férrico (insolúvel), presente no ferro não heme, transformando-o em íon ferroso, que é solúvel no ambiente alcalino do duodeno, podendo assim ser absorvido e utilizado pelo corpo.

Referências:
*Lancet 2022. National, regional & global estimates of anemia by severity in women & children for 2000–2019.
*StatPearls 2022. Anemia.
*J Family Medicine & Primary Care 2022. Clinical & hematological evaluation of geriatric anemia.
*Clinical Liver Disease 2021. Pathology of Hepatic Iron Overload.
*StatPearls 2022. Biochemistry, Iron Absorption.
*ACS Omega 2022. Iron Absorption: Factors, Limitations & Improvement Methods.

Médica especializada em Nutrologia. Membro da ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia. Pós-graduada em Terapia Ortomolecular, Nutrição Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia. Membro Titular da Sociedade Médica Brasileira de Intradermoterapia. Consultora com atuação em Nutrologia e Medicina Ortomolecular. CRM 52 301716 www.tamaramazaracki.med.br