O problema da falta de sono pode estar no seu intestino. Micróbios no intestino podem afetar a qualidade real do sono; entenda
Pesquisas recentes mostram a conexão entre a composição da microbiota intestinal, a qualidade e a quantidade de sono, a função imunológica e a cognição. A microbiota (flora intestinal) ajuda a regular não apenas o humor, mas também o ciclo do sono através do que é conhecido como eixo microbiota-intestino-cérebro, uma “rodovia” de comunicação bidirecional que liga o sistema nervoso central e entérico.
Insônia
A insônia destaca-se como um grande desafio clínico no manejo do sono e da saúde mental, afetando aproximadamente 30% das pessoas. Os fatores de risco incluem idade avançada, sexo feminino, problemas psiquiátricos, apneia obstrutiva do sono (ronco alto com pausas respiratórias). Além de seu impacto na função social e cognitiva, o transtorno de insônia aumenta o risco de doenças como depressão, ansiedade, demências, problemas cardiovasculares, distúrbios imunológicos e câncer.
Ritmos do corpo
Ritmo circadiano define o ciclo de um dia (24 horas) e sua ação nos processos bioquímicos, fisiológicos e comportamentais. Este ciclo é comandado por uma estrutura localizada no hipotálamo, o núcleo supraquiasmático, que funciona como um ‘relógio mestre’, usando sinais como luz e escuridão para liberar hormônios e neurotransmissores que dizem quando acordar e ser ativo, e quando relaxar e ir dormir. Estudos mostram que a microbiota intestinal está sob controle circadiano, o que significa que interrupções no sono podem afetar a sua composição, com impacto significativo na saúde geral.
População microbiana no comando
A incidência de insônia e transtorno depressivo está ligada a ritmos biológicos, função imunológica e metabolismo de nutrientes, mas o mecanismo exato ainda não está claro. Há evidências consideráveis mostrando que a população microbiana não só afeta as nossas funções digestivas, metabólicas e imunológicas, mas também molda o sono e estados mentais através do eixo microbiota-intestino-cérebro, citado acima. Achados preliminares indicam que microrganismos e genes circadianos podem interagir entre si. Ou seja, micróbios no intestino podem afetar a qualidade real do sono (eficiência e tempo total de sono).
Insônia: causas mais comuns
Costumamos atribuir a insônia ao estresse diário, preocupações variadas, estimulantes (cafeína, luz azul), doenças crônicas, mas não pensamos que a causa pode estar no intestino. Pesquisas demonstraram de forma inequívoca o envolvimento da abundância e diversidade da microbiota intestinal e do comprometimento da integridade da barreira intestinal em pessoas com insônia, esquizofrenia, transtornos depressivos e outras doenças mentais. Através de marcadores bioquímicos pode se determinar o grau de dano da barreira intestinal (leaky gut ou intestino permeável).
Disbiose intestinal
As bactérias intestinais afetam a função cerebral através de três vias: via imunoregulatória, via neuroendócrina e via do nervo vago, e todas elas têm fluxo bidirecional (vai e volta). Uma microbiota intestinal desequilibrada tem impacto potencial no funcionamento do cérebro e sugere um envolvimento direto ou indireto no início e progressão do transtorno de insônia. Quanto pior a qualidade do sono e maior o tempo total de vigília, menor a eficiência do sono e mais severamente a barreira intestinal é comprometida em pacientes com insônia crônica. Tratar o intestino é essencial para a saúde geral e para uma boa noite de sono!
Referências:
*Nutrients 2024. The Microbiota-Gut-Brain Axis in Metabolic Syndrome & Sleep Disorders: A Systematic Review.
*Frontiers in Psychiatry 2024. Markers of intestinal barrier damage in patients with chronic insomnia disorder.
*Sleep Medicine Reviews 2022. The microbiota-gut-brain axis in sleep disorders.
*Int J Molecular Science 2023. Sleep Deprivation and Gut Microbiota Dysbiosis: Current Understandings & Implications.